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Contos-->ABLUÇÃO NO RIO SAMBITO. -- 14/03/2009 - 15:52 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Desde tempos mais remotos, os nativos de Canabrava, Três Morrinhos e São Luís das Guaribas trazem entre si certo grau de parentesco. Essas pequenas comunidades do Piauí acham-se geograficamente muito próximas, de sorte que, partindo um cavaleiro de qualquer uma delas, em apenas uma ou duas horas de cavalgada já está em outro distrito.

Naquele dia Antônio Benedito saiu de Picos com a intenção de visitar o tio caçula, por parte de mãe a quem chamava de “meu Simão”. O Tio morava na data Escondido da fazenda São Cristóvão, a aproximadamente a 56 km de Picos, cujo percurso se fazia passando por Bocaina, Treis Murrins, Canabrava e São Luís das Guaribas

Seu Antônio tomou um jipe, o único veículo que fazia o transporte de passageiros entre Picos e Três Morrinhos. Neste último, pernoitaria na casa do primo Januário e no dia seguinte, completaria o percurso em lombo de burro, por mais algumas léguas, até o Escondido, às margens do rio Sambito.

Por ironia do destino, no mesmo dia o primo e xará Antônio Luís saiu de Canabrava, hospedou-se na casa de Mariano Melquíades em São Cristóvão e nos primeiros raios de sol, tomou a direção do Escondido, montado numa burra famosa e bem ajaezada. Para surpresa de ambos, os dois primos viúvos encontraram-se quando se dirigiam à casa do tio.

- Bitõi, é você!?
- Xarapim, como vai com essa força?
- Tô indo como Deus quer – disse Antônio Luís – Soube que você ficou viúvo!
- É, fiquei. Dizem que todo João é besta e todo Antônio é sofredor.
Com essa abertura, Bitonho começou a contar sua história: “Fiquei órfão com seis anos de idade e com cinqüenta e seis, viúvo. Tenho 14 filhos, alguns deles ainda pequenos. Quando eu tinha doze anos, minha mãe se casou com Mariano Grande; mudamos pro Rodeador e depois disso, voltei poucas vezes no lugar que nasci. Faz dois anos que perdi minha senhora.

- Bitõi, eu tô viúvo há quatro anos, fiquei sabendo que Ti Simão tem uma filha na idade de casar... é esse o motivo de minha viagem.
- É, compadre – disse o Benedito – não quero atrapalhar seus planos, mas tô indo lá com a mesma intenção: pedir a moça em casamento.
Houve um momento de profundo silêncio, só quebrado pelo barulho de uma guariba que atravessou o caminho, feito Tarzan, dependurada num cipó. Com o susto, a burra empinou, quebrou os arreios e derribou Antônio Luís.

Bitonho tentou atalhar o animal mas o primo estendido no chão gritou: deixe a burra ir embora, vá procurar jenipapim pra fazer uma tintura em meu braço. Parece que está quebrado.
- Será o benedito! Olha a macaca aqui de novo – disse um deles.
Enquanto Bitonho passava sumo de jenipapo-do-campo no braço do primo, a guariba lançava sobre eles uma chuva de excrementos. Com uma mão, exibia um filhote com poucos dias de nascido e com a outra, atirava contra os invasores fezes apanhadas de seu traseiro. Recobrada as forças partiram os dois viúvos, um montado e o outro a pé e até muito adiante ainda ouviam gritos simiescos de insultos e protestos.

Os ponteiros do relógio de bolso deslocavam-se preguiçosamente, como se estivessem em sincronia com o ranger da sela: nhec...nhec...nhec... Cada segundo parecia uma eternidade.

Aproximando-se do pátio, lembranças da meninice repovoavam a mente de Bitonho: a casa, o chiqueiro dos bodes e o pé-de-trapiá...tudo igualzinho como conhecera antes.

- Ô de casa!

Silenciosamente, metade da porta se abriu e fez surgir um rosto avermelhado. O velho Simão escancarou um sorriso acolhedor ao reconhecer os dois sobrinhos no terreiro de sua casa.
- Entrem, entrem – disse apontando para um banco de madeira. Sem palavras, as visitas se assentaram, e para quebrar o gelo, pediram água de beber.

- Não querem se lavar? Parece que andaram caindo da montaria?!

Realmente, a ablução nas águas do Sambito, não fora suficiente: lavaram cuidadosamente o rosto, os braços e os pés, mas nenhum deles trouxera roupa limpa para se trocar. O velho tinha razão: o braço lavado pelo sumo violeta de jenipapo não deixava dúvida de que um dos viajantes havia sofrido acidente no caminho e, o burburinho que ouvia, não era mistura de vozes de outras pessoas no interior da casa, era o zumbido de moscas rondando os visitantes por causa do excremento em suas vestes.

A visita inesperada causou uma certa surpresa e inquietação. Que teriam vindo fazer ao mesmo tempo dois sobrinhos em sua casa? Por fim, Antônio Benedito irrompeu o silêncio: Meu Simão, eu vim aqui porque sei que o senhor tem uma filha na idade de casar. Meu primo Antônio Luís aqui também é viúvo e tem a mesma intenção minha. Não combinamos nada. Eu quero casar com fulana e ele também... o senhor decide.
- Bom, os dois são sobrinhos e gosto dos dois. A moça é quem vai escolher... menina! venha cá!
- É, é... os dois são meus primos... os dois são viúvos... não posso casar com os dois... não posso desgostar nem um nem outro... é, é, é...
- É tio nós estamos indo, não é Bitõi?
- De jeito nenhum! Vocês não vão sem comer uma buchada de bode comigo.

Francisco de Assis Lima e Silva e outros.



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