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Contos-->A MÃE NATUREZA -- 27/03/2009 - 00:07 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dudu estava jogando em seu vídeo game, Resident Evil 4. Naquele momento, ele vivia as emoções do personagem principal do game e de repente, El Salvador, derruba com os pés a porta que dá acesso ao corredor onde esta Leon Scoot Kennedy o mocinho da trama. El Salvador, um dos grandes vilões do jogo, após derrubar a porta, empunha uma ameaçadora serra elétrica e parte para cima de Leon. Dudú nem pisca seus olhos. Ele tem que controlar com o Joystick o Leon, que precisa fazer de tudo para derrotar El Salvador. A tarefa de Dudu não era muito fácil, pois o ardiloso personagem do mal, era muito astuto em seus ataques. Desde que chegou da escola, horas se passaram e a disputa era acirrada entre os personagens. O menino após tanto tempo em frente à televisão, vivendo o stress e as emoções da batalha travada no game, já estava com os olhos vermelhos, suas vistas ardiam e a fome e o sono, finalmente o derrotaram. Ele se levantou da cadeira onde estava jogando, se espreguiçou, na tentativa de minimizar as dores e o cansaço físico, causado pelo tempo e pela postura em que ele ficou enquanto estava jogando. Dudu caminhou pelo corredor até a cozinha, abriu a geladeira, pegou um copo de leite, colocou na mesa onde sua mãe havia deixado um pacote de bolachas recheadas que ele adorava, isto porque não almoçou, nem tocou na comida que sua mãe havia deixado pronta para ele. Era só esquentar no micro-ondas, mas ele não quis perder tempo, tinha que se empenhar no jogo, e preferiu o vídeo game. Enquanto ele tomava seu lanche, ele pensava em como passar por aquela parte do jogo, porque nela havia uma espécie de quebra cabeças que ele tinha que resolver.

Ele não pensava em outra coisa senão no jogo e apesar de seu corpo dar sinais de exaustão, através das dores que estava sentindo, ele não desistia de encontrar a solução. Já eram quase oito horas da noite quando ele foi se deitar. Sua mãe, ainda não havia chegado do trabalho que ficava do outro lado da cidade. Mal se deitou e já adormeceu. Em certo momento, mesmo dormindo, ele sentiu como se alguém o estivesse beijando no rosto. Virou-se para o outro lado, ajeitou o travesseiro e continuou a dormir. Contudo, seu sono naquela noite, não foi como nos outros dias, porque nos outros dias, enquanto ele dormia, terríveis pesadelos tomavam conta de sua mente. Neles, ele vivia as batalhas, vitórias e derrotas dos personagens de seu jogo favorito. Quando amanhecia, ele estava mais cansado do que quando foi dormir na noite anterior. Mas naquela noite, tudo foi diferente. Na parede de seu quarto, havia um quadro enorme, com uma moldura muito bonita que tomava quase toda a parede e ficava pendurado acima de um aparador onde ele colocava suas coleções de miniaturas. No quadro havia uma paisagem muito linda. Nela podia se ver um rio de águas cristalinas, que corria por entre um bosque, rumo a um horizonte distante indo desaguar num oceano e em suas margens, haviam lindas flores crescendo na grama verde, uma visão de encher os olhos e fazer massagem no coração de qualquer um. Em um determinado momento, Dudu começou a sonhar e em seu sonho, ele havia aberto os olhos e sentada ao lado de sua cama, estava uma linda mulher. Seus cabelos loiros eram longos e caiam sobre seus ombros. Ela era uma visão maravilhosa. Em seu rosto havia um sorriso doce e em seu olhar um brilho estranho, mas que inspirava paz e confiança. Seu vestido, lindo e esvoaçante, era branco, com um suave tom de verde em degradê que descia até seus pés.Dudu ficou olhando aquela mulher sem dizer uma palavra. Ele estava extasiado com tanta beleza, com tanto encanto e de repente, ela se levantou estendeu-lhe a mão e pediu que viesse com ele, até onde o quadro estava pendurado. Lá, ela tocou o quadro com as mãos e de repente tudo que havia nele pareceu ter movimento.

