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Contos-->CABIDE DOS SONHOS -- 26/03/2009 - 21:31 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já passava das nove horas da manhã quando ele chegou para leva-lo para casa, mas André já estava pronto ha muito tempo. Ele tomou uma ducha, com muita dificuldade, pois não era uma tarefa muito fácil, engessado da cintura até o pescoço. De qualquer forma, ele estava limpo, já havia trocado de roupas com a ajuda dos enfermeiros e extremamente ansioso para voltar para casa, 4 meses depois do acidente com seu carro que o deixou inválido, sem poder andar, preso a uma cadeira de rodas e pior, sem esperanças de voltar a andar novamente. Na verdade naquele momento, não importava se ele estava voltando para casa de cadeira de rodas, nem mesmo se suas pernas não mais funcionavam, tudo que ele sabia é que iria voltar para sua casa e seu lar faria tudo parecer melhor, afinal como disse Alice na estória do Mágico de Oz :

“ Oh, Tia Ema, não há lugar nenhum como nossa casa!”

Esta sempre foi sua estória favorita, quando era pequeno nunca se cansava de ouvir sua mãe ler sempre a mesma estória e quando cresceu não compreendia o porque desta paixão pelo “Mágico de Oz”, mas nunca deixou de gostar da estoria que lhe fazia muito bem. Os enfermeiros o colocaram no carro de seu pai e quando ele se senta no banco do motorista, André o olha fixamente e pensa o quanto seu pai parece com o “Espantalho” e seu pai, exatamente como o personagem da estória do Mágico de Oz era feito de muitas partes, de muitas coisas, como força, coragem, companheirismo, compreensão e amor, especialmente de amor. Ele nunca foi um homem elegante, era magro, com ombros caídos e com sujeira debaixo das unhas, pois sempre foi um mecânico, nunca estudou na vida, era um verdadeiro trabalhador, pelos padrões da sociedade, ele não era um homem educado, mas André pensava diferente, pois seu pai não era de falar muito, mas o pouco que dizia poderia ser escrito, pois ele sempre estava certo e André nunca precisou escrever, pois sempre soube que nunca iria esquecer o que ele dizia.

Era muito difícil ficar sentado num banco de carro, quase que imóvel por causa do gesso que o envolvia, mas ele foi obrigado e quando fecharam a porta do carro ele ficou olhando pela janela, com sua face tensa, cansada, parecendo muito mais velho do que os 16 anos que ele tinha. Ele nem mesmo se lembra do mundo dos 16 anos, como se aquele mundo nunca tivesse existido e então ele pensa sobre o que Doroty quis dizer, quando ela falou:

“Oh, Totó, eu não penso que estejamos mais em Kansas.”

Para ele, isto sempre foi e agora mais do que nunca, um assunto com significado muito maior do que uma simples situação geográfica.

Assim que o carro sai do estacionamento para as ruas, ele agarra firmemente o assento de seu banco com as duas mãos e quando se aproximam do farol na próxima esquina, ele fica em alerta extremo, sua face atenta e tensa e seus olhos se movem rapidamente nas duas direções e quando vê que seu pai não vai parar no farol ele grita em voz alta:

Pare! Ficou maluco? Não viu que o farol esta vermelho! Você quer nos matar?!?!

Mas logo em seguida com voz mais branda e lê diz:

Você não sabe o que tem sido este tempo que fiquei no hospital, você nunca esteve em meu lugar!

Seu pai olha para ele e não diz nada, mas como o Espantalho e Doroty na estória, eles seguem em frente e ele ainda não relaxou as mãos e ainda se segura firmemente no assento do banco. Igual à estrada de tijolos amarelos da estória do Mágico de Oz as ruas pareciam não ter fim, o carro seguia em frente rumo ao seu destino, passando por parques e edifícios altos que lhe cobriam a visão e o impediam de enxergar sua casa, a “ Cidade das esmeraldas”.

Olhando pela janela, toca a pulseira em seu braço, um presente dado por seus avós e que ele não tirava, nem mesmo nas piores circunstancias e como em todas as coisas, o bracelete tinha dois lados, o de cima, onde todo mundo podia ler, estava escrito seu nome e no de baixo, que toca sua pele e seu coração, estava escrita a palavra esperança, uma palavra pequena mas que tem um significado enorme na vida e agora era do que ele mais sentia falta. André tateia sua pulseira, passa os dedos sobra a palavra gravada, vagamente ele se lembra, como era ter esperanças de um dia se tornar um grande cantor de rock, viajando o mundo inteiro em suas turnês, dançando e pulando ao som da musica que sempre lhe elevou o espírito, ele nem mesmo tem certeza, de que se lembra como era ter esperança, uma tremenda força propulsora que impulsiona a vida, pois agora ela se foi e ele nem mesmo sabe onde foi que a perdeu, muito menos como acha-la de novo.

Cabeça encostada no vidro do carro, olhos fechados, ele assiste mentalmente as imagens de como sonhava em ganhar a corrida de São Silvestre e uma lágrima furtiva, teima e rolar por sua face e atrás dela, mais outra e mais outra e então ele deixa o pranto cair livremente e enquanto chora, ele se vê andando de bicicleta, praticando skate no parque, mas em meio a tudo isto, vê uma cena magnífica, muito além da imaginação, sob um céu azul, com um sol absolutamente lindo, refletidos nas águas do lago do Parque Ibirapuera, cercado pelas arvores, ele se vê nitidamente, andando e dentro de seu coração ele sente uma paz que jamais havia conhecido na vida. Mas ao abrir os olhos, ele relembra e lembrando, ele sabe que estava sonhando acordado e tateia instintivamente sua pulseira, passando os dedos sobre a palavra esperança gravada nele o medo é desesperador, um medo insuportável de não voltar a conhecer o significado desta palavra.

Ele relaxa o corpo e afunda um pouco no assento e mais uma vez as lágrimas rolam pela sua face e ele diz:

Pai, os médicos dizem que nunca mais vou poder andar, eles são os melhores especialistas, mas dizem que nunca mais vou andar!

Foi então que seu pai parou o carro, o homem que havia estado com ele por todos os caminhos e estradas de sua vida, igual ao Espantalho fez com a Doroty na jornada rumo ao encontro do Mágico de Oz e ele fala:

Eles podem colocar pinos e rodelas de metal em suas costas e por você de pé novamente, mas de uma olhada à sua volta meu filho, nenhum daqueles médicos tem o poder de fazer uma lâmina de uma folha de capim.

Foi então que André percebeu, que seu pai havia lhe dado a maior e mais valiosa lição de toda sua vida, de toda a sua jornada:

De que ele nunca esteve, nem nunca estaria só, pois há sempre na vida um “Mágico”, há sempre Deus e com ele sempre haverá a esperança.

Então ele firma seu corpo, relaxa e solta o assento que segurava com força, olha para fora da janela e sorri, pois no fundo de seu coração, ele sabe que ama seu pai, mais do nunca na vida, pois ele lhe devolveu a esperança perdida e com ela, a certeza de que a esperança, é o cabide onde penduramos nossos sonhos, até que um dia eles sejam realizados.

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