Os tempos da pessoa - não digo homem - com orgulhosa honra e dignidade, dita pessoa de palavra, esbatem-se na minha memória, cerca de meio-século atrás. Para hoje em dia, no propósito de bem me fazer entender, proponho um ditado: cem chutos em cem pedras, noventa e nove mazelam o pé. Ora, caros Leitores, até as pedras endureceram.

No tempo decorrente, indivíduo que persista estabelecer seu comportamento cívico segundo a antiga cartilha, torna-se ridículo e de imediato começa a ser apodado de otário. Os espertalhões actuais, envolvidos na atmosfera tácita da corrupção que cada vez mais grassa sobre o tecido social dos povos, invadem o nosso quotidiano e intimidam quanto podem os derradeiros impulsos que estoicamente resistem. O "faz-de-conta" está implantado em toda a espécie de convivíos. As famílias mais conservadoras e cépticas à adopção do "deixa-avançar" estão actualmente à rasca para impor decência convivencial e colocar "stop" à contaminação dos filhos.

O crédito da qualidade pessoal passou definitivamente da palavra para o papel assinado que só vale sob sigla bancária e mesmo assim requere avalização especial. Uma pessoa rigorosamente honesta em sua postura não vale um chavo em face de um cheque que mencione cinco digítos.

Progressivamente, de rua em rua, as casas vão sistematicamente ficando engradadas, porque os seus moradores, ao perderem por completo a confiança na eficiência das autoridades encarregadas da vigilància, optam por bunquerizar-se para assegurar sua própria segurança.

Hoje, deveras e seja à hora que for, andar na rua sem tomada de precaução prévia, é um grave risco. Podemos, por causa de uma ninharia, ficar sem a vida ou inutilizados fisicamente para sempre, e, conforme se constata, a evidente ameaça cada vez mais é iminente e só nos desmontra que tende a galopar imparável.

As situações que aparentemente se apresentam com franco acesso pagam uma pipa de massa pela vigilància, recurso que se torna incomportável para a maioria dos cidadãos comuns. O negócio das empresas que se dedicam à protecção de bens e de pessoas vai de vento em popa. Vê-se gorilas e gorilões por todo o lado, grandes pedaços de gente que a gente normal, francamente, em nada se parecem.

Para onde vamos então nós? Para onde não sei e, para além de sinceramente lamentar, pouco também é problemática que muito me aflija Eu?... Se não parar já qui, pararei de certeza já ali adiante !...