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Artigos-->O Imaginário Corrompido -- 20/12/2002 - 14:37 (valmir marques) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Imaginário Corrompido

Ou Somos Todos Coadjuvantes do Show de Truman ?









Todos já presenciaram este fenômeno, mesmo sem se dar conta. Na fila do banco, do supermercado, sala de espera do dentista pessoas conversam e alguém sempre conta ao interlocutor, como se fosse algo de seu conhecimento exclusivo, uma noticia que viu/ouviu no... Jornal Nacional, da Rede Globo. E não importa que o tal programa seja visto/ouvido pela quase totalidade dos habitantes do gigante, antes adormecido, que, ao que parece, resolveu acordar - talvez com barulho das balas perdidas - mal humorado e confuso, como quem ainda vive restos de pesadelo.

Elaborando melhor essa questão, o que parece ocorrer é que as pessoas transferiram para a mídia toda a credibilidade perdida pelas instituições identificadas como

oficiais, sem perceber que, em nosso país, nada é mais oficial

que a mídia. E ninguém perdeu o notório fascínio e respeito que os brasileiros sempre tiveram pelo poder governamental. Tive um

colega de escola que se chamava, sem mais nem menos, Raimundo Governo, tal era a veneração que seu pai tinha pela

ditadura militar. Hoje ainda se vê um fenômeno, que era mais comum em outros tempos, de pessoas mais velhas respondendo

respeitosamente ao empostado e sepulcral “boa noite” dos locutores dos telejornais. Alíás, nós meninos, corríamos o sério

risco de um puxão de orelhas verbal ou efetivo, de minha avó

se não respondêssemos desse modo ao Cid Moreira, o porta voz de

Deus, na cabeça do povo.

Sempre vejo isso e não deixo de me espantar com a maneira como o que é veiculado pela televisão se aloja imediatamente no mais profundo da (in)consciência popular – e não importa classe social ou nível de escolaridade, o que costuma ser confundido com educação por aqui - sem transitar por qualquer instancia mental com função de discernimento ou filtro crítico. È como uma droga altamente tóxica aplicada diretamente na veia. Um baque.

É igual ao que aconteceria com o visitante do oráculo de Delfos, na Grécia antiga, ou a consulente dos pais de santo no candomblé ou qualquer crente diante do profeta no deserto. Ninguém duvida do “especialista”, um doutor fantástico qualquer, fanático fundamentalista de mercado que está sempre sendo entrevistado e sempre afirmando que “a globalização é inevitável”, que “a modernização exige a flexibilização dos direitos sociais”, que é assim mesmo, que não tem jeito, que desse modo é que se fica bacana e moderno e coisa e loisa.

Façamos uma pequena viagem e vamos a Divinópolis, há cerca de 100 km de Belo Horizonte. Cidade universitária, pólo regional com 200 mil habitantes, vários estabelecimentos de ensino “superior” e médio, próspera e ativa, com industria e comercio expressivos e diversificados. Uma “progressista comuna” como diriam os locutores esportivos de antigamente. Dá para acreditar que nessa cidade não exista uma única e escassa livraria? de que modo seus habitantes poderiam construir um pensamento crítico/analítico para se contrapor ao massacre manipulador/hipnótico imposto pela televisão? Como podem confrontar o que ouvem e vêem todos os dias, o dia inteiro? Como saber qual é a realidade, digamos, “real”?

Já se discute seriamente o fato de que a mídia se tornou, ela mesma, a maior ameaça a democracia nos tempos atuais, em paises atrasados. O grau de dependência de governos e anunciantes suprimiu qualquer pretensão de isenção que pudessem ter em outros tempos. Essa realidade é tão espantosa que já foi objeto de duas séries da BBC inglesa, tendo como foco a situação de México, Venezuela e Brasil, paises com graus de envenenamento televisivo semelhante, deixando mais que evidente o nível de comprometimento de seu processo democrático em decorrência da manipulação massiva da realidade social e política pela mídia, e não somente a TV. Portanto é mais que adequado qualificar, como tem sido feito, a situação atual do Brasil, principalmente as manobras político eleitorais do atual governo, como o inicio de uma mexicanização, sem aspas mesmo.



E talvez as implicações político-eleitorais do fenômeno nem sejam as mais dramáticas. Mudemos o foco para o varejo existencial. Em cada esquina carros envolvidos em pequenas colisões traseiras e abalroamentos inexplicáveis pela freqüência, semelhança e pequenas conseqüências, que parecem ser uma forma de comunicação possível num tempo onde foi abolido todo o sentido da expressão oral... a indigência afetiva e a pobreza da interação decorrente de uma interioridade estéril e inculta, por mal cultivada... meio como o canto das baleias, brincadeiras de filhotes, pequenos empurrões e socos amigáveis entre adolescentes, ... como as peladas de domingo em que bandos de sujeitos suarentos se esbarram, se tocam e se esfregam sem perigo de serem chamados de gays... as pequenas batidas são sucedâneos das cadeiras nas calçadas de antigamente... enquanto se espera a policia para o BO que a seguradora exige, se conversa, discute, argumenta de modo intenso e verdadeiro como quase não acontece em outras ocasiões... (o filme “Crash” se David Cronenberg antevia isso muito bem, especulando uma vertente sexual mais explicita ).

Quando o sujeito se cansa desse jogo ele simplesmente provoca um desastre realmente grande e morre... e mata. Fala-se em 50.000 mortes todos os anos

no país. O que, aliás, parece ser nossa forma peculiar de terrorismo suicida, e carece de uma analise muito mais completa e cuidadosa.





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