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Artigos-->TEATRO: UMA PAUSA PARA REFLEXÃO -- 22/12/2002 - 20:22 (Wilson Coêlho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há muito – precisamente 28 anos – se criou um movimento de teatro que, devido as circunstâncias e objetivos, se denominou "amador". Das circunstâncias, podemos levar em conta a situação política em que vivíamos no país sob o regime militar e a quase impossibilidade de qualquer forma de organização na sociedade civil sem que – com isso – pudéssemos soar como uma espécie de ameaça à nova "ordem" estabelecida. Dos objetivos, convém lembrar que queríamos um teatro que não servisse apenas de entretenimento ou ratificação dos valores burgueses e, que – ao mesmo tempo – possibilitasse o surgimento de novos grupos e manifestações artísticas que pudessem ser a expressão mais verdadeira em relação a diversidade de nossa cultura. Assim caminhamos por muitos anos até que atingimos um volume de mais de cinco mil grupos filiados às federações de Teatro Amador distribuídas ao longo de nosso país. Realizamos diversos festivais de grande importância em amplitude e participatividade, além de congressos e encontros que possibilitaram calorosas discussões e trocas de experiências tanto no campo artístico-teatral quanto no político-ideológico. É claro que, nestes mesmos encontros e festivais, pudemos nos conscientizar dos precários meios de produção que dispúnhamos para a realização de nossos trabalhos, bem como, o descaso dos governos para com o movimento e que, quando muito, a única relação do Estado para com o movimento de teatro amador era de caráter assistencial-paternalista. Resultado de uma série de encontros e discussões, muitos de nossos companheiros entenderam que uma estratégia possível para a tentativa de mudar este relacionamento seria a de "minar" o poder, ou seja, "ocuparmos espaços" dentro do governo nas instâncias de elaboração e execução de projetos para o teatro amador. Num primeiro momento, pareceu importante, quando ainda se podia considerar que essa nova política estivesse em fase experimental ou de adaptação, mas – num segundo momento – pudemos perceber que havíamos caído numa armadilha, pois o assento de companheiros nossos em conselhos e secretarias de Estado em nada alteraram na realidade do movimento e acabaram por legitimar a ralação diferenciada para com os amadores. Por um lado, havia uma extrema impotência de nossos companheiros, tanto nos conselhos quanto nas secretarias ou departamentos, considerando que estávamos pleiteando um projeto impossível de se realizar a partir de uma estrutura viciada e já montada sob outros princípios e outros objetivos estranhos aos nossos, além de estarmos referendando o que a burguesia entende por "democracia". E – por outro lado – esses companheiros passaram a ser, não os nossos "representantes" ocupando os espaços, mas – muito pelo contrário – propositalmente ou não, passaram a representar esse mesmo estado dentro de nosso movimento. Assim, acabavam tanto por justificar a inoperância do Estado quanto por se cumpliciar de inexistência de uma política cultural definida. É claro que nem todos tiraram proveito da situação em causa própria, mas é fato que enfraquecemos e esvaziamos as bases daquilo que era o nosso interesse primeiro: fazer teatro, fortalecer os grupos existentes e criar outros que pudessem integrar o movimento.

Noutro momento, sentimos a necessidade de estabelecer critérios ou inventar alguma coisa que pudesse definir a cara do movimento e ao mesmo tempo tentar uma injeção de ânimos aos teatreiros. Assim, depois de muitas discussões, encontros e desencontros, nasceu a tal "CARTA DO RIO DE JANEIRO", onde apregoava-se o "TEATRO INSURGENTE", propondo a pesquisa de linguagem, parceria com outros segmentos organizados da sociedade civil, tais como: sindicatos de trabalhadores, associações de moradores, MST e outras entidades que fossem afinadas com as nossas propostas de transformação social, além da valorização da cultura latino-americana. Outro fracasso. Muitos grupos se dissolveram, outros se desligaram do movimento e a maioria criticou essa nova "bandeira" como se fora uma coisa de outro mundo ou mesmo autoritária, mesmo que em todas as discussões que precederam o que se desencadeou na "CARTA DO RIO DE JANEIRO" tenham sido realizadas com a ampla participação de quase todas as Federações do país.

Bem, creio que não se pode negar a história, mas independente de todas as tentativas ou em virtude das mesmas, temos um fato real a ser analisado, ou seja, a situação atual e as condições de existência, bem como, suas possibilidades de resistência do movimento junto a todos os grupos que o compõe e os que poderão vir a se integrar. Por muitas vezes e em diferentes situações discutimos nossa relação com o Estado, o que para muitos parece uma mera repetição, mas é importante salientar que também é verdade que ainda vivemos numa sociedade dividida em classes e o fato novo é o projeto burguês de exclusão que paira em nossas relações. Se o Estado a serviço das classes dominantes mudou sua táticas de alijamento, temos também que reciclar as formas de luta para os que querem levar adiante este movimento.

Vamos brigar pelo nosso teatro fazendo teatro. Ele não precisa ser amador, paroquial, insurgente, profissional, etc. O teatro necessita do teatro que não carece de adjetivos, mas de um teatro que seja o substantivo e que sua substância seja composta pelo que é mais verdadeiro: a vida com todas as suas contradições.



"Não sou daqueles que acreditam que a civilização deva mudar para que o teatro mude; e acredito que o teatro, utilizado no seu sentido superior e o mais difícil possível, tem força para influir sobre o aspecto e sobre a formação das coisas". (Antonin Artaud, Marselha, 1896 – Ivry, 1948)



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