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Contos-->CAÇADOR DE CONCHAS -- 24/03/2009 - 00:19 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Naquele final de semana, eu havia descido para o litoral na sexta feira após o trabalho, precisava dar uma olhada na casa, antes do pessoal descer no sábado, eles iriam juntar-se a mim num tão esperado final de semana na praia, para bater papo, trocar idéias ou apenas jogar conversa fora, mas o importante é que estaríamos todos juntos, mesmo que só por dois dias.

Aproveitei minha solidão naquela noite de sexta para sábado, para relaxar e dormir ao som das ondas do mar quebrando-se nas rochas, fui deitar-me cedo, pois pela manha eu queria mesmo era fazer algo que sempre gostei, ou seja, caçar conchas nas areias da praia, enquanto a maré ainda esta baixa, pois é a melhor hora para encontra-las.

Eram seis da manhã quando me levantei, tomei um banho rápido, tomei um pouco de leite e sai de casa rumo à orla marítima, para me dar a um luxo tão raro, de estar presente e fazendo parte da natureza exuberante, de um lugar que tanto amo e que sempre tive tão pouco, ou quase nenhum tempo para estar ao lado dela, depois que me tornei um adulto.

A casa era bem em frente ao mar e em poucos passos, eu já estava pisando na areia, sentindo o milagre da natureza envolver meu corpo, meus sentidos, meu ser...

A praia estava deserta e pude caminhar por um longo tempo, caçando minhas conchas, sem me preocupar com nada, apenas vivendo aquele momento, que me dava um prazer enorme e que sempre me fez muito bem.

Havia já achado várias conchas, algumas pequenas e outras grandes, de várias formas, de várias cores e quando me dei por conta, já eram quase dez horas da manhã, o dia estava agradável e a praia já tinha algumas pessoas, aproveitando o horário em que o sol é mais ameno.

Peguei minhas conchas e já ia me preparando para voltar para casa, quando vi não muito longe de onde eu estava, um casal sob um guarda sol e uma criança sentada um pouco distante deles, debaixo de outro e ela, de uma forma que não sei explicar até hoje, chamou minha atenção.

Era uma menina, devia ter uns cinco ou seis anos, pele branca como leite, olhos de um azul celestial e cabelos louros, encaracolados, exatamente como um anjo, sim, ela me lembrou um anjo e eu fiquei observando-a de longe, enquanto ela sorria, agitando a cabeça e balançando seus cachos dourados, acariciados pela brisa do oceano.

Não pude resistir e me aproximei, eu sempre fui apaixonado por crianças e naquela época, eu ainda era solteiro, somente tinha sonhos de ser pai algum dia, esperava receber de Deus a dádiva de poder ajudar a conceber uma vida, tendo a felicidade de poder amar e cuidar dela, mais do que de mim mesmo, educando e preparando-a para seguir seu próprio caminho, um ser humano confiante em seus passos, em si mesmo, mas sem nunca esquecer, quem eu fui um dia em sua vida, mas eu sempre soube, que para que isto um dia pudesse se tornar realidade, só iria depender de mim, de meu comportamento perante a Deus e à vida.

Ao chegar perto do casal, pude perceber que eles estavam com um olhar triste, observando o mar com olhares distantes, vi que estavam calados, como se estivessem fazendo alguma prece, ou simplesmente meditando, não foi possível deixar de pensar, por que não estavam felizes e sorridentes, esbanjando alegria, como aquele anjo lindo, cheio de luz, sentado ao lado deles, sorrindo, com uma expressão de paz em seu rosto, que trouxe lágrimas aos meus olhos.

Acanhado, cumprimentei o casal e perguntei se poderia falar com a menina, pois queria dar a ela uma das lindas conchas que havia encontrado, eles agradeceram a gentileza, permitindo que eu o fizesse e foi então que eu descobri, porque estavam tão distantes, quando me aproximei.

A mãe da menina olhou-me bem dentro dos olhos e disse que eu poderia falar com ela, mas infelizmente, ela não poderia me ver, pois era cega, desde que nasceu.

Uma dor profunda tomou conta de meu coração, por saber que aquele anjo, tão lindo e cheio de vida, não podia ver a beleza do mar e das conchas que eu havia encontrado, que ela nunca viu, nem iria ver, a natureza em todo seu esplendor.

Perguntei ao casal, se não havia nenhuma esperança de cura para ela e me disseram que infelizmente, os médicos haviam descartado esta hipótese, ha mais de um ano atrás.

Entristecido, dirigi-me para onde ela estava sentada e não pude compreender, o motivo do sorriso em seu rosto, um sorriso permanente, como se ela fosse a mais feliz de todas as pessoas neste mundo e de vez em quando, ela balançava a cabeça, fazendo sinais, como se estivesse falando com alguém.

Sentei-me ao lado dela e instantaneamente, ela se virou em minha direção, fixando em mim aqueles olhos lindos, como se por um milagre estivesse me vendo e então ela falou:

”Oi!”.

Não posso descrever a emoção, nem mesmo o que realmente eu senti naquele momento, pois foi incrível a forma como ela percebeu minha presença e virou-se, exatamente em minha direção.

Com voz embargada, eu respondi a ela e perguntei...

“Oi!”

Qual é seu nome menina linda?”

Em sua resposta, veio o que de alguma forma mágica e misteriosa, meu coração já sabia:

”Meu nome é Angelita, e o seu?”.

Meu coração acelerou, senti um nó em minha garganta e quando finalmente consegui responder, disse a ela que meu nome era Pedro e nós conversamos bastante, foi impressionante ver a maneira como ela movia os olhos e cabeça em direção aos sons, como se estivesse vendo tudo, como qualquer pessoa normal.

Ela pagava punhados de areia com suas mãozinhas e enquanto falava, deixava escorrer por entre seus dedinhos, sorrindo e falando sobre os sons da natureza e sobre a maneira como ela imaginava que as coisas eram vistas, por aqueles que tinham recebido de Deus, a graça, de poder enxergar.

Fiquei encantado com aquele anjo, tão lindo, tão especial, que não tinha asas para poder voar, mas não havia perdido a alegria de viver, de sentir as coisas e ver o mundo à sua maneira, ela havia aprendido em sua imaginação a voar livre, leve, solta, de uma maneira só sua e que a fazia feliz, tão feliz, quanto qualquer um de nós que tem o poder da visão pode ser, se assim o escolher.

Peguei a concha mais linda que havia encontrado e dei a ela, descrevendo como era seu formato, suas cores e dizendo que ela tinha um poder mágico, que poderia guardar dentro dela, toda a imensidão do oceano e para provar isto, era só colocar-la junto ao ouvido, que se poderia ouvir o som do mar.

Angelita pegou a concha com as duas mãozinhas, de uma forma firme, mas delicada, sentiu seu formato com a ponta de seus dedinhos e eu a ajudei a coloca-la perto de seu ouvido, para que ela pudesse ouvir, o som do mar.

Ela pressionou a concha em seu ouvido e ficou ouvindo atentamente e aos poucos, um sorriso mais largo ainda foi tomando conta de seu rosto, ela não se conteve e perguntou:

”Tio, o mar esta mesmo dentro dela?”.

Aquela pergunta me deixou momentaneamente sem resposta, mas aos poucos, me recuperei da forte emoção que estava sentindo ao lado daquele anjo e disse a ela com voz calma e confiante, que quando o papai do Céu fez o mar, as ondas e as areias, ele fez as conchas, que teriam a grande responsabilidade de proteger o mar e por isto, tinham o poder de carrega-lo dentro delas, pois se um dia, algo colocasse a existência dele em perigo, elas o esconderiam dentro de si mesmas e com isto, mesmo que ele deixasse de estar presente fisicamente na vida de algumas pessoas, elas poderiam ouvi-lo dentro delas, onde quer que estivessem, para matar as saudades e alegrar seus corações.

Ela sorria, segurando a concha encostada em seu ouvido e seus lindos olhos azuis, pareciam refletir a luz do sol, eles brilhavam de alegria e eu pude naquele momento, sentir que a luz divina, brilha mesmo para aqueles que não podem enxergar como nós e que muitas vezes, aqueles que podem ver, não a enxergam, como os pais de Angelita, pois já não existe mais fé em seus corações e acabam por viver, na mais completa escuridão.

Angelita foi um anjo, que cruzou o caminho de Pedro, um caçador de conchas e narrador desta estória, para permanecer em seu coração pelo resto de sua vida e ela, com toda a sua luz, ensinou a ele que tudo pode ser, que tudo pode acontecer, quando se tem dentro de si, a fé em Deus e o amor pela vida, que não somente é possível enxergar sem ter a faculdade da visão, desde que a gente deseje aquilo que queremos, de todo coração e aquele anjo, em forma de menina, tinha dentro de si, um sentimento imenso chamado amor e no caso daquela criança, tão cheia de luz, era direcionado a uma única coisa, a viver sua vida, a única que ela tinha, da melhor maneira possivel, mesmo tendo sido privada de ver as coisas como nós as vemos, desde que nasceu.

Aquela criança, tinha algo dentro dela, que falta a muitos de nós, que reclamamos o tempo todo, de quase tudo na vida, sem motivos, sem sermos deficientes fisicamente, em nenhum sentido, ela tinha um amor incondicional pela vida, que era sincero, verdadeiro e era isto que a fazia feliz que lhe conferia o poder mágico, de ser capaz de enxergar coisas que muitos de nós, nem sequer chegamos a ver, por toda uma existência, mesmo tendo recebido de Deus, a dádiva da visão.

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