O sol brilhava entre as arvores nas margens do rio, pássaros voavam de um lado para o outro. Era possível ver suas sombras passarem enquanto eles voavam. Lindas borboletas sobrevoavam as flores, algumas pousavam, outras se juntavam com as demais em revoada. Haviam borboletas de todas as cores. Ele nunca tinha visto nada igual. Tudo na paisagem ganhou movimento, ganhou vida. A linda mulher fez sinal para que ele subisse com ela no aparador e com um movimento, ela o colocou dentro do quadro que agora, era como se fosse uma janela aberta, uma passagem que dava em outro mundo bem diferente daquele que ele conhecia em seu dia a dia. Sentindo firmeza em seus pés quando pisou no chão dentro do quadro, ele correu para a beira do rio, tirou os sapatos e pisou na água fresca e sentiu uma sensação tão deliciosa e intensa que ele nunca havia imaginado que iria sentir. Era como se uma energia desconhecida e revigorante, penetrasse nele através de seus pés e aquilo, o fez se sentir bem, como nunca se sentiu antes em toda a sua vida. Ancorado às margens do rio, havia um barquinho, ele era branco, com uma lista vermelha em suas laterais e quando Dudu o viu, não pensou duas vezes. Correu em sua direção, entrou dentro dele e olhou admirado as velas içadas e balançando ao vento. Elas eram de um branco, que à luz daquele sol maravilhoso, brilhava como prata. O garoto soltou as amarras que seguravam o barquinho nas margens do rio e eles se foram, navegando lentamente rio abaixo.

Durante a viagem, eles passaram por lugares lindos, nunca dantes imaginados por Dudu. Atrás deles, naquelas águas tão claras, tanto que era possível se ver o fundo do rio, seguia um cardume de peixes com escamas prateadas e douradas. Eles pulavam de vez em quando para fora d`água, espirando em Dudu quando caiam de volta nela. Mais atrás, também seguia o barquinho seis cisnes brancos, três de cada lado da margem, como se fosse uma guarda real, para garantir a tranqüilidade da viagem deles. Dudu maravilhado com aquilo tudo, sentiu-se como um príncipe sendo reverenciado por uma escolta de gala, no mais alto estilo. Seu sonho seguiu por noite adentro e durante toda a sua viagem naquele barquinho, ele viu coisas de que ele nunca tomou conhecimento. Seus pais sempre trabalharam fora e desde bem pequenino, sempre ficou aos cuidados de babás que cuidaram dele até certo ponto de sua vida, mas quando já tinha idade suficiente, começou a ir e vir sozinho da escola. Quando chegava em casa, tomava seu banho, aquecia sua comida, almoçava, fazia suas lições de casa e nunca teve tempo de brincar com outras crianças de sua idade. Assim sendo, ele desconhecia tudo que era comum às crianças de sua idade, não conhecia brincadeiras de criança, não sabia nada sobre os jogos infantis. Lá, nas margens daquele rio maravilhoso, cheio de vida, cheio de cor, muitas crianças brincavam juntas. Elas sorriam e gritavam com alegria e aquilo tudo, chamou muito a sua atenção.

Curioso, ele ancorou o barquinho e desceu dele, caminhando em direção a elas. Ele precisava saber o porque de tanta alegria, de tanta agitação e movimentação entre aquelas crianças. Afinal, as crianças tinham coisas melhores para serem feitas. Onde será que estavam seus vídeo games, seus computadores, seus jogos favoritos da Internet? Quando ele conseguiu se aproximar e falar com uma das crianças, perguntou a ela a causa daquela algazarra toda. Ela disse a ele, que era hora de brincarem juntos, que já tinham feito suas lições de casa e nada mais justo, do que suas mães os liberarem para sair de casa e se juntarem aos outros para brincar nos jardins à beira do rio. Ele achou tudo aquilo muito esquisito. Não podia compreender o porque daquele comportamento, afinal, não havia coisa mais excitante para ele do que jogar vídeo game. Foi ai que uma linda garotinha que se parecia muito com uma de suas colegas de escola se aproximou e perguntou a ele, se queria brincar. Ele não sabia o que dizer. Ele conhecia todas as regras para vencer mais facilmente todos os mestres, como economizar munições, como aumentar o tempo dos personagens através de resgate de objetos escondidos estrategicamente em lugares de difícil acesso, mas brincar com aquelas crianças, era uma tarefa impossível!

Todos à sua volta, brincavam de jogos de que ele nunca tinha ouvido falar antes. Ele não conhecia suas regras, nem sabia como proceder para participar. Ficou parado, sem ação. Era como se o chão estivesse se abrindo em baixo dos seus pés e ele fosse cair num buraco sem fundo. O que aquelas crianças iriam pensar dele? Qual a desculpa que ele iria dar, para dizer a eles que não iria querer participar? Que ele não sabia como brincar? A linda garotinha, percebendo sua relutância, sem que ele precisasse dizer nada, pegou gentilmente em sua mão e pediu para que ele fosse com ela. Os dois sentaram-se debaixo de uma árvore e ela começou a contar a ele, como eram os jogos, como se fazia para brincar em cada um deles. Foi então que Dudu veio a saber da existência pela primeira vez em sua vida, da Amarelinha, do Esconde-esconde, do Pega-pega, da Queimada, da Batata quente e muitos outros jogos e brincadeiras, que a menina detalhou a ele com precisão. Ela ensinou a ele todas as regras de todas as brincadeiras. Ele compreendeu cheio de emoção, a importância e o significado de se brincar como aquelas crianças brincavam, de ter os amigos sempre ao seu lado, participando de sua vida em todos os momentos e aquilo tudo, de uma forma que ele jamais imaginou, tocou fundo o seu coraçãozinho de menino e com profundo sentimento, uma lágrima rolou de seus olhos. A menina sentindo a emoção de Dudu naquele momento, aproximou-se dele e deu lhe um beijo no rosto e com a mão, ela enxugou-lhe a lágrima que escorria, com um sorriso doce em seus lábios e muito carinho em seu olhar.

Ela se levantou estendendo a ele sua mão, o ajudou a se levantar e os dois saíram correndo em direção às outras crianças e foram brincar. Durante boa parte de seu sonho, Dudu brincou como nunca em sua vida. Ele correu tanto, gritou tanto, sorriu tanto, que estava exausto, mas em nenhum momento, ele sentiu dores em seu corpo, nem seus olhos arderem, muito pelo contrário. Era como se uma nova e poderosa energia tivesse tomado conta dele por inteiro, de sua mente, ele estava feliz e quando eles pararam um pouco para descansar, todos se sentaram juntos embaixo da mesma árvore e ficaram lá conversando, contando piadas e estórias que haviam ouvido de seus pais e seus avós. Enquanto Dudu ouvia as risadas das outras crianças, ele ouviu um som como se fosse um sino tocando uma música linda canção e perguntou aos outros se a estavam ouvindo também. Todas crianças tentaram ouvir, mas não conseguiram. Disseram que ele tinha se enganado, que nem mesmo havia um sino nas redondezas, que ele deveria ter se enganado. O menino não disse, mas ele ouviu novamente o sino, mas agora ele parecia tocar dentro de sua mente, de seu coração e a musica o envolvia por inteiro, com seus acordes mágicos e encantadores. Ouvindo aquela musica linda, ele encostou-se no troco da arvore e num instante adormeceu. Ainda sonhando, mais uma vez ele sentiu como se alguém o estivesse beijando no rosto e sentindo isto ele acordou. Quando ele abriu os olhos, desta vez era sua mãe que estava sentada ao seu lado em sua cama.

Havia amanhecido e ela disse a ele que devia se levantar, escovar seus dentes, tomar um banho e se arrumar para ir à escola. Disse também que quando ele voltasse, se terminasse de fazer as lições de casa ainda antes do anoitecer, poderia jogar um pouco de vídeo game, até a hora do jantar. Dudu olhou nos olhos de sua mãe e com medo de receber um não, pediu a ela para brincar no quintal e ainda se poderia chamar alguns meninos para brincar com ele também. Sua mãe atarefada como sempre, disse que não havia problemas, mas se ele preferisse e ela achava melhor, ele poderia chamar os meninos para jogar vídeo game em seu quarto com ele. O menino ficou triste com a falta de importância que sua mãe deu ao seu pedido, mas feliz por não ter recebido um não. Naquela tarde, ele e todos os meninos da rua se juntaram para brincar, Dudu chamou a todos seus vizinhos até o quintal de sua casa e ensinou a um por um, a brincar de Amarelinha, de Esconde-esconde, de Pega-pega, de Queimada, de Batata quente, além de muitas outras brincadeiras e jogos que ele aprendeu em seu sonho. As pessoas que passavam e viam a criançada em meio a risos e gritos de alegria, achavam aquilo tudo muito estranho, fora do normal. Elas achavam que aquelas crianças não deveriam estar ali, que aquilo não podia acontecer nos dias de hoje. Comentavam umas comas outras que os pais daquelas crianças precisavam de orientação psicológica, porque brincar livres e soltas na rua, todos juntos do jeito que estavam, era loucura e que melhor seria, se ficassem em casa, onde estariam seguras, jogando vídeo game o dia inteiro e alienadas, sobre tudo mais em suas vidas, mesmo com dores pelo corpo todo pela postura em que ficariam jogando vídeo game e isoladas do mundo e da vida.

Em suas mentes de adultos, ocupados com seus afazeres e obrigações diárias, cegos pelo seu desejo, e obstinação de alcançar seus objetivos materiais e de se manterem a salvo da violência na cidade grande, para aquelas pessoas que os viam admiradas, certo mesmo seria que todas elas estivessem presas dentro de casa, a salvo dos perigos do mundo, tentando decifrar os enigmas e códigos, para acumular pontos e mudar de fase nos jogos de vídeo game. Afinal os tempos eram outros, o mundo havia mudado, as pessoas também, mas desde aquele sonho que ele teve naquela noite Dudu nunca mais foi o mesmo e sempre arranjava um jeito de trazer mais um amiguinho para sua turma. Era só ele ouvir dizer que em algum lugar de seu bairro havia um menino trancado em casa tentando desesperadamente derrotar os vilões virtuais, que ele não descansava enquanto não conseguia fazer com que ele conhecesse as brincadeiras que ele aprendeu e de que tanto gostava. O tempo passou, Dudu cresceu, tornou-se um homem inteligente, capaz, sensível à beleza do mundo e da vida, tornando-se diretor presidente de uma grande multi-nacional, através da qual ele pode fazer muito pela proteção à natureza e o meio ambiente, assim como teve a chance de fazer uma conscientização efetiva da população, sobre a importância de se dar o devido valor à natureza, em todo seu esplendor.

Hoje, após tantos anos do que aconteceu com ele em um sonho quando era ainda um menino, Dr. Eduardo, aos 54 anos de idade, sentado em sua cadeira, na sala da presidência e que dá vista para o parque da cidade, pensa nos dois beijos que recebeu naquela noite em que teve aquele sonho, que mudou totalmente a sua vida. Ele sente em seu coração, que aqueles beijos, o de antes de ele começar a sonhar, e o de pouco antes dele acordar, foram dados a ele, por ninguém menos, do que pela Mãe Natureza...

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