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cronicas-->Bye bye Sibipirunas -- 20/11/2000 - 09:30 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Uma das coisas mais legais que fazíamos, no meu tempo de moleque, era esperarmos a poda das Sibipirunas da frente de casa. Quando víamos os grandes galhos cortados pela prefeitura, a brincadeira da tarde já estava decidida: brincar de cabana. Era muito bom, pegávamos os galhos maiores para servir de estrutura e, com os menores, fazíamos a vedação. As cabanas tinham divisórias, separando os quartos da sala. Lá dentro eram feitas reuniões secretas, táticas de guerra contra grupos rivais, ou puro terrorismo infantil (contra mangueiras e jabuticabeiras vizinhas).

O melhor vinha durante a noite, quando brincávamos de esconde-esconde (nossa, nunca achei que escreveria "esconde-esconde") valendo em todo o quarteirão, e logicamente dentro das cabanas também. Muita coisa engraçada acontecia nessas noites, como o Allan saltando do terraço da casa do meu tio e dando um grito quando caiu no jardim. E nós, achando que ele estava blefando para se safar de ter que "bater cara" na próxima, ficamos lá em cima, escondidos bem quietinhos, rindo da cara de pau do dele e olhando as estrelas por um tempão, até que meu pai apareceu no jardim, irritadíssimo:

- Desce daí, vai. Desce já que teu amigo tá no hospital! - Quebrou o braço.
Passávamos de casa em casa sem pisar no chão, correndo perigosamente sobre os telhados. Muitas goteiras surgiram nessa época...
Hoje não brinco mais de cabanas, voltando pra casa cheirando a Maria-fedida, nem mesmo de esconde-esconde (aliás, as crianças ainda brincam dessas coisas?). Mas infelizmente presencio a troca das gloriosas Sibipirunas de nossa cidade com tristeza, pois, apesar da grande quantidade de folhinhas que ela solta, entupindo calhas e condutores, o tapete amarelo que se forma na época de sua flora compensa tudo. São momentos fugazes, pois acontecem quando a grande árvore, completamente florida, é chacoalhada por uma chuva de verão, que derruba grande parte das pequenas flores amarelas. Aí a chuva passa e vou até a locadora devolver um filme, caminhando sobre o tapete de flores.

Bonito, né?

Outra coisa que me faz olhar para a Sibipiruna com muita admiração é o método de expansão da espécie: suas vagens verdes vão secando com o calor, e se contorcendo até que as duas faces se descolam violentamente, fazendo aquele estalo característico e lançando as sementes em todas as direções. Pra se ter uma idéia, durante as noites mais quentes, algumas sementes da árvore da calçada do meu tio chegam a bater na janela do meu quarto, a usn 20 metros.

Apesar da minha tristeza, concordo que as velhas árvores precisam ser trocadas. A preferência geral está sendo pelos Oitis, que crescem lentamente, possuem raízes profundas que não estragam a calçada. Além disso, praticamente não perdem folhas e dão sombras ótimas. Gosto também da Magnólia, minha mãe plantou uma em frente de casa em substituição a uma Acácia derrubada por um carro desgovernado (ou melhor, governado por um bêbado). Outra que dá uma sombra muito gostosa é aquela que dá os "coquinhos", tem folhas largas e galhos compridos (esqueci o nome da árvore). O problema é que os morcegos adoram chupar os coquinhos, e se seu carro estiver parado ali embaixo, com certeza será bombardeado por cocó de morcego.

Há alguns meses, fizemos uma reunião familiar para decidir o destino da nossa Sibipiruna, que, doente, deveria ser retirada da calçada, o que fizemos com muita dor. Plantamos então dois Oitis, que fazem desde então companhia para o Ipê que nasceu sozinho dentro do terreno, ao lado do muro. Este último, o Ipê, é um caso a parte. Não dá muita sombra, suas sementes são leves e voam longe, fazendo um pouco de sujeira, mas convenhamos, não há nada tão bonito quanto um Ipê florido.

Vocês devem estar se perguntando: "por que diabos esse cara tá falando de árvores, coisa que nem entende?". E eu lhes respondo: sei lá. Vai ver é porque meu carro é preto, e não tem coisa pior do que entrar num carro que ficou um tempão no sol e sentir aquele ar de 80°C no rosto (aí você olha pro chão e vê a sombra do vaporzinho subindo...) e queimar a mão no volante.

Ou então porque eu realmente acredito que pra nós participarmos da nossa cidade, não precisamos ficar parados, de bico pra cima, esperando a prefeitura, o vizinho ou o acaso fazer alguma coisa pra enfeitar a rua. Nem que seja uma coisa bem simples, como plantar uma árvore bonitinha na nossa calçada. Então, antes de arrancar a sua velha Sibipiruna, ou outra árvore qualquer, escolha uma bela substituta, antes que nossa cidade fique desarborizada e feia como uma conhecida cidade vizinha.

A SEMANA, 18/11/2K

Obs: Na verdade, acho que aquele negócio de ir caminhando sobre as flores nunca aconteceu, pois em geral vou à locadora de carro, principalmente em dias de chuva. Mas poderia muito bem ter acontecido. Pedi licença à realidade para causar um efeito meio impressionista.
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