Usina de Letras
Usina de Letras
17 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62284 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->EM BUSCA DA VERDADEIRA LUZ -- 22/03/2009 - 18:29 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já passavam das 15 horas. Maria até aquele momento, estava às voltas com os afazeres domésticos. Ainda de pijama, ela usava um de seus preferidos. Ela gostava de se sentir à vontade e confortável. Estava usando um que era bem batido e surrado. Cabelos sem pentear, juntados para cima e presos por uma “piranha”, enfim, ela estava exatamente como se tivesse acabado de se levantar. Naquele momento exato, ela estava embaixo da cama de seu quarto, procurando uma fivela que havia desaparecido no dia anterior, e ninguém havia encontrado. O que ela nem podia imaginar, é que aquele dia seria decisivo em sua vida e a mudança que estava para acontecer, jamais havia passado por sua cabeça. Seria algo que para ela, nem em sonhos era possivel acontecer. Enquanto ela se arrastava embaixo da cama, tentando encontrar o que procurava, a porta do quarto se abriu. Rodrigo seu marido ao entrar, se depara com apenas os pés de Maria para fora e ele não acredita no que esta vendo. Ele chama por ela e ao ouvir sua voz, Maria levanta a cabeça, batendo-a com força na madeira da cama. Ela estava tão absorta no que estava fazendo, ao ouvir seu marido a chamar seu nome, se esqueceu que estava deitada debaixo dela. Apressada, ela se arrasta para fora, passando a mão na cabeça pela dor causada pela pancada e vê Rodrigo em pé, no meio do quarto, impecavelmente vestido como sempre. Ele estava como se tivesse sido petrificado pela visão da imagem com que Maria se apresentava naquela hora já avançada do dia. Seu marido tinha passado para almoçar em casa, pois estava próximo e havia perdido o horário normal de almoço no restaurante da empresa. Sua agenda que era sempre cheia, muitas vezes exigia que ficasse sem almoçar, podendo apenas se alimentar direito, quando chegava em casa à noite.

Maria se levanta do chão, ajeitando a parte de cima de seu pijama, todo torto e amarrotado em seu corpo. A poeira que havia se impregnado nele quando ela se enfiou debaixo da cama, era uma visão degradante. Ela olha para Rodrigo nos olhos e diz com um sorriso lago, que iria correr para preparar algo para ele comer. Ela sabia que ele só passava em casa durante o dia, quando tinha chance de estar por perto e poder almoçar. Porém com um ar sombrio e distante, Rodrigo diz a ela que não precisava se preocupar. Que ele esta sem fome e que na verdade, eles precisam conversar sobre um assunto muito sério, e que aquele momento era o ideal. Ele pediu que ela sentasse na cama, enquanto ele andava pelo quarto de um lado, para o outro. Maria ficou apreensiva, mas afinal em 20 anos de casamento, com dois filhos, de vez em quando tinham que conversar a sério sobre alguns problemas, mas logo tudo se resolvia sem maiores transtornos. Foi então que Rodrigo parou de andar pelo quarto. Voltando-se para Maria, ele se aproximou dela e ainda em pé, disse que a iria deixar. Maria ao ouvir a frase em que ele dizia que iria deixa-la, respondeu imediatamente que ele não poderia ir, não sem antes almoçar, mesmo que tivessem que discutir o tal assunto sério mais tarde, mas ele precisava se alimentar. Ela sempre foi a esposa que fazia de tudo para a familia e não media esforços para ter certeza de que todos sem exceção, estivessem sempre bem cuidados, era seu maior prazer na vida. Para Maria, a possibilidade de Rodrigo deixa-la não existia e por isto, ela não assimilou imediatamente o sentido do que ele havia dito naquele momento. Rodrigo determinado que estava, repetiu em alto e bom tom, que iria deixa-la, mas desta vez, acrescentou que iria pegar suas roupas para fazer as malas.

Sem mais delongas ele se dirigiu a porta do guarda roupas do casal e enquanto o fazia, disse que iria se mudar para a casa de alguns amigos, até que pudesse arranjar um apartamento só para ele. Ao chegar em frente à porta do guarda roupa ele a abriu e pegando suas roupas, Rodrigo virou-se para Maria , dizendo que depois viria buscar seus pertences pessoais. Com tristeza em seu olhar, ele disse que aquela decisão já havia sido protelada por muito tempo. Que ele já não mais poderia agüentar viver com ela sob o mesmo teto, não suportava mais estar ao lado dela nas circunstancias em que ela mesma os havia colocado. Maria que estava sentada à beira da cama, levantou-se lentamente e sentiu como se o chão houvesse desaparecido debaixo de seus pés e teve que se sentar novamente. Ela sentiu no fundo de sua alma ,que seu mundo a partir daquele instante, havia se tornado um abismo sem fim. Ela ficou sem palavras. Um grito de dor queria escapar de sua garganta, mas ele ficou amarrado, entalado em sua garganta, sem poder ecoar pelos ares, sem poder fazer com que o mundo inteiro ouvisse sua voz e seu grito de desespero. Ela ficou imóvel. Totalmente paralisada.

Em frente aos seus olhos, ela viu passar as imagens de seu casamento, dos anos que viveram juntos, do nascimento de seus filhos, da alegria que tiveram com a chagada deles, da segurança e estabilidade que ela tinha ao lado dele, e tudo isto, só fazia ela querer morrer naquele momento. Ela precisava desesperadamente de um buraco para se esconder. Queria desaparecer deste mundo, para não sofrer tanta dor. Rodrigo com os olhos cheios de lágrimas, sem nenhum gesto de carinho, virou as costas, já com as malas na mão, saiu sem dizer mais nada e fechou a porta atrás dele, tomando outro rumo na vida. Um rumo diferente daquele que Maria tinha certeza de sabia qual era, até aquele momento decisivo na vida dos dois. Ao ouvir o som da porta se fechando atrás de Rodrigo, Maria caiu em prantos. Seu choro se arrastou por longos e dolorosos momentos, até que quase sem forças, ela se levantou e foi até o banheiro. Ela queria passar um pouco de água no rosto para ver se melhorava, pois estava se sentindo fria, gélida como um corpo sem vida. A imagem dela refletida no espelho, mostrando olhos vermelhos de tanto chorar, cabelos que mais pareciam um esfregão velho e sujo, pois já nem mesmo estavam totalmente presos pela “piranha”, já que no decorrer dos acontecimentos, eles foram se soltando a ermo. Do jeito que ela estava naquele momento, mais parecia um fantasma. Ela se sentiu totalmente arrasada, acabada, sem razão de existir. Sentiu como se fosse um trapo velho e inútil que foi jogado no lixo, depois de ter sido usado o suficiente. Um objeto qualquer que já não tinha mais serventia para nada, nem para ninguém. Ela se desesperou mais ainda, ao ver no reflexo do espelho a sua imagem.

Entre seus dentes, ainda havia pedacinhos de amoras pretas, que ela havia comido alguns momentos antes de Rodrigo chegar. Ao ver sua própria imagem naquele estado, instantaneamente, uma emoção que ela não conhecia antes, fez com que ela compreendesse e sentisse o peso, as proporções e as conseqüências, tanto das atitudes dela para consigo mesma, quanto das de Rodrigo. Seu pranto de desespero se tornou um misto de gargalhas e de soluços. Um misto de emoções e um turbilhão de lembranças e recordações a invadiu. Naqueles instantes, no meio de tantos sentimentos e sensações, ela sentiu como se estivesse no olho de um furacão, esperando passar a calmaria do epicentro, para encarar o pior. Maria passou por momentos que foram muito difíceis de serem superados para que ela conseguisse reagir e continuar vivendo. Dias e noites se passaram, foram longos e longos meses de adaptação tanto para Maria, quanto para Rodrigo, pois uma vida nova se apresentou aos dois e eles tiveram que carregar com eles as feridas, que só mesmo o tempo poderia curar. Como tinha que ser, um dia Rodrigo encontrou outro amor e ele se casou com Flávia. Ela tinha a mesma idade de Maria, mas tinha uma outra visão do mundo e da vida, e eles viveram muito felizes. Rodrigo teve outros filhos com Flávia, que cuidava de tudo e de todos na casa deles e ainda trabalhava fora, mas acima de tudo, cuidava dela mesma, para que ela pudesse estar sempre se sentindo bem consigo mesma, pronta e impecável para se apresentar aos olhos das outras pessoas e de Rodrigo, que a admirava pelo seu amor próprio e pela maneira com que ela encarava a vida e tudo mais ao seu redor. A personalidade de Flavia, fez com que ele fosse sempre louco por ela e ano após ano, este amor foi sendo cultivado, alimentado e nutrido pelos dois, para que fosse duradouro e eles viveram assim, pelo resto de suas vidas.

Maria por sua vez, que havia ficado com a guarda das crianças, havia conseguido um emprego, coisa que ela nem se lembrava mais como era, mas sentiu-se renovada, com novas energias, dona de si mesma, responsável por seus próprios passos, consciente de suas responsabilidades. A mudança para ela veio gradativamente, mas com uma força e uma profundidade imensa. Ela tinha agora consciência real de suas necessidades pessoais e responsabilidades para consigo mesma. A nova Maria, sempre arranjava um tempo, mesmo que um tanto forçado, para cuidar de si mesma. Cabeleireiro, manicure, massagista, sauna, descanso, relaxamento, entre outras palavras que não existiam em seu dicionário, se tornaram palavras de ordem em sua vida. Chegou a um ponto, que quando era definitivamente impossível ir a um profissional da área de estética para que cuidasse dela, ela mesma fazia seu cabelo e suas unhas. Nunca mais em sua vida, Maria saiu do banheiro ao se levantar pela manhã, com cara de lençol amassado permanecendo assim o resto do dia. Ela jogou todos os seus pijamas velhos fora. Comprou novas roupas de dormir de acordo com a moda do momento, macios, confortáveis e de cores alegres e quando se olhava no espelho, ela gostava daquilo que via. Sua auto estima renasceu e ela passou a se amar em primeiro lugar.

Depois de algum tempo, Maria encontrou Otávio, ele passou a admira-la pela pela sua capacidade de discernir as coisas da vida e por seu senso de valorização de si mesma. Ela estava sempre em boa forma, sempre alinhada e por pior que fossem as circunstancias que se apresentassem; ela nunca perdia a classe, nem a disposição, ela se tornou uma mulher admirável e desejada. Sua luz interna que antes vivia apagada, agora iluminava a tudo e a todos que a rodeavam. Como não poderia ser diferente; Maria e Otávio se apaixonaram. Eles se casaram, mas ela jamais abandonou seu emprego, pois amava o que fazia e tinha planos para o futuro de sua carreira. Ela cuidava de tudo e de todos, fazia de sua vida um verdadeiro jogo de equilíbrios para dar conta de tudo, mas dela mesma, nunca mais esqueceu de cuidar. Ela aprendeu que para amar e ser amada, é preciso acima de tudo, gostar de si mesma e não inverter os valores num relacionamento. Finalmente, ela compreendeu que não se pode viver bem e feliz, esquecendo-se de si mesma em prol dos outros, pois o resultado é sempre desastroso. Sua vida mudou literalmente porque ela aprendeu sentindo na própria pele, que efetivamente só perde, quem leva a vida, em função da vida dos outros, e literalmente, se esquece de viver sua própria vida.

Para que possamos amar e sermos amados, para que possamos estar felizes e contentes com quem somos, com nosso verdadeiro "eu", primeiro temos que aprender a gostar de nós mesmos, só assim vamos poder ser e fazer as outras pessoas felizes.

Dentro de cada um de nós há uma centelha que precisa ser alimentada e quando ela se acende, sua luz é tão poderosa, que todos que estiverem à nossa volta vão querer ficar ao nosso lado.

No fundo de nossos corações, há uma busca constante e infinita, pela direção e o caminho certo, que possa nos levar à verdadeira luz.

Por via de regra, constantemente procuramos em todos os lugares imagináveis e inimagináveis, sem encontrar este caminho. Tentamos e tentamos, mas esquecemos de procurar no lugar mais importante de todos, aquele que está sempre ao nosso alcance, esquecemos de procurar dentro de nós mesmos.

Encontrar este caminho, ou não, só depende de nós e se não aprendermos a procurar no lugar certo, ficaremos eternamente, em busca da verdadeira Luz...
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui