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Contos-->UMA JANELA PARA A ALMA -- 28/03/2009 - 00:32 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há muito tempo atrás, nascia bem no coração da capital paulista, mais precisamente no bairro do Brás, um menininho que logo ao sair da maternidade foi levado para morar num lugar chamado Várzea do Palácio, onde hoje é o Parque Ecológico do Tietê, onde moravam seus pais.

Seus pais viviam e trabalhavam em uma Olaria, antiga fábrica de tijolos de barro, onde não havia luz elétrica, nem água encanada e vida de todos que lá viviam era muito rústica em todos os sentidos.

Quase toda a alimentação que eles consumiam, era produzida no local em hortas imensas onde eram plantados vários tipos de vegetais e havia criação de diversas espécies de aves e animais para garantir o consumo de carnes para todos, inclusive vacas que produziam leite suficiente para a comunidade.

Havia muitos patos, gansos, galinhas, perus, cavalos, vacas, enfim eram muitos os animais que o cercavam e eram eles seu entretenimento, sua distração.

Assim o tempo foi passando e aquele bebê foi se tornando um garotinho e sempre rodeado pelos animais que amava, mas sempre sem nenhuma atenção por parte de seus pais.

Sua mãe sempre muito atarefada, além de ajudar a amassar o barro com os pés o dia todo, ainda tinha que cuidar da casa e do marido, mal sentava ou deitava em algum lugar já adormecia instantaneamente, pois sua vida era só de sacrifícios, nunca havia nenhum momento de pausa para descanso ou lazer.

Seu pai levantava às 4:00h da manhã para acender ou limpar a fornalha para nova queima de tijolos e neste ritmo ia até às 10:00h da noite sem parar e jamais tinha tempo para brincar ou conversar com o garotinho que já tinha então quatro anos de idade.

A vida dura que eles levavam, gerava conflitos entre eles e o garotinho ouvia assustado seus pais gritando ou falando em voz alta, sua reação imediata era esconder-se onde ele pudesse até que tudo se acalmasse, pois tinha muito medo de tudo aquilo, não podia compreender o porque das discussões que com o tempo se transformaram de agressões verbais para agressões físicas entre eles.

Ao longo do tempo, seu pai que jamais havia falado com ele, jamais havia dito qualquer palavra demonstrasse que gostava dele de alguma forma, começou a lhe bater para repreende-lo por quaisquer motivos, ele nem mesmo sabia porque estava apanhando.

As surras foram aumentando e se tornaram espancamentos, tanto que o garotinho tremia da cabeça aos pés quando percebia que seu pai estava chagando em casa, seu terror crescia dia a dia e as violências eram cada vez mais freqüentes e o que mais doía, mais do que qualquer pancada, é que sua mãe não fazia nada para impedir seu pai e isto ele não conseguia compreender, tentava, mas em vão e ai sua dor e tristeza pareciam sem fim.

Aos cinco anos de idade, o garotinho ganhou um gatinho de uma tia que morava muito longe e trouxe o bichinho em uma de suas visitas à família.

Logo na chagada, quando sua tia lhe entregou o bichinho para admiração de todos, houve uma aceitação imediata e parecia que o gatinho procurava proteção nos braços do garotinho, parecia que ele sabia que nele podia confiar sua vida.

O tempo foi passando e os dois foram crescendo juntos, não ficavam longe um do outro por muito tempo e parecia que um dependia do outro para viver.

Os espancamentos continuavam e o martírio do garotinho parecia infindável, parecia que a qualquer momento ele iria ser morto com um golpe fatal.

Todas as vezes que o gatinho via seu pai chegando, seus pelos ficavam arrepiados e seu rabo ficava em pé como se soubesse que algo errado iria acontecer.

Do nada vinham as pancadas e muitas vezes ele não sabia de onde ou o que o havia atingido, apenas sentia a dor física e dor no seu coraçãozinho magoado com tanto sofrimento e tanto desprezo.

O garotinho e o gatinho cada vez mais ficaram amigos, fieis um ao outro e sempre que o pai batia no menino, o gatinho se aproximava, ficava olhando fixamente para o menino em prantos e em seguida miava, como se quisesse dizer que ele estava ali, que ele se condoia com o sofrimento do garotinho.

Muitas vezes o gatinho pulava para os braços dele e ficava roçando sua cabecinha no rostinho molhado de lágrimas, até que de alguma forma o coraçãozinho do garotinho percebesse que pelo menos alguém se importava com ele e ai se acalmava um pouco.

Enraivecido com o comportamento do garotinho em relação ao gato seu pai ameaçou várias vezes de matar o bichinho o que levava o garoto ao pânico total a ponto de pensar em fugir dali, mesmo que fosse para morar no meio do mato, sem comida, sem casa, sem proteção, mas pelo menos imaginava que poderia estar em segurança e salvando a vida de seu único e querido amigo.

Um dia após levar uma surra muito grande o menino perdeu os sentidos e ficou largado no chão da sala como se fosse uma coisa qualquer e sem importância, seu sangue escorria de sua cabeça pela pancada violenta que havia levado e na havia ninguém para ajuda-lo, ninguém para socorre-lo.

O gatinho que estava escondido embaixo da cama, quando percebeu que poderia sair em segurança, correu para o menino, roçou-se nele, miou varias vezes, mas não houve resposta.

O animalzinho de alguma forma, sentiu que algo estava muito errado e começou a miar como se estivesse ficando louco, até que alguém incomodado foi ver o que estava acontecendo com o gato e encontrou o menino desacordado e ai pediu ajuda e o levaram ao hospital.

Após dias nos hospital o menino se recuperou e voltou para casa e durante o tempo em que ele esteve fora, o gatinho não saiu do lugar onde ele estava caído, ficava lá como se o esperasse, como se a qualquer momento ele fosse entrar pela porta e abraça-lo como sempre fazia.

Quando o garoto entrou em casa o gato correu e se atirou em seus braços, dando um pulo do chão diretamente para peito do menino que o abraçou e começou a chorar, pois ele sabia que o seu gatinho, além de ser seu único e fiel amigo, havia salvado sua vida e por isto ele lhe era grato para o resto de seus dias.

O pai do menino, enfurecido, durante a madrugada capturou o gatinho colocou em um saco e o levou embora para um bairro muito distante de onde ele não poderia voltar sozinho.

Quando o garoto acordou soube do fato e entrou em desespero, não podia de forma alguma entender porque havia tanto mal no coração de seu pai e sua dor foi tanta que nem mesmo conseguia chorar, apenas soluçava profundamente, incapaz de dizer uma única palavra.

Seu gatinho, seu amigo, aquele a quem devia a vida, o único que havia demonstrado amor e carinho por ele, tinha ido embora de uma vez por todas, para nunca mais voltar. Ele tinha perdido algo que só havia encontrado nos olhos daquele animalzinho, algo que buscava em vão sem encontrar em mais ninguem desde que começou a entender as coisas ao longo de seus poucos anos de vida :

UMA JANELA PARA A ALMA!

As surras e espancamentos um dia pararam, o garotinho cresceu, superou muitas fases difíceis, se transformou em um homem, aprendeu a viver, compreender e perdoar as pessoas, dar amor, carinho e atenção aos seus semelhantes, mas jamais esqueceu, nem nunca se esquecerá de seu único e verdadeiro amigo naquela infância tão sofrida, aquele que conseguia enxergar através de seus olhinhos felinos toda sua alma de criança, profundamente ferida e magoada.

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