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Artigos-->ENQUANTO OS PROJETOS NÃO VÊM... -- 22/12/2002 - 20:31 (Wilson Coêlho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Escusado dizer que, mesmo na ausência de qualquer esforço reflexivo, acabamos por trazer de volta o velho jargão de que “seria cômico se não fosse trágico”. Diga-se de passagem, uma simples alusão ao percurso que antecede a eleição para os cargos de presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, nos deparamos com um verdadeiro desfile de hipocrisia, mesclada com estupidez, canalhice e... haja adjetivos para dar conta de muitos de “nossos” políticos! Não se trata de apenas estabelecer uma sentença, mas de construir alguns juízos de valor a partir de determinadas constatações naquilo que perpassa o “discurso” da maioria dos candidatos.

Há candidatos que – pela inexistência de projetos – optam por tentar imprimir a idéia de que merecem respeito simplesmente por terem uma origem simples. Mas o fato de terem nascido simples em nada os credencia a ocuparem os cargos a que pretendem, considerando que o elemento complicador não é o nascimento, mas – sim – aquilo que se faz depois de ter nascido, até porque o nascimento é uma facticidade, ou seja, não se trata de uma escolha (pelo menos, por parte de quem nasceu, é claro). É muito pernicioso esse discurso de homem simples. Os vermes também nascem simples e simplesmente. Os escorpiões também vieram ao mundo de forma simples e nem por isso são inofensivos. Aliás, existem homens que – por terem vivido algumas dificuldades nesse passado simplório e de simplicidades – tornam-se bastante perigosos e, às vezes, verdadeiros monstros ao sentirem a mínima ameaça de retorno à condição originária ou anterior.

Existem também os candidatos que – igualmente pela ausência de definição clara de suas funções – expõem suas famílias como macacos. Confundir a política das relações familiares com a política pública já tem nos demonstrado a força dos efeitos colaterais, seja através da prática indecorosa do nepotismo, seja no hábito da indiferença para com aqueles que não estão arrolados nos documentos que definem o direito “adquirido” à herança. Ainda existem os crimes mesmos que são cometidos pela honra e glória de algumas famílias, principalmente, pelas que dominam desde a colonização em detrimento de outras que pelas próprias condições materiais se desfazem e se definham.

Alguns apregoam-se dignos de serem eleitos sustentando a campanha com discurso contra as drogas. Mas em momento algum este tipo de político se pergunta em que condições e em que momento a sociedade drogou e droga as vítimas de seu discurso e sequer esboça o mínimo gesto para um verdadeiro combate às causas. Aliás, há os grandes defensores dessa idéia “contra as drogas” que vivem exclusivamente da droga, ou seja, infelizes deles se não fossem os drogados. Numa possível ausência de drogas, adeus ONGs, adeus subvenções, adeus apoio de entidades estrangeiras e, levando em conta ainda os que se arvoram líderes religiosos na tentativa de transformar o povo em hegemônico rebanho, adeus promessas de salvação.

Também temos aqueles que – viciados na esmola e no clientelismo – fazem uma tremenda confusão quanto às suas funções. É o executivo impondo leis, mesmo que através de barganhas, o legislativo fazendo obras por intermédio de seus compromissos com patrocinadores de campanha, o judiciário (desde Montesquieu), com seu caráter simbólico e burocrático, refém dos outros poderes.

Ainda não podemos esquecer que – no que tange o processo eletivo existe também o eleitor. Creio que é justamente aqui que reside o grande problema. Temos um povo destruído. Às vezes, cumpre-nos colocar em cheque a idoneidade de um determinado político. Mas ao perceber que a gente do povo faz campanha para um político comprovadamente bandido, a coisa muda de figura. Sendo assim, equivale dizer que todo político corrupto é legítimo representante da parcela da sociedade que vê nele o seu ideal. Ademais, um povo lambe-botas, passa-fome, fazer campanha para determinados políticos em troca de um pão, é um povo perigoso e digno de muita pena e desconfiança ao mesmo tempo. Ele é digno de pena, porque além de vítima ele fez um acordo secreto com os seus exploradores e assumiu essa relação como uma normalidade. Ele também é perigoso porque por ele ter se vendido para um canalha por causa de um pão, imagine do que ele não seria capaz ao vislumbar a possibilidade de ser dono da padaria.

Mas as eleições estão aí e nós, pobres mortais, não poderemos votar no item mais importante dessa mudança: o povo. Gostaria de poder votar no povo, eleger como detentor do poder de aglutinar os verdadeiros ideais de camaradagem, um povo que tem o seu projeto, a sua cara, sua forma de ver e dar sentido para o mundo.

Wilson Coelho, dramaturgo, escritor e professor de Filosofia na UFES









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