PÃO PARA QUEM TEM FOME
maria do socorro cardoso xavier
Difícil é viver
mundo tão conturbado
hipocrisia, insensatez e omissão
obstáculos, chagas variadas
ideais acalentar?
de tanto querer viver, sem poder
seres evadem-se outro espaço
Sem saída, tentam o repouso eterno
petrificados com sofrimento, desilusão
guerra, violência, fome, miséria
Etiópia, guerras do oriente
subnutrição nordeste do Brasil
O destino de muitos, neste hospício infernal
presenciar com ressentimento a vida
tudo cinzento, sem encanto
ódio, matam, roubam, estupram
se aniquilam em vícios
Amor deturpado
deformam-se na promiscuidade
drogas e infortúnios tantos
sub mundo da marginalização
sem perspectivas, só maldição
Ao deus-dará, discriminados
dizem os elitistas:
é a escória social
Periferia, mocambo, favela, morro
casebre, beco enlameado
inundação, alagados
soterrados indefesos chão
migram errantes por habitação e pão
Do outro lado da urbe, os abastados
amplas mansões confortáveis
ignoram, omitem, tanta lama e podridão
aí bem próxima
direta ou indiretamente, todos responsáveis
são
temendo serem incomodados
fedorentos maltrapilhos
erguem muros bem altos
portão ferro cadeado
negam migalhas, pedaço seco de pão
sacodem ao lixo
Assim continua o mundo da contradição
Uns com tanto, maioria sem nada
paradoxos abomináveis
massa amorfa, bóias frias, lumpen-proletariado
classe média desmascarada
esperando redenção
Muitos vão morrendo de fome
outros no pranto, da revolta, ingratidão
alienados bobos necessários
sucumbem lentamente
Pequena minoria aqui, acolá
ainda têm fé, coragem de batalhar
contempla, enxerga as belezas do universo
feita para todos nós
Iluminados de tênue esperança
É preciso viver
matar a fome, sede, vestir, morar
sair do marasmo, do medo
reivindicar e protestar
contra os males do terceiro mundo
tentar os erros consertar
Dialética, logos e praxis
extirpar as raízes do mal
comida e pão para os que têm fome
passo inadiável, primordial
antes de qualquer filosofar...