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Artigos-->CONTEÚDO DO SONHO -- 22/12/2002 - 20:32 (Wilson Coêlho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É quase sempre aconselhado que o olhar sobre a obra de arte se dê sob o ponto de vista do objeto estético, considerando esse gesto como uma possibilidade de se evitar uma postura moralista por parte daquele que observa. Mas no caso de Sandra Heringer, em suas “Expressões d’Alma”, essa “mirada” não deve ser reduzida ao plano concreto do tipo de material empregado na criação e se o mesmo fora “bem” ou “mal” executado a partir de uma determinada técnica. Quero dizer que aqui os temas também devem ser levados em conta, pois em meio ao bronze (30 peças) e resimármore (12) que compõem as esculturas de Sandra Heringer, desfilam profana e sacramente os personagens de seu universo.

Na medida em que estabelece no erótico a força da vida, Sandra Heringer – ao se apropriar do corpo como linguagem/reflexo da alma – consegue sublimar de forma artística o conteúdo de seus sonhos e da leitura que faz dos sonhos dos outros que também são nossos. Tudo isso porque ela tem um compromisso com a beleza, não a beleza padronizada, mas aquela que muito além do discurso da bela forma faz com que o corpo se torne transparente pelo fogo que emerge de suas entranhas, ou seja, a alma se mostra rompendo a película que até então lhe mantinha velada.

Mas por detrás dessas obras/criaturas está o criador, pois – ilustrando com Rodin – “em suma, a Beleza está em toda parte. Não é ela que falta aos nossos olhos, mas nossos olhos que falham ao não percebê-la”. É dizer que a beleza se nos dá como uma dádiva, nos lugares onde menos imaginamos, mas somente o autêntico artista desenvolve a capacidade de apreendê-la e traduzi-la aos outros de sua espécie.

Voltando à idéia do profano e do sagrado na obra de Sandra, faz-se interessante salientar que estes não têm qualquer compromisso com a harmonia, ou seja, eles sempre se revelam num estado de tensão, são altamente contraditórios. Mas é justamente nessa contradição, nessa dialética, é que se realiza o fenômeno: eles aparecem. É daí que surge a síntese. Através das peças: O Guerreiro Templário (Dom Quixote), A Juíza, O Deprimido, Êxtase (diversas peças), Metamorfose, Madona, Prometeu (Pré-vidente), Juízo Final, Tornado do Prazer, A Graça, Fugaz, Libertação e tantas outras, Sandra Heringer desafiou o barro e a si mesma e desfilou por entre uma imensidão de temas, ao realizar na forma o que lhe comandava o sonho e o querer.

Ainda levando em conta a dicotomia ou o fio da navalha que estabelece a separação entre o sagrado e o profano que – aqui no caso – trata-se da espinha dorsal da obra em questão, ao me utilizar como exemplo da peça “Cristo e Maria” e, tomando emprestado uma afirmação que fiz num pequeno ensaio sobre o livro O Amor Absoluto, de Alfred Jarry, eu diria que “... o filho-homem, não o filho do homem, ama a sua mãe e, sendo Deus, o incesto é divino”.

Wilson Coêlho é poeta, dramaturgo, escritor e professor de filosofia na UFES

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