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Contos-->BOM DE BOLA -- 16/03/2009 - 10:19 (RÔMULO OLIVEIRA MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

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A PRIMEIRA EMERGÊNCIA


‘Atenção !...Atenção!...Dr Rômulo,dirija-se ao setor de ambulância para saída de emergência” . Foi o que eu ouvi do auto falante do Hospital Miguel Couto, naquela manhã de sábado. Era acadêmico de medicina,quinto ano e estava estagiando naquele Nosocômio há uma semana, por ter sido aprovado em concurso da Suseme (Superintendência de Serviços Médicos do Estado do Rio de Janeiro) hoje extinta. Atendíamos a todos os setores da emergência em um sistema de rodízio. Apesar de não ser uma surpresa, aquele chamado me deixou nervoso.Era a minha primeira saída de ambulância ! O coração disparou, o senso de responsabilidade mudou o meu semblante, fiquei sério, pensativo e ansioso – O que será ? Perguntei ao enfermeiro. – Um acidente de trânsito,respondeu. –Atropelamento ? Colisão ? Quantos feridos ? Indaguei de uma só vez. – Calma doutor! Não sei dizer, quando chegar lá nos tomaremos pé da situação . Me respondeu com um certo ar de ironia ou de quem não quer muita conversa .
A ambulância saiu em alta velocidade com a sirene ligada, conduzindo também um estudante inexperiente e desesperado, que deveria atender, confortar, amenizar a dor e até, quem sabe, salvar a vida de alguém. A primeira vez é dolorosa por faltar experiência necessária que o jovem acadêmico não possui. –Eu sou tão novo ! Será que estou preparado para isso? perguntava-me mentalmente. – E se for isso? O que devo fazer? E se for aquilo? O que faço ?A insegurança estava tomando conta de mim. Tentei reagir a esses pensamentos.O cérebro, agora, não parava de trabalhar em busca de todas as possibilidades da emergência médica focada para a situação real – acidente em via pública !
Enquanto estava envolto nesse tormento, não percebia o “zig-zag” que a viatura fazia para furar o bloqueio do trânsito intenso. Chegamos ao local ! O enfermeiro salta com a caixa de medicamentos e todo equipamento. Abre a porta traseira da ambulância, caminha em direção a multidão que está em volta de um carro, um fusquinha vermelho parado em um sinal,no cruzamento de uma rua transversal a via que contorna a lagoa Rodrigo de Freitas. Vou atrás dele que fala em voz alta para todos saírem da frente. Dentro do carro noto um motorista idoso debruçado sobre o volante. Abri a porta do carro e com o estetoscópio que carregava no pescoço, tentei ouvir o coração,depois os pulmões....Nada ! Dei uma olhada geral no acidentado. Me parecia morto. Levantei um dos seus braços, não obtive nenhuma resposta muscular. Com um espelho improvisado verifico se existe emissão de gases pela boca ou narinas. Nada ! A multidão lá fora do carro parecia exigir um decisão minha, um diagnóstico. –Então doutor, vamos levá-lo ? Pergunta o enfermeiro, já sabendo qual seria a minha resposta. –Não. Acredito que ele sofreu um enfarte ao volante no exato momento em que brecou o carro. Não podemos fazer mais nada por ele. Ele está morto,mas, antes de deixá-lo aqui, me passe o éter para fazer mais um teste de certeza do óbito,respondi. – Não tenho éter doutor, serve álcool ? – Sim, sim ! Pinguei algumas gotas do álcool nos olhos do falecido, o qual não esboçou nenhuma reação. Midríase paralítica !Definitivamente está morto,conclui. –E agora doutor? Pergunta-me o PM guarda de trânsito. –Ele está morto , providencie o IML.Anota o meu nome em uma prancheta com o diagnóstico da vítima. A notícia se espalha na multidão. Retornamos ao hospital.
Passados alguns minutos, eu já estava voltando a calma daquela “adrenalina” quando ouço o auto falante:
: Atenção!...Atenção! Dr Rômulo, compareça à sala da Direção
com urgência.! Imediatamente fui ter com o Dr Gazolla, chefe da Equipe Médica , o mesmo que, anos mais tarde se tornou secretário de saúde do Estado. – Rômulo! Você trouxe o paciente? – Não! respondi, explicando em seguida tudo o que havia feito. – Mas...franze a testa olhando para outros médicos...Você fez o teste com álcool ? –Sim, não havia éter. – Não sei não! Na minha experiência o álcool costuma dar falsos resultados. Bem, vamos esperar e torcer para que nesse caso eu esteja errado.
Voltei a sala de Pediatria e mal sentei na cadeira, quando ouço o auto falante: Atenção...Atenção!..Dr Rômulo, compareça ao setor de ambulância, saída de emergência!...Pronto! O Dr Gazolla estava certo quanto ao teste! Estou “frito”, pensei de imediato.Fui até o local anunciado com o” coração na mão”. O enfermeiro me diz – Doutor, o homem se mexeu! Recebemos um telefonema para retornarmos até lá pois ele está vivo ! “Gelei”! Fiquei pálido. Senti tonteira e corri a um banco próximo. Sentei e respirei fundo. Não sabia o que fazer ou dizer. Fui salvo dessa minha intensa aflição pelo próprio Gazzolla que me disse: - Rômulo,fique calmo! “ O homem está morto mesmo” Esse foi o seu batismo de fogo em nosso plantão ! Foi um trote. Gargalhadas dos presentes. Meu sorriso amarelado tentou agradecer aquele grande alívio.Senti-me aceito por todos. Passei na minha primeira saída de ambulância. Na minha primeira emergência externa, sem o auxílio de outro médico de carreira do Hospital.
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