Usina de Letras
Usina de Letras
14 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62285 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6209)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->O PEQUENO ARCO-ÍRIS -- 31/03/2009 - 23:55 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lembro me como se fosse hoje. Eu não queria ir à escola porque lá, eu não tinha feito amigos. As outras crianças zombavam de mim por causa das minhas roupas velhas e maltrapilhas, e também por causa da minha timidez. O que eles não sabiam, é que minha timidez era pelo medo de que zombassem sempre de mim, e também, porque estava muito triste com meu professor que não ligava a mínima para mim. Parecia que ele tinha decidido, que se eu era uma criança pobre, não merecia receber sua atenção. O comportamento dele para comigo, me machucava muito. Eu não compreendia o porque de tudo aquilo estar acontecendo comigo.

Todos os dias, eu tinha que andar um longo caminho, ida e volta para a escola. Em certo trecho, a estrada tinha bosques de eucalipto nos dois lados e também um riacho lindo, que passava por entre as arvores, com águas muito cristalinas. Ele corria mansamente, fazendo do ambiente um lugar de muita paz. De vez em quando, eu parava por lá para descansar e observar os peixinhos. Eles nadavam de lá para cá. Pareciam estar sempre tão alegres e felizes. Viviam em turmas, sempre acompanhados por seus amiguinhos, subindo e descendo nas águas límpidas do riacho.
Certa manhã, em meu caminho para escola, eu parei às margens do riacho e sentei-me numa pedra. Tirei meu chinelo e coloquei meus pés dentro da água fresca que parecia me acariciar. Algum tempo depois, com os cotovelos apoiados em meus joelhos, pensando em quanto a escola era chata, sem amigos, sem a atenção de meu professor, senti uma lágrima rolar pelo meu rosto.

Vi quando ela caiu nas águas do riacho, desaparecendo ao misturar-se com elas. Foi como se ela tivesse sido abraçada por elas num gesto de carinho, pois ela era uma lágrima sentida, uma lágrima de dor. Em dado momento, numa fração de segundos, um arco íris surgiu das águas, passou bem diante dos meus olhos, e desapareceu.
Era um peixinho, um Lambari, percebi logo depois. Ele ficou muito próximo da superfície, quase parado. Era como se estivesse me observando curiosamente, mas num piscar de olhos, ele desapareceu em meio à correnteza. Segui para a escola e o dia custou a passar.

Era uma agonia estar num lugar, onde as pessoas não me aceitavam como eu era. Eu nem ao menos tinha a atenção que tanto desejava de meu professor. Na volta para casa, parei no mesmo lugar onde eu vi o pequeno arco-íris pela primeira vez e esperei algum tempo. Mais uma vez, ele surgiu de repente. Como um flash de luz ele passou diante dos meus olhos e então, desapareceu. Na manhã seguinte, estava um lindo dia de sol. Eu resolvi tirar minha roupa e entrar nas águas e quando o fiz, ele apareceu e como se estivesse me provocando, começou a nadar à minha volta.

Suas escamas brilhantes iluminadas pelo soL cintilavam mesmo sob as águas e seus movimentos de lá para cá em volta de mim, me fizeram sorrir. Ele me fez esquecer dos meus infortúnios, de toda a minha tristeza. O pequeno arco-íris pulava para fora da água alegremente, mas sempre se mantendo perto de mim. Ele parecia não ter medo. Lembro me que estava tão feliz com aquele amigo que surgiu do nada, que um pensamento me veio à mente. Eu queria que ele ficasse comigo para sempre. Num rápido movimento eu o agarrei com as duas mãos. Eu queria leva-lo comigo. Não queria mais sentir a dor da solidão.

Ele se debateu desesperadamente tentando se libertar de minhas mãos, e num instante, ele escapou pulando para longe, caindo no meio do mato em uma das margens. Ele era tão pequenino. Tão difícil de se procurar no meio das folhas, que eu demorei um tempo para encontra-lo, e quando o achei, ele não se movia. Parecia estar morto. Naquele momento, uma sensação desoladora de perda invadiu meu coração. Eu tinha perdido meu primeiro e único amigo. Tudo por causa de meu sentimento de posse, querendo que ele fosse só meu. Que ficasse para sempre ao meu lado. Devagar eu peguei seu corpinho inerte e o coloquei nas águas do riacho.

