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Contos-->UMA PROFESSORA, UM FUNERAL E A FORÇA... -- 27/03/2009 - 23:59 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Às vezes ir à escola era como um castigo, porque eu não gostava de matemática e algumas vezes por semana tínhamos duas aulas seguidas desta matéria, além de outras coisas que estavam incomodando a mim e aos meus colegas de classe e nos desmotivando tanto, que nossa professora preocupada conosco e com nosso rendimento, começou a pensar em uma maneira efetiva de nos ajudar. Certo dia, após pensar em muitas opções para fazer com que nós todos nos motivássemos e todo o trabalho de ensino que ela havia preparado com tanto carinho fosse bem aproveitado por nós, ela decidiu fazer um trabalho diferente, algo que pudesse mostrar o que cada um de nós sentia, quando estávamos em sala de aula.

Éramos em 32 alunos e ela levou de casa, 32 folhas de papel com nossos nomes escritos em cada uma onde havia o seguinte texto:

“Preencha todas as linhas desta folha, frente e verso, escrevendo em cada linha algo que lhe desagrada no seu dia a dia usando a frase “Eu não posso” e quando terminar escreva local e data na ultima linha e sem dobrar, coloque sua folha preenchida na caixa de papelão em cima da mesa da professora.”

Lembro-me que ficamos todos confusos, sem saber exatamente o que escrever, principalmente usando a frase “Eu não posso”, mas aos poucos cada um de nós sem exceção começou a escrever e logo nossas folhas iam sendo preenchidas com inúmeras coisas que nos faziam mal e que envolviam esta frase. Eu me lembro de ter escrito muitas coisas e meu colega de carteira também e mesmo de rabo de olho eu podia ver que todo mundo tinha muito a dizer sobre o tema e ele nos absorvia de tal maneira que nossa concentração no que estávamos fazendo era total.

Dentre as muitas coisas que eu escrevi em minha folha estavam:

Eu não posso aprender matemática.

Eu não posso manter meu material organizado.

Eu não posso fazer com que o Marquinhos seja meu amigo.

Eu não posso deixar de comer muitos doces.

E entre tantos eu não posso, cada um de nós poderia certamente preencher dezenas e dezenas de folhas usando a frase “Eu não posso!” e ainda faltariam muitas coisas a serem escritas. Quando todos nós terminamos de preencher nossas folhas e colocamos na caixa de papelão que estava sobre a mesa de nossa professora, ela nos disse que no lugar da aula de educação física, nós faríamos uma atividade diferente e todos ficamos curiosos, querendo que a hora da aula de física chegasse logo. Ao chegar a hora, nossa professora, com a caixa de papelão nos braços, cheia de nossas folhas preenchidas com o tema “Eu não posso!”, pediu que todos nós a seguíssemos em fila até o pátio da escola e de lá fomos para a área do fundo do jardim, para um lugar ao lado de uma arvore, onde haviam varias pequenas pás de jardineiro e mostrando um lugar especifico ela nos disse para cavar um buraco do tamanho da caixa de papelão, o que fizemos, cada um pouco até estar no tamanho e profundidade que ela desejava.

Todos ficamos sem saber o que pensar, afinal, era simples compreender que ela queria colocar a caixa com nossas folhas no buraco que iríamos cavar, mas não era possível a gente entender o porque disto, afinal se enterrássemos nossos trabalhos de classe, sem que ela visse e corrigisse cada um, não teria sentido termos feito tudo com tanta atenção. Contudo, como todo nós ajudamos, logo o buraco estava cavado e nossa professora colocou nele a caixa de papelão já tampada, contendo nela todas as nossas folhas e nenhum de nós deixou de fixar os olhos no que ela estava fazendo, sem compreender o que era tudo aquilo.

Após ter colocado a caixa nele, ela nos pediu para ficarmos todos juntos em circulo, em volta do buraco que cavamos com a caixa de papelão colocada no fundo dele, dizendo que aquele momento era um dos momentos mais importantes de nossas vidas e que pela importância, deveríamos todos nos dar as mãos, fechar os olhos, de cabeça baixa, como numa oração e ouvir as palavras que ela iria dizer naquele instante com muita atenção e quando ela começou a falar, a emoção que havia em sua voz, eu jamais vou esquecer...

Alunos queridos, hoje estamos todos aqui reunidos, em memória do “Eu não posso”.

Enquanto ele estava conosco neste mundo, ele tocou a vida de todos nós sem exceção, alguns certamente, muito mais do que os outros. Seu nome infelizmente tem sido falado em todos os lugares públicos, escolas, hospitais, prefeituras, no congresso nacional, nas igrejas e em nossas casas. Neste momento nós estamos provendo ao “ Eu não posso” um local para seu ultimo descanso, seu tumulo, onde será enterrado para sempre e sua partida de nossas vidas é definitiva.

Ele deixa entre nós, seus irmãos e irmã, “Eu posso”, “Eu vou” e “Eu faço”.

Eles não são tão bem conhecidos como seu famoso irmão e certamente não tão fortes quanto ele, mas poderão ser no futuro com nossa ajuda.

Quem sabe um dia, eles façam mesmo a grande diferença em nosso mundo, tão carente e necessitado de esperanças e positividade.

Que “ Eu não posso” descanse em paz e que todos nós aqui presentes, sigamos em frente, livres de suas lembranças e negatividade, rumo a um futuro muito melhor.

Amem!

Enquanto eu ouvia de olhos fechados tudo que nossa professora nos dizia naquele momento mágico e sublime, eu percebi que nenhum de nós jamais esqueceria aquele dia, nem mesmo uma única palavra ali proferida e que nossas vidas estavam definitivamente mudadas, graças a ela, que além de nossa professora, era nossa amiga, nossa mãe e tinha um imenso amor por cada um de nós e pelo que havia se proposto a fazer na vida quando escolheu ser uma professora. O que aconteceu naquele dia conosco, foi uma atividade simbólica, mas como uma metáfora da vida, foi uma experiência que nos atingiu o lado direito do cérebro, fixando seus propósitos em nosso consciente e sub consciente para sempre.

Ela em toda sua sabedoria, movida pelo amor que tinha pelo seu trabalho e pelos seus alunos, sabia que escrevendo os significados de tantos “Eu não posso” e depois enterrando-os numa cerimônia igual ao que acontece quando morre alguém que conhecemos, usando as palavras que ela usou para descrever as memórias do falecido “Eu não posso”, ela iria criar em nossas mentes e corações sentimentos muito fortes, despertando nossas atenções aos parentes que o “Eu não posso” deixou entre nós.

Dna Nair deixou durante o resto do ano letivo um cartaz de cartolina pendurado em nossa sala, onde havia o desenho de uma pedra de tumulo que dizia: Aqui jaz “Eu não posso” e se acontecia de algum de nós fraquejar e esquecer da morte do “Eu não posso”, ela apontava para o cartaz e dizia...

Você esqueceu meu querido, de que “Eu não posso” já morreu?

Há dentro de nós um poder imensurável, mas é preciso que tenhamos conhecimento deste fato e às vezes, é preciso que alguém nos faça enxergar a força que esta adormecida em nossas mentes, em nossos corações e tivemos sorte de termos uma Dna. Nair em nossas vidas.



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