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Poesias-->MARIA -- 17/07/2010 - 20:13 (Eloi Firmino de Melo) |
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Eloi Firmino de Melo: Maria
Maria era tão bonita
Mas tinha um choro escondido
Por ter plantado no peito
Um mar repleto de ausências.
Primeiro, o pai que se foi
Deixando um fruto no ventre;
Depois a mãe que partiu
Quando o fruto fez-se luz.
Maria era tão bonita
Entre as dobras do lençol
O amante brutamonte
Num jeito estranho de amar.
A mão plena de amargura
No rosto belo da moça,
Escrevendo com rudeza
Um mapa de cicatrizes.
Maria era tão bonita,
Lá no trabalho endeusada.
Mas uma bruma nos olhos
Deixava os sorrisos tristes;
Desperdiçava elogios,
Tornava frio os afagos,
Bem como a trama do assédio
No olho azul do patrão.
Maria estava bonita
Nas suas vestes de pássaro.
Voou da sua janela
Num vôo sem rumo e sem norte.
E a sombra fria da noite
Ia assustando os espaços
Que o seu destino traçava
Na relva tenra do pátio.
Maria estava bonita
Deitada na laje fria.
O corpo exposto à visita
Dos profissionais da área.
Nela a mão dos paramédicos
Encomendava os detalhes
Que compunham o relatório
Daquele desfecho trágico.
Ah como estava bonita
No sono eterno da lápide!
Nem se lembrava do pai,
Nem se lembrava da mãe.
E nem sequer enxergava
Meu lenço branco ensopado
Em duas fartas vertentes
De um rio quente de lágrimas.
Eloi Firmino de Melo, J.Pessoa/PB.
Qui, 15 de Julho de 2010 |
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