Ao ver a correnteza leva-lo para longe, lágrimas de dor e tristeza rolaram como gotas de ácido, queimando minha face. A dor da perda do meu amigo, o meu pequeno arco-íris, era muito mais forte do que o meu sentimento de tristeza e solidão, que eram causados pela zombaria das outras crianças e pela indiferença de meu professor. No dia seguinte, passei pelo mesmo local na esperança de vê-lo novamente, mas ele não apareceu. Eu me senti mais solitário do que nunca em toda a minha vida. Mais um dia se passou.

Na volta da escola, parei de novo no mesmo lugar. Esperei alguns instantes, mas ele não apareceu. Segui rumo à minha casa, com uma dor insuportável em meu peito. Era um sentimento de remorso, misturado com um imenso arrependimento pelo que eu tinha feito com o pequeno arco íris. No dia seguinte, eu passei novamente pelo mesmo local, mas já não tinha mais esperanças de vê-lo novamente. Tinha certeza de que ele havia morrido. Resolvi parar por uns instantes e tomar um pouco d`água. Eu estava mesmo com muita sede, e as águas do riacho eram tão limpas, que não tive dúvidas; me abaixei para pegar água com as mãos e quando o fiz, como num flash de luz, um arco íris passou bem diante dos meus olhos, e então desapareceu.

Naquele instante, meu coração pulou de alegria. Minha alma cantou em júbilo. Eu estava feliz.
Meu amigo não havia morrido, e mais, ele não ficou com raiva de mim pelo que eu lhe fiz, e para provar que não, quis chamar minha atenção para que eu o notasse, já que eu havia me desiludido de encontra-lo e nem mesmo o procurava com o olhar. Levantei me de onde estava. Sabia que já era tarde e segui meu caminho. No dia seguinte, ia ser sábado e a data de meu aniversário.

Logo pela manhã, eu resolvi que iria tomar um banho no riacho e procurar meu amigo. Eu estava com saudades. Precisava estar em sua companhia. Era vital para mim. Quando lá cheguei, o sol já brilhava iluminando as águas que corriam fazendo um barulho suave, um som mágico que me causava uma paz imensa, que me fazia muito bem. Sentei numa pedra e esperei. Não por muito tempo, pois logo ele apareceu. Brilhando sob as águas e indo de lá para cá, lá estava ele, mas sempre dando uma parada diante de mim.

Era como se de alguma forma, ele me convidasse a fazer parte da brincadeira. Tirei a roupa, entrei na água e a princípio, ele ficou longe de mim. Ele subia e descia as águas do riacho, mas mantendo distancia entre nós, mas depois, aos poucos ele foi se chagando. Cada vez mais e mais. Até que as suas escamas tocaram suavemente minhas pernas, e então, eu comecei a sorrir. O pequeno arco íris, ao ouvir meu sorriso, começou a pular alegremente para fora d`água. Era como se ele estivesse feliz com minha presença e comemorando minha felicidade.

Naquele mágico momento, eu aprendi de uma vez por todas, que ele nunca, mas sempre, seria meu. Que quando amamos alguém, não significa que este alguém é de nossa propriedade. Um objeto que podemos guardar conosco e usar quando quisermos, ou quando nos for conveniente.

O amor precisa ser livre, para viver em nossos corações e nos corações daqueles que nos amam. Se um de nós tentar prende-lo, achando que ele é de nossa propriedade, ele pode definhar lentamente, até morrer. Podemos mata-lo sem ter consciência disto. Exatamente como meu amigo peixinho, que eu quase matei, por achar que ele era meu e que eu poderia fazer dele, e de sua vida, o que bem entendesse.

A vida nos dá lições em todos os momentos de nossa caminhada por este plano desde o momento em que aqui chegamos, até o momento de nossa partida. Cabe a nós termos capacidade e sensibilidade de perceber, enxergar e compreender as mensagens que nos são enviadas por ela, através de momentos muito especiais, como quando vindo do nada, um pequeno arco íris passar bem diante de nossos olhos, e então desaparecer...

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui