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Contos-->CERTO, POR LINHAS TORTAS -- 31/03/2009 - 21:04 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Separação...

Esta era a palavra que Luiz Carlos mais detestava no dicionário da língua Portuguesa, ele a considerava um verdadeiro pesadelo, pois alguns de seus amigos já haviam sofrido as conseqüências dela em suas vidas.

Toda a sua vida, ele sempre achou que tinha uma família perfeita, pois ele vivia junto a pais perfeitos, duas irmãs maravilhosas e um irmãozinho que ele amava muito.

Todos sempre viveram bem, em harmonia, mas nos últimos tempos, seus pais começaram a se desentender, a brigar, cada vez mais e mais...

Seu pai cada vez vivia mais tempo fora de casa, trabalhando até altas horas e então sem mais nem menos, lá estavam eles, sentados na sala, com seus pais dizendo a eles que tinham algo muito importante a ser dito.

Luiz Carlos começou a tremer e então ela foi pronunciada, a palavra "pesadelo", que sempre fez o estomago embrulhar, que tinha o poder de lhe causar náuseas e ela caiu devastadora sobre ele e seus irmãos, como o furacão Katrina, quando caiu sobre a cidade de New Orleans, sem dó nem piedade.

Ele, suas irmãs e seu irmãozinho, assustados, sem perceber, agarraram se uns aos outros e assim ficaram, até que o na anuncio da separação de seus pais terminasse.

Ele perguntou a seus pais se todas aquelas afirmações que haviam feito antes, de que isto nunca iria acontecer tinham sido algum tipo de brincadeira de 1º de abril, disse que ele não achava justo enganar as pessoas daquela maneira.

Sua mãe, com os olhos cheios de lágrimas, abraçou os filhos, disse que sentia muito, mas a realidade era aquela, teriam que se separar, não havia outra saída.

Luiz Carlos sentiu se traído, como eles podiam estar fazendo aquilo com os filhos e mais, ele desesperadamente queria saber o que eles haviam feito de errado, mais precisamente, o que ele havia feito.

Dona Lílian, mãe de Luiz Carlos, disse aos filhos que cuidaria deles, que teriam que mudar de casa, ir para longe de seu pai e ele percebeu que não mais haveria para ele a perfeita família como sempre imaginou, ele sentiu como se estivesse perdendo tudo, família, casa, pai, tudo que lhe era essencial na vida.

Não demorou muito e eles se mudaram para a casa de seus avós, de mala e cuia...

Lá eles passaram a viver apertados, num espaço que mal cabiam treis pessoas e tudo se apresentou a eles de forma diferente, tanto que às vezes, Luiz achava que mal havia espaço para um respirar.

Contudo, seus avós eram pessoas maravilhosas, os acolheram com todo amor, carinho e juntamente com suas tias que os visitavam regularmente sempre tentaram fazer com que todos se sentissem amados e queridos naquela casa.

O tempo passou, Luiz já não mais se sentia tão mal, já podia sentir em toda a sua plenitude, o carinho e atenção recebidos de seus avós e tias, era comum todos sentarem se na grande mesa da cozinha e conversar por longo tempo, seus avós perguntando como havia sido seu dia na escola, como ele e seus irmãos estavam se sentindo e Luiz percebeu que isto, não tinha preço, não podia se avaliado.

Todavia, ele ainda achava que tinha alguma culpa pela separação de seus pais e às vezes, deitado na cama, ele ficava imaginando as possibilidades sobre o que havia feito seus pais se separarem e acabava perguntado a si mesmo se tinha a maior culpa pelo acontecimento.

Um dia, ele foi atingido pela descoberta da verdade e ele nem mesmo estava mais tentando descobrir o motivo da separação deles, já havia se acostumado a ver seu pai de vez em quando, a viver com a mãe na casa dos avós, que o tratavam com amor e carinho e ele mesmo havia aprendido a distribuir seu amor a todos em partes iguais.

A verdade, o motivo real pela separação de seus pais foi porque o pai que ele sempre amou, respeitou e teve como modelo de homem era Gay.

Mais uma vez o chão desapareceu debaixo de seus pés, Luiz pensou naquele momento sobre o que iriam dizer seus amigos quando descobrissem, que ele seria humilhado, discriminado e fariam milhões de brincadeiras maldosas e chacotas a respeito de ter um pai homossexual.

Com o tempo ele viu que alguns realmente agiram assim, falando mal dele e de seu pai, mas muitos outros não, que nem sequer disseram a ele uma única palavra sobre o assunto, respeitando seus sentimentos e os de seu pai como deve ser, alem de que, muitos outros lhe disseram que compreendiam e sabiam como aceitar a condição de seu pai, pois era algo involuntário, natural, que não conheciam o sentido da palavra preconceito e que nesta vida nada acontece por acaso, tudo tem um motivo, uma finalidade.

Luiz foi aos poucos vendo quem eram seus verdadeiros amigos, vendo com quem ele realmente podia contar nos momentos mais difíceis da vida e assim,devagar, a vida retomou seu rumo.

Ele aprendeu que quem gostava realmente dele antes de tudo vir a tona, continuou a gostar dele depois e também que nem todo mundo é preconceituoso sobre as questões da homossexualidade, que seu pai Gay era uma pessoa com sentimentos e necessidades como qualquer ser humano tem, que tinha direito de ser feliz também, que tinha direito de ser ele mesmo, mesmo contra a vontade de alguns e nas visitas que seu pai fazia a eles, a cada oportunidade que tinha, ele foi se reaproximando de seu pai mais e mais, até que mais uma vez, se tornaram grandes amigos, grandes confidentes, tanto que seu pai chegou a chorar muitas vezes de felicidade, pelo filho maravilhoso que Deus lhe deu.

A vida tem muitos mistérios que não compreendemos e muitas vezes sofremos por nos recusarmos a compreende-los, mas aqueles que mantém a mente aberta, para realmente conhecer tudo aquilo que existe entre Céu e a Terra, sofrem menos, vivem mais felizes e de bem com o mundo e consigo mesmos.

Luiz Carlos teve consciência através do comportamento de seus verdadeiros amigos e de sua própria mente aberta e perceptiva, que ele sempre amou e iria amar toda sua família, porque de uma forma ou de outra, todos eles, seu pai, sua mãe, seus avós e seus tios sempre cuidaram dele, de suas irmãs e irmãozinho o melhor que puderam, que eles todos lhe deram o que todo ser humano precisa, amor e nada mais.

Eventualmente sua mãe, ele, suas irmãs e irmãozinho tiveram condições de se mudar para um apartamento só deles e o tempo foi passando, a vida sem duvida nenhuma trouxe a todos eles muitos momentos bons, alguns ruins, mas todos, sem exceção, sempre estiveram juntos, de uma forma ou de outra, até mesmo seu pai Gay, que nunca quis ficar sem vê-los, aquele que sempre fez e fará parte de suas vidas, unido a eles pelos laços do amor.

Tudo que Luiz Carlos teve que fazer foi redefinir seu conceito engraçado de família perfeita e compreender de uma vez por todas, que uma família perfeita, significa muito amor, suporte, significa dar, compartilhar, cuidar e que na verdade, ele sempre teve em todos os momentos, uma família perfeita, uma família que muitos queriam ter e não tem, aprendeu na expressão das palavras, o significado da frase “ Deus escreve certo por linhas tortas.”

Luiz Carlos hoje vive e deixa viver, ele aprendeu com a escola da vida, que nada é nem pode ser ignorado, que não podemos de forma alguma nos recusar a aceitar os fatos que ela nos apresenta, compreendeu que nossa felicidade e liberdade de ser felizes, depende deste conhecimento.
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