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Contos-->CADÊ MEU CHAPÉU? -- 30/03/2009 - 18:19 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CADÊ MEU CHAPÉU?


Numa região distante de vizinhos no nordeste, nós trabalhávamos arduamente com nossos pais. Cuidávamos dos animais, das lavouras e plantávamos de tudo um pouco. Nossa semana era domingo a domingo. Nos tempos difíceis de minha infância, as obrigações pareciam ser todas para mim porque eu era a mais velha dos seis irmãos.

Eu ajudava na roça, cozinhava, cuidava dos menores, dava banho e mamadeira para o bebê. Mamãe chegava cansada do trabalho. Ela tinha vontade de cair na cama e esquecer o mundo. Eu tinha que deixar a casa em ordem e com cinco pirralhos para cuidar. A responsabilidade em minhas mãos era enorme.

Papai era um homem de luta. Ordeiro e organizado, até parecia pacato. Ele procurou pelo martelo e pregos, não encontrou em seus lugares. Obviamente sobrava para mim, a gritaria começava:
_ Lucia...Lucia... Onde está o martelo? Eu já disse para não espalhar minhas ferramentas! Usem-nas, mas coloquem-nas no lugar.

Papai zeloso com seus pertences deixava tudo separado nas prateleiras. A noite passava o cadeado nas portas. Ele fazia isso se prevenindo para que ninguém retirasse alguma coisa de seu acervo. Vizinhos se queixavam que estavam sumindo galinhas, alimentos e ferramentas de seus sítios e meu pai ficou preocupado com o tal ladrão.

Alertava-nos para não atendermos desconhecidos. Caso notássemos estranhos rondando o nosso sítio, era para chamarmos papai bem rápido. Ele viria em minutos. Seu medo era deixar as crianças sozinhas. E se o ladrão, o tal moço fosse um estuprador, louco ou assassino? A mente de meu pai vivia em ebulição, minha mãe ficava nervosa, dizia:

_ Raimundo! Toma jeito. Você anda estressado, faz alarde por pouca coisa. Descanse. Pare de pensar bobagens. Você está assustando as crianças, isto não é bom para nós!

Meu pai respondeu para minha mãe:
_ Eu acho melhor ficarmos de olho! Se alguém tocar em um de meus filhos, irei atrás do safado até o inferno. Eu darei cabo de sua vida, te juro mulher.

Uma semana depois, papai voltava da roça todo molhado. Passou pelo portão da casa e deixou seu chapéu para secar em um palanque, pois tinha apanhado chuva no caminho. Ele não pretendia molhar o chão da cozinha e mais tarde recolheria o chapéu. Era a primeira vez que fazia isto, sempre deixava o chapéu na dispensa. Ele jantou sossegado, brincou com as crianças. Ele esqueceu que deixara o chapéu lá fora.

Antes de irem para cama se deitar, ele olhou o tempo, percebeu que ventava um pouco e estava nublado com pouca visibilidade. Papai notou um vulto em seu portão, e perguntou-lhe:
- O quê o senhor está querendo? Responda-me, por favor!
O homem ficou calado. Meu pai se irritou e perguntou-lhe pela segunda vez, não teve resposta alguma e achou que fosse um ladrão a espreitar sua casa. Com seus modos grosseiros, ele colocou todos em polvorosa. Nós corremos para um canto da cozinha, ficamos agachados com a mamãe. As crianças começaram a chorar. Meu pai ficava mais furioso a cada segundo. Ele foi até o quarto, apanhou sua cartucheira. Voltou para a porta armado e disse:
_ Agora este desgraçado vai se identificar ou lhe darei um tiro!!

Nós estávamos em pânico. Minha mãe se levantou, caminhou até a porta. Tentou observar o homem, tentando reconhecê-lo. Ela queria evitar uma tragédia, porque estava escuro. O homem estava de chapéu e assim não conseguiu distingui-lo. Meus pais olharam mais aguçadamente e o sujeito não arredou o pé. Meu pai falou ríspido com o homem, gritando:
_ Se você não se identificar, dou-lhe um tiro! Juro por Deus, não estou brincando! Quer responder por favor?

Papai notou que o chapéu fez um pequeno balanço, parecia um gesto de que não iria obedecer. Como estava apreensivo, ele não percebeu que o movimento foi feito pelo vento. Papai desesperado, não teve dúvidas, engatilhou a espingarda e falou:
_Vou contar até três. Se você permanecer aí? mando-lhe uma carga de chumbo na cara!!

E assim começou a contagem:
_ Um... dois... três....

Nós percebemos que o bandido era um homem de coragem e poderia nos atacar, acabar com a nossa família. Meu pai estava assustado, salvaria sua prole. Mataria o homem para nos defender. Ao pronunciar o último número, ergueu a arma, mirou na cabeça do bandido e disparou o tiro. O moço sumiu. Meu pai estava pálido, tremia como se fosse uma vara verde. Fechou a porta, botou todos para dormir e foi para a cama também, dizia:

_ Eu não quero saber quem é a pessoa. Amanhã veremos a cara do desgraçado!

Eu percebi o quanto meu pai estava nervoso e não queria demonstrar medo perante os filhos. A manhã chegou, todos se levantaram no horário costumeiro, vestiram-se. Papai foi pegar o chapéu na dispensa, só encontrou o prego na parede. Seu humor modificou na hora, começou a gritar, acordou as crianças, fez todos saírem à procura de seu chapéu. Ele não lembrou o que tinha feito no dia anterior. Perguntava para um e para outro:
_ Cadê meu chapéu? Quem o tirou daqui? Não quero desculpas. Quero que achem esse chapéu!

A impressão que tive não deixava dúvidas, as palmadas de papai iam correr solto em nossas costas. De repente sua esposa se lembrou do incidente e gritou:
_ Raimundo!! Pare com esta gritaria! Vai ver o homem que você acertou ontem, pode ser o que você esta procurando!!

Aquilo foi como se jogasse um balde de água fria em todos. Nós saímos em direção do portão e lá estava o pobre chapéu, estraçalhado por uma carga de chumbo. Papai ficou envergonhado, não sabia o que dizer para os filhos, mas as crianças não se intimidaram e olharam o estado em que ficou o famoso chapéu. Não teve outro jeito, a não ser, rirem juntos. Depois do episódio, papai teve que comprar um chapéu novo.

Passado o susto, voltamos para a velha rotina. O chapéu foi guardado como lembrança de um pai defendendo sua família, independente do que viria pela frente, um ladrão. O que ficou em nossa mente não foi o erro de meu pai sobre o chapéu famoso, mas o amor que transformou em coragem para nos defender com apenas sua pequena espingarda e seu próprio corpo se fosse necessário.
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