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Contos-->O GRANDE MAESTRO -- 21/03/2009 - 23:42 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mariléia estava limpando o quarto e local de trabalho de seu patrão, um escritor mineiro, nascido e criado em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, que se mudou para São Paulo, como muitas outras pessoas de todos os cantos do país e do exterior. Ele fixou residencia na cidade que nunca dorme, para onde veio à procura de uma chance para divulgar seu trabalho no mercado literário, e não demorou muito, com muita determinação, com seu jeito simples de escrever e fácil de se entender, após algum tempo ele alcançou seu intuito e se tornou famoso, tendo seu trabalho reconhecido em vários países do mundo. Ela, vinda do nordeste brasileiro, uma mulher de 32 anos, solteira, sem família na cidade, veio também para a grande metrópole, em busca de uma vida melhor, na esperança de poder ajudar seus familiares que ficaram no sertão, trabalhava para o escritor como empregada doméstica, desde que chegou à capital paulista, quando ainda era muito jovem. Léia, como ele a chamava, dormia no emprego e tinha verdadeira devoção pelo seu patrão, pois ele ensinou a ela tudo que sabia na vida, além do que, ela amava tudo que ele escrevia, era sua maior fã, mesmo que ele e o mundo inteiro não soubessem disto. Enquanto ela passava o espanador sobre o teclado do computador, ela percebeu que ele havia deixado o equipamento ligado e quando tocou numa tecla, o protetor de tela foi desabilitado e um texto apareceu.



Ela não resistiu e leu um trecho do texto que falava sobre uma ilha perdida em algum lugar do oceano, onde havia uma floresta tropical, com toda a exuberância da natureza, cheia de animais e plantas de várias espécies, um lugar paradisíaco onde foi parar uma linda jovem de 16 anos, que ficou órfã de pai e mãe num acidente de avião, sendo a única sobrevivente da tripulação. Leia leu apenas uma pequena parte do texto, mas já estava fascinada pelo enredo e não via a hora de poder ler a estória na integra, pois a cada livro lançado, seu patrão fazia questão de presentear a ela com um exemplar autografado e com uma dedicatória muito especial.



Léia nunca viajou para lugar algum desde que chegou a São Paulo, mas graças aos livros escritos por seu patrão, ela pode conhecer o mundo todo, pode se emocionar com um pequeno esquimó perdido nas geleiras, pode sorrir e até mesmo chorar com a saga de uma família de onças Jaguatiricas numa tournê pela cidade dos homens, perdidas em pleno Metrô, jogadas por acaso num caminhão de lixo e depois despejadas nas lamas malcheirosas de um aterro sanitário, separadas por acaso e procurando desesperadamente se reencontrar, e isto tudo, tendo como cenário uma selva diferente daquela que elas conheciam. Nela tudo era de pedra, nela o rei não era o Leão, mas sim um bicho danado e ardiloso, que destruia ou afastava de si tudo aquilo que ele não compreendia, por medo de ser superado por outro bicho, da mesma espécie que a sua.



Limpando, ela tirava cada coisa de um lugar e punha em outro, depois colocava tudo em seus lugares de origem e enquanto fazia isto, ela falava para si mesma a respeito do trabalho de seu patrão. Ela falava em voz alta como se estivesse conversando com alguém que estivesse junto com ela dentro do quarto, ela dizia que achava impressionante as estórias e poesias que saiam daquele teclado de computador e também que ficava imaginando o que mais viria depois, porque tudo que surgia através dele, era quase impossível de acreditar que alguém pudesse ter escrito, que era fantástico, verdadeiramente impressionante!



Quando acabou de limpar o ambiente, Léia saiu do quarto e foi fazer seu trabalho nos outros cômodos do apartamento e quando ela acabou de sair, uma voz se fez ouvir:



“Eu não disse?” Disse o teclado. “É impressionante!” “Isto é o que eu sempre disse!” E ele falou isto em alto e bom tom para a caneta que estava ao seu lado e para tudo que estivesse em cima da mesa do computador.



É absolutamente incrível tudo que sai de mim, contando ninguém acredita, mas quando o ser humano começa a digitar em mim, nem eu mesmo sei o que vem depois e quando vejo, coisas fabulosas surgiram de mim, unicamente de mim, para o mundo! Indignada com a arrogância do teclado a caneta respondeu: “Você é um mero principiante!” “Eu estou aqui muito antes de você e de toda esta parafernalha que o acompanha para você poder funcionar e posso dizer que de mim, unicamente de mim, originaram-se e irão se originar os grandes personagens como príncipes e princesas, os grandes romances e tragédias, as grandes aventuras e estórias de ficção que previram o futuro num passado distante e que hoje, são parte integrante de nossa realidade.”



“Isto sim teclado! Isto é o que é verdadeiramente incrível! É tanto, que nem eu mesma consigo acreditar quando o escritor termina de me usar para criar suas estórias e com chave de ouro, ele me usa para assinar o livro e enviar ao editor!



O teclado não poderia deixar de retrucar e respondeu: “ Você é um museu! Ninguém usa mais objetos antiquados como você! As assinaturas hoje são digitais e usar uma caneta para assinar documentos já esta ficando fora de moda! Já percebeu que ele não te usa a um tempão? Que há mais de uma semana ele nem toca em você?”



A caneta muito triste e ofendida, não poderia deixar por menos e respondeu à altura: “Você é um retardado! “ Você nem mesmo tem o trabalho de pensar e se o fizesse, saberia que tanto você, quanto eu, somos apenas provedores do meio e que os méritos da criação são do escritor, pois é a mente dele que cria as mais belas estórias com as mais lindas heroínas, com os mais valentes cavaleiros, com mundos mágicos e intrigantes para ilustrar seus enredos!



“Mas de qualquer forma, Sr. Arrogância, eu sou mais velha e mais experiente que você e mais ainda! Estou aqui desde os primórdios dos tempos, sou descendente direta das primeiras penas de ganso que foram usadas para escrever as primeiras palavras escritas num livro pelo homem, e isto amigo, não tem desenvolvimento tecnológico que pague! Além do mais, não preciso de energia para funcionar, mas você, olhe só para você! Nem consegue ficar acordado se alguém desligar o computador!”



O teclado, injuriado, não deixou barato e disse: “Olha aqui sua múmia! Seu lugar é num sarcófago, dentro de alguma pirâmide nos confins do deserto! O escritor deveria enviar você via Sedex para o Egito, pois tenho certeza de que lá, nas profundezas das areias do deserto, é que é seu lugar!”



A caneta sensivel e delicada, mais ofendia do que nunca em sua vida, disse ao teclado: “Babaca, insensível e arrogante!”



O teclado, é claro, não deixaria de retrucar e respondeu: “Você é uma trouxa, sensível e presunçosa!”



Ocorreu que naquele momento, o escritor abriu a porta de seu quarto e tudo voltou ao normal, nem um pio foi ouvido, exatamente como tinha que ser. Já era tarde da noite e o escritor tinha acabado de chegar da espetacular Sala São Paulo, na Estação Julio Prestes, no bairro da Luz onde ele havia asssitido um conserto de piano com alguns amigos, e não poderia ter sido melhor. Enquanto ele ouvia a musica tocada pelo pianista, na acústica perfeita do lugar, ele não ouvia apenas o piano, era como se ele estivesse ouvindo a toda uma orquestra e enquanto ele observava os movimentos do pianista, ele se deixava levar pela magia do momento. Sua mente de escritor, diante de tanta inspiração, não pode deixar de criar.



Em certo momento, com os olhos fechados, a musica que penetrava em sua alma e em seu coração, o fazia voar por sobre telhados de castelos antigos e num deles, presa numa torre, vivia uma linda princesa a espera que um príncipe valente para liberta-la de sua prisão. Em sua mente de escritor e seu coração de poeta, ele imaginava os cenários da época com detalhes minuciosos e planejava uma chagada triunfal do príncipe ao alto da torre, mas ao mesmo tempo, ele decidiu que esta estória tinha que ser diferente de todas outras já contadas. A princesa seria uma jovem e bela executiva, a torre do catelo, seria a cobertura de um edificio na avenida Paulista e o principe, seria um jovem e valente bombeiro no exercício de sua função. Ela tinha que ser mesmo muito mais do que especial, e quando chegasse em casa, ele iria encontrar um jeito de escreve-la como ninguém nunca o fez, mas antes, ele precisava descansar.



Em pé em frente ao computador, ele percebeu que o havia deixado ligado, olhou para a mesa vendo a caneta ao lado do teclado, falou como se eles pudessem ouvir e compreender: “Hoje eu não preciso mais de você meu amigo e parceiro, nem de você minha amada caneta, afinal, vocês, assim como eu, precisam descansar!”



Mas ele se lembrou que havia deixado seu casaco na sala e saiu para busca-lo, e quando ele saiu, recomeçou a discussão:



O teclado arrogante, disse à caneta: “ Eu não digo sempre? Nem mesmo o escritor vive sem minhas criações!



A caneta desolada com a imaturidade do teclado respondeu: “Arrogante!”



O teclado retrucou: “Presunçosa”!



Contudo, aquele foi o final da discussão porque o escritor entrou novamente em seu quarto e os dois se calaram, mas de certa forma, sentindo que poderiam ter ido dormir sem ouvir tantas besteiras, tantos insultos e dormir eles foram, porque o escritor desligou o computador, pegou caneta e a guardou num estojo ,colocando-a no fundo de uma gaveta, mas ele, o escritor, não foi dormir como foram o teclado e a caneta. O escritor fez exatamente como a cidade que ele escolheu para viver, ele passou a noite acordado, criando em sua mente brilhante, o enredo, os personagens, e tudo mais para escrever sua nova estória, que ele resolveu que iria se chamar “ O Grande Maestro”, pois seria ele quem iria colocar o jovem bombeiro no caminho da executiva para salva-la na cobertura do edificio. e seus pensamentos fluíam em sua mente, com a força de uma tempestade tropical, como se fossem os acordes mágicos de um violino, infinitos como a vastidão o oceano, belos como o sorriso de uma criança e com a mesma voracidade, com que correm as pérolas de um colar que se quebra, e as esparrama pelo chão.



Ele sentia seu próprio coração fazendo parte da estória que estava criando, ele, o homem, o ser humano, ao contrario do teclado e da caneta, sempre foi consciente do verdadeiro brilho do grande e único maestro, e mestre de nossas vidas. Ele sempre soube que ele, com todo seu talento, nunca passou de um mero instrumento nas mãos de Deus, e no fundo de sua alma, ele era feliz, porque tinha a verdadeira consciência de que todos nós sem exceção, somos os objetos do desejo divino e por mais que estejamos preparados, por mais conhecimentos e talentos que possamos ter na vida, somos como músicos e nossos conhecimentos, os instrumentos musicais.



O escritor, o patrão de Léia, sempre soube que Deus nos utiliza, cada um com seu instrumento, para fazer tocar com sucesso, a grande orquestra da vida.



Ele em sua humildade, com sua sensibilidade, fé em Deus e na vida, carregava dentro de si, o conhecimento de que, por mais que sejamos capacitados, por mais talentos que possamos vir ter a mais do que outras pessoas, não temos o direito de nos vangloriar, de nos achar superiores, humilhando e menosprezando nossos semelhantes, sem dó nem compaixão, pois o “O grande maestro” é um só, e é ele quem comanda não só aos músicos e instrumentos, mas toda uma orquestra, que toca em uníssono a sinfonia da vida, em suma, é ele quem rege o grande espetáculo da vida.



Se alguém é merecedor de receber os louvores desta imensa platéia que somos nós, pelo sucesso deste espetáculo sem igual, este alguém é Deus, nosso criador.
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