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Contos-->O DIREITO DE DIZER NÃO -- 01/04/2009 - 00:05 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aos quatro ou cinco anos, quando Ana era muito pequenina, seus pais lhe ensinaram que nunca deveria dizer não, lhe disseram que ela tinha que concordar com tudo que eles lhe diziam sempre, caso contrário lhe dariam uma surra e a colocariam de castigo trancada em seu quarto e assim, com o medo da violência incutido em sua cabecinha, Ana foi crescendo e se transformou na mais obediente criança de seu bairro.

Ela jamais ficava brava, sempre compartilhava tudo que era seu e se alguém não tinha ela cedia ao primeiro pedido, mesmo que o objeto lhe fosse muito importante.

Ana nunca discutiu nem brigou com ninguém e era sempre cuidadosa em todos os seus atos e tudo que seus pais diziam, ela aceitava como se eles estivessem sempre certos, mesmo que não concordasse.

Ela até foi apelidada de anjo na escola e era sempre uma das melhores alunas de sua classe, pois estudava muito, só tirava boas notas e seguia todas as regras sem discutir, sempre quieta, boa para com todos, mesmo aqueles, que a tratavam com hostilidade.

Mas o que ninguém sabia era como ela se sentia por dentro, ninguém jamais se preocupou com ela e em conseqüência, ninguém nunca entendeu.

Ela tinha inúmeros amigos que a adoravam pelo sorriso sempre presente em sua face, era o tipo de colega, de amiga que sempre tinha um sorriso extra para quem precisasse, mesmo quando não estava sentia-se bem, com gripe ou dor de cabeça, precisando de um descanso a sós e alguém lhe pedia ajuda, ela nunca disse não custasse o que lhe custasse.

Quando ela tinha trinta e oito anos, ela já estava casada com um jornalista conceituado, tinha casa, família, vivia bem financeiramente às custas do trabalho de seu marido, sendo considerada uma pessoa de classe média alta, nada lhe faltava a nível material.

O casal tinha dois garotos um de três anos de idade e outro de sete anos, viviam em paz e quando alguém a encontrava e perguntava se estava tudo bem, ela sempre respondia que sim.

Porém em uma manhã de verão, quando o marido saiu para o trabalho e as crianças estavam na escola ela foi para seu quarto, deitou-se em sua cama olhando para o teto e então os pensamentos inundaram seu cérebro de uma forma que nunca havia acontecido antes e o desespero tomou conta dela, ela entrou em pânico, chorando desesperadamente, enquanto uma dor de cabeça a atacava, se tornando a cada segundo mais e mais insuportável.

Ela chegou a um ponto em que não sabia por que, nem como, mas ela pediu a quem quer que a tivesse colocado neste mundo, que a levasse de volta naquele momento, ela queria morrer, pois tinha perdido todