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Contos-->A FADA MADRINHA E O FEITIÇO DA INDECISÃO -- 26/03/2009 - 23:53 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Você acredita em fadas e duendes? Não? E se eles existirem?

E em fantasmas? Você acredita? Também não? E se eles existirem?

O sol surgia por detrás dos arranha céus da cidade, revelando nos poucos espaços existentes entre os prédios da grande metrópole, o céu azul dourado, das luzes do amanhecer. Era uma linda manhã de sexta feira na capital paulista. Fernando tomou seu café da manhã, se preparou na mesma rotina de sempre para mais um dia duro de trabalho. Exatamente às 07:00s ele saiu de casa em direção ao ponto de ônibus. Naquela manhã, ele estava sentindo-se particularmente cansado. Não era somente um cansaço físico. Era algo muito mais profundo e desgastante. Nando estava à beira de uma crise nervosa, provocada pelo stress físico, mental e emocional causado pelo seu trabalho desgastante e pelos ultimos acontecimentos em sua vida. Enquanto ele caminhava na direção do ponto de parada dos coletivos, ele pensava na pilha enorme de papéis que havia em cima de sua mesa, que a cada dia, crescia mais e mais. Após alguns minutos de espera, sua condução chegou, e como sempre, o veículo de transporte coletivo veio lotado. Por muito pouco, ele não conseguiu embarcar. Sentindo-se mal como já o estava antes de sair de casa e com aquele acumulo de passageiros, provocando até mesmo falta de ar, quando o ônibus ia passando pelo parque do Ibirapuera, ele resolveu desembarcar. Nando estava precisando de um pouco de ar puro. Precisava literalmente respirar. A passos largos ele entrou por um dos portões do parque. O mais rápido que ele pode. Lá, ele começou uma caminhada lenta pelas alamedas. Era cedo ainda, mas já havia alguns freqüentadores praticando esportes. Uns andavam de bicicleta, outros caminhavam, e outros, mais afoitos, preferiam correr. Contudo, ele estava tão confuso, perdido em seus pensamentos, que nem ao menos percebeu a presença das outras pessoas. Apenas caminhava em frente, parava de vez em quando, olhava para os lados, como se estivesse assombrado com alguma coisa, e logo depois, continuava a caminhar.

Nando além de trabalhar muito como empregado, era um escritor e amava escrever seus contos que publicava semanalmente. Ninguém compreendia, como um cara como ele, que trabalhava sem parar durante todos os dias da semana, conseguia ainda tempo para escrever. A resposta era bem simples. Ele escrevia nas noites de sábado para domingo. Ele varava a noite escrevendo seus contos, pois ele tinha verdadeiro amor pelo que fazia. Na verdade, era a coisa que ele mais gostava de fazer na vida. Esse era o seu ritmo e se não fosse assim, se ele não tivesse a literatura como uma válvula de escape, já teria pirado, há muito tempo atrás. Na semana anterior, ele havia recebido um convite de uma editora para ir para a Espanha e lá, lançar uma antologia de seus contos, mas para isto, ele teria que largar tudo por aqui e ficar por lá até o lançamento do livro. Foi uma surpresa para ele. Algo que nem sequer havia passado por sua cabeça. Publicar um livro dele em outro país, seria maravilhoso. Contudo, apesar da alegria de saber que seu trabalho como escritor estava sendo reconhecido até mesmo no exterior, ele ficou em total indecisão. Ele tinha família, sua esposa e seus filhos que dependiam dele financeiramente e para garantir o atendimento das necessidades deles, ele não poderia simplesmente largar seu emprego e seguir em busca de sua realização profissional. Sem condições financeiras para poder arcar com as despesas dele no exterior e da familia aqui, ele estava se sentindo, arrazado, deprimido, acuado e pressionado pelas responsabilidades e obrigações que ele tinha que cumprir. Nando já não era mais um jovem. Estava na faixa dos 50, e sabia que a estas alturas, a cada dia que se passasse, menos chances ele teria de se realizar profissionalmente e poder largar o emprego que o estava matando aos poucos, mas que ele era obrigado a agüentar. Não havia outra opção. Desde o dia em que recebeu o convite, após ter vivido a angustia de uma indecisão e depois a frustração por não poder aceitar por causa de suas responsabilidades, tudo que aconteceu, só contribuiu para agravar seu baixo astral. Nando trabalhava ha longos anos em uma empresa, onde tinha um cargo de responsabilidade, mas seu cargo, era só um nome no registro da carteira profissional. Na realidade, ele era nela, o famoso Bom-Bril. Um personagem tão apreciado no mercado de trabalho no Brasil, pelo seu baixo custo, grande produtividade e alta rentabilidade.

Afinal por que ter três, quatro, ou cinco funcionários em um setor que pede até mais do que isto, se um só pode fazer tudo sozinho? Ele muitas vezes se sentia exatamente como uma Lula. Tinha momentos, em que ele era obrigado a dar conta de várias coisas ao mesmo tempo, e para isto, precisava de mais braços, mas tudo que tinha, eram os seus. Quando pedia a contratação de pelo menos mais um para ajudar, a resposta era sempre a mesma. Ele recebia um não como resposta. Segundo a empresa, não poderiam arcar com os custos de mais gente no quadro de funcionários. As funções que ele exercia no seu papel de Bom Bril, exigiam dele um esforço supremo, tanto físico, como emocional, porque cuidar da parte financeira de uma empresa como a que ele trabalhava, sem o menor suporte, tendo também que executar tarefas inerentes a outros setores que não o seu, era uma loucura total. Mas para ele, aquela loucura era necessária porque ele precisava de seu emprego e trabalhava sem parar. De segunda a segunda, sem descansar. Ele detestava o que fazia e só trabalhava naquela área, por ter sido sua única chance real de um emprego, após ter ficado um ano desempregado ao completar seus 40 anos de vida. Desde há muito tempo atrás, com esta idade, quase todas as empresas parecem fechar as portas para um trabalhador como ele no Brasil. Não importa quais são suas qualificações, a desculpa em geral, é que a politica das empresas no mundo da globalização, é ter em seu quadro gente jovem e dinâmica. Sempre envolto em seus pensamentos, ele caminhou um bom tempo no parque, e quando decidiu ir embora, passou a andar na calçada que beirava um dos lagos. O sol já estava alto e seus raios refletidos nas águas, pareciam criar um ambiente mágico, mas isto, ele nem percebeu. Quando ia passando próximo de onde os funcionários do parque deixavam ancorado o barco que usavam para fazer manutenção na fonte dançante, ele não pode deixar de ver algo voando sobre as águas, e fosse o que fosse, tinha asas transparentes que brilhavam à luz do sol e os reflexos dos raios dele nas águas, se refletiam também nas pequenas asas, criando um efeito multicolorido sem igual. Nando parou de andar e ficou observando o vôo do que lhe parecia a princípio ser uma Libélula. Em certo momento, aquilo que ele via pareceu se aproximar, e ele, sem entender o porque, sentiu que precisava ver melhor para identificar o que era. Ao firmar as vistas e com a proximidade maior, ele ficou pasmo e não pode acreditar no que via. Era uma Fada! Ela era tão pequenina, mas sua beleza era algo fenomenal. Uma jovem de cabelos loiros, usando um vestido tão leve e esvoaçante, que o deslocamento de ar, provocado pelas batidas de suas pequenas asas, o fazia balançar suavemente no ar. Incrédulo, ele balançou a cabeça e pensou que estava tendo alucinações.

No fundo, no fundo, ele achou que tinha chegado a hora dele perder de vez a sua razão. Contudo, a bela fadinha veio lentamente em sua direção e quando chegou bem perto de seu nariz, com uma voz doce e suave, disse a ele que ela não era sua imaginação. Nando respondeu mentalmente, quase que mecanicamente, que não acreditava em fadas. Ela, lendo seu pensamento, disse que ele estava enganado. Que elas existem sim e que ela, era a prova disto. Ela perguntou se ele se lembrava de que na noite passada, ele tinha tentado acertar com uma vassoura, um vaga-lume que voava em seu quarto. A fadinha disse a Nando que aquilo que ele achava que era um vaga-lume, na verdade era ela mesma, e que estava lá em seu quarto, para observa-lo e descobrir uma maneira de o ajudar. Passando as mãos pelos cabelos, Nando ainda estava atônito com os acontecimentos e não conseguiu pronunciar uma única palavra. A bela fadinha, percebendo que ele estava lutando consigo mesmo para acreditar no que via, disse que iria lhe provar que ela era real. Com um sorriso lindo e segurando uma varinha de condão na mão, ela lhe disse que seu nome era Esmeralda, a Fada do Lago, como todos a chamavam no parque. Ela disse também, que ele era um homem de sorte. Que fadas como ela, só aparecem para um, entre milhões de humanos, e que ela, o havia escolhido para ser a sua Fada Madrinha. Ela tinha vindo até ele para lhe conceder a realização de um desejo que mudasse a vida dele para melhor, mas deixou bem claro, que seria apenas um. Poderia ser qualquer coisa. Aquilo que ele lhe desejasse. Por mais difícil que fosse de se conseguir, ela o atenderia. Num piscar de olhos, mas se o que ele fosse pedir iria faze-lo mais feliz , ou não, isto era com ele. A estas alturas, Nando já estava se recuperando do choque que levou ao perceber que aquilo que ele achava ser uma libélula, na verdade era uma Fada, e mais ainda! Por saber que ela era a sua Fada Madrinha! Com um certo esforço, ainda resistindo à idéia de aceitar que as fadas existem, ele respondeu a ela, que não acreditava em tudo aquilo. Que para ele, coisas assim só aconteciam em contos e historias da carochinha.

Ela sorriu novamente e pediu com sua voz suave, que ele fizesse o seu pedido. Mais uma vez, ela deixou bem claro que poderia ser qualquer coisa. Nando de alguma forma, bem lá dentro de seu coração, já estava pensando em fazer seu pedido. Mas a razão gerava uma dúvida imensa em sua mente. Como uma fada poderia estar ali naquele lugar? Um ser mitológico em pleno parque do Ibirapuera, e voando sobre as águas do lago! Como ela poderia saber sobre o vaga-lume que ele quis acertar com uma vassoura em seu quarto, na noite anterior? Tudo aquilo seria mesmo verdade? As fadas realmente existem? Ele se fez estas e muitas outras perguntas, mas não conseguiu responder a nenhuma, e naquele instante, de uma forma intensa e misteriosa, uma vontade imensa de atender ao apelo da fadinha, tomou conta de seu ser. Ele começou a pensar no que pedir. Mas teria que ser algo muito especial. Afinal, aquela poderia ser a sua única chance na vida, de se realizar e poder se libertar daquela prisão que era o seu trabalho e que o aniquilava dia a dia. Onde ele não via a menor perspectiva de melhora, e pior, um trabalho que não tinha nada a ver com ele. Nando se submetia àquilo apenas por obrigação, por necessidade. Já haviam se passado muitos anos de sua vida naquele lugar que vinha acabando com ele lentamente. Sugando suas energias, gota, por gota. Em seus pensamentos, ele se perguntava se deveria pedir dinheiro, jóias, propriedades. Mas a indecisão o estava martirizando. Ele já havia sentido antes o peso e as consequencias daquele sentimento. Cansado, stressado e debilitado, tanto física como emocionalmente, se não fizesse o pedido certo, poderia se arrepender pelo resto de sua vida. Pedir mulheres, poder, status, lhe parecia tão fútil. Tão sem sentido.

A fadinha é claro, lia em sua mente tudo que estava pensando e lhe disse que ele teria que fazer um pedido concreto. Nada de abstratos. A coisa ficou pior quando ela lhe disse, que não havia lhe falado nada antes, porque achava que ele fosse decidir logo o que pedir, mas já que ele estava demorando tanto, era preciso lhe dizer que ele só tinha 10 minutos a partir do momento em que ele começou a acreditar e pensar em fazer o seu pedido. Que já haviam se passado 8 minutos, e que ele precisava se decidir. Caso contrário, quando acabasse o tempo, ela iria desaparecer no ar e ele teria perdido a maior chance de sua vida. Nando se apavorou.

Ele olhou em seu relógio e o ponteiro dos segundos, lhe pareceu estar andando mais depressa do que o normal. Seu coração começou a bater mais forte enquanto desesperadamente, ele tentava decidir o que pedir. Um carro importado? Uma mansão? Um avião? Não! Uma empresa aérea! Quem sabe uma rede de Hotéis? Um trono num páis dos emirados Àrabes? Mas, e se ele pedisse muito dinheiro? Com toda a grana ele poderia comprar tudo que quisesse! Tudo aquilo com que sonhou durante toda a sua vida e não pode ter! Um quinquilhão? Um milhão de quinquilhões? Mas ao mesmo tempo ele achava que pedir dinheiro seria uma grande tolice! Sua mente trabalhava num ritmo frenético, e a fadinha, tentando apressa-lo por medo de não poder lhe conceder o pedido, disse para ele se apressar e resolver de uma vez por todas! Nando, sentindo-se acuado e pressionado, não conseguia se decidir por nada. A pequenina quando só faltavam apenas 10 segundos para acabar o tempo, começou uma contagem regressiva ,e o coração de Nando naquele instante, já estava quase saindo pela sua boca. 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4... Tem que ser agora! Como um raio fuliminante, finalmente as palavras saíram da boca de Nando. Ele disse que queria outra fadinha igual a ela! PUFFFFFFF!!!!!!! A fadinha desapareceu no ar em meio a uma nuvem de fumaça e no mesmo lugar onde ela estava flutuando quando desapareceu, surgiu uma outra, exatamente igual a ela.

Nando, ainda meio desconfiado, a principio achou que poderia ser a mesma, afinal, ele ainda não estava totalmente convencido daquela situação. Contudo, a nova fadinha, cujo nome também era Esmeralda, começou a falar e ele ouviu toda a ladainha de novo. Então, ele pensou que se fosse a mesma, ela teria continuado a falar com ele, do ponto onde ela havia parado entes de desaparecer. Não! Definitivamente ela não era a mesma. A que estava bem na sua frente agora, estava repetindo tudo que ele havia ouvido antes da outra que desapareceu. Naquele momento, ouvindo ela falar, mais uma vez ele estava sentindo-se pressionado a resolver o que pedir, e rápido! Ela o estava apressando e ele teria que resolver qual seria seu pedido, em muito pouco tempo! Que injustiça! Num momento como aquele, tão cheio de magia! Talvez até mesmo, aquele fosse o único e último de sua vida! Ele decididamente precisava de mais tempo! Porque ele deveria se apressar e correr o risco de fazer o pedido errado, e depois sofrer as conseqüências disto?

A fadinha estava ficando cada vez mais impaciente. Nando pensava e pensava, mas não conseguia se resolver por nada. E se ele pedisse uma frota de navios de cruzeiro? Uma companhia de petróleo? Uma Ferrari quem sabe? Saúde? Amor? Um aperto enorme em seu peito começou a lhe incomodar, e aquele aperto, ele já conhecia muito bem. Porque era tão difícil escolher? Porque não conseguia decidir? Qual seria o motivo pelo qual ele estava se sentindo tão mal por dentro? Porque sua mente estava bloqueada naquele instante tão especial? Ele não conseguia controlar seus pensamentos. Algo muito mais poderoso do que seu poder de raciocínio o estava impedindo de decidir. Era como se ele tivesse sido vitima de um feitiço maléfico, do qual ele não podia se livrar. Porém, a nova fadinha, mais decidida a ajudar do que a outra, ansiosa por ve-lo sair do sufoco em que estava a sua vida, antes de começar a contagem regressiva, como a anterior havia feito, disse a ele, que no ultimo momento, ele sempre poderia optar por pedir outra fadinha como ela, e assim, ganhar tempo para pensar melhor, e decidir depois. Mas agindo assim, protelando sua decisão, deixando que o medo e a insegurança o impeçam de enxergar o que realmente quer em sua vida, ele nunca mais viveria em paz, e sofreria, para todo o sempre, a mercê do feitiço da indecisão!

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