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Artigos-->O FIM DO MUNDO -- 22/12/2002 - 20:36 (Wilson Coêlho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Aqui é o fim do mundo

aqui é o fim do mundo

ou lá..." (Torquato Neto)



O mundo não existe como uma coisa em si. O mundo que existe é o sentido que o homem dá às suas relações, ou seja, uma representação que ele faz da relação que tem consigo mesmo e com os outros. Daí, cria uma espécie de cosmogonia onde se projeta estabelecendo os seus valores. Mas, ao concordar com o pressuposto da existência do mundo, quisera poder gritar que o mundo acabou. Falo do fim deste sentido de mundo que até então lhe tem sido dispensado. Gostaria agora de passear sobre os escombros da crença idiota de competição que por todos os poros faz suar uma sociedade que conta a história do ponto de vista dos vencedores. Muito me satisfaria pisotear os cadáveres dos políticos corruptos que em nome da fome e da miséria reproduzem suas fortunas em contrapartida da dependência de esmolas e da exclusão.

Quisera ver por terra todas as "idéias" de felicidade, todas as possibilidades do sonho delirante, todas as juras de amor, todas as promessas de igualdade, todos os versículos da justiça e todas armadilhas dos direitos de humanos, para que – assim – se possibilitasse estabelecer de fato um estado de liberdade, de experimentar e viver o sonho, de amar sem o complexo da solidão a dois ou do egoísmo ampliado. Quisera o fim do mundo, não por uma metafísica, mas pela realidade de uma justiça independente de artigos e parágrafos e alíneas, pela construção de uma justa medida a partir das necessidades de cada um, onde a humanidade pudesse transcender-se a si mesma e deliberadamente fosse capaz de escapar de seus meros conceitos.

Não se trata de um discurso no palanque dos idealistas e, tampouco, de compartilhar da idéia de apenas imaginar um mundo sem fronteiras, sem juízos, mas de um mundo construído pelo pensamento resultado da práxis. Um mundo onde a fantasia da globalidade pudesse ser substituída pela força da universalidade que se sustenta das diferenças, sem cair no laisse-faire dos cultos individualistas da pós-modernidade. Mas que o universal pudesse escorrer pelos dedos e se dar a partir da capacidade de compreender o mundo, por intermédio da vontade que se livra de todos os silogismos desta lógica imposta, bem como, desta metafísica que gira em torno de si mesma, como um cachorro querendo morder o próprio rabo, e é admitida como uma verdade inquestionável.

Bem que o mundo poderia ter chegado ao fim, pois quando realmente se admite o fim – não como simples elemento retórico – significa admitir também um novo começo. Melhor mesmo é que o mundo tivesse acabado. Seria maravilhoso ver o fim deste mundo onde as coisas são como são, num incessante e imbecilizado exercício de tautologia.

Mas, infelizmente, este mundo não acabou e continua girando, girando. Nossos tiranos estão aí e continuam inaugurando sedes, clonando órgãos e organismos de alijamento, marginalização, repressão e exclusão. Nossos inimigos estão no poder e, asfixiados pelo subjetivo, já se articulam pela reeleição e pela manutenção do poder. Mas o poder de nossos inimigos não é o poder entendido como a possibilidade. Não é um poder para que todos possam. Não se trata do poder escolher, pois o poder escolher somente se dá em liberdade, ou seja, poder escolher não apenas limitado entre o que existe, mas poder escolher fazendo existir o que ainda não existe ou que não foi oferecido.

O fato é que este mundo não acabou. Mas nem tudo está perdido. Ainda podemos lutar e torcer para que ele acabe. Não pelas profecias de Nostradamus, não pelas ameaças cristianas de apocalipse, não pelas promessas de ressurreição ou reencarnação, mas pela nossa vontade e força em mudar o mundo. E que o mundo seja o sentido que queremos, a partir do momento em que estabelecermos um modelo de sociedade onde a vida não seja para ser vencida, mas – sim – para ser vivida.

Wilson Coêlho, é dramaturgo, encenador e professor de filosofia e ciência política.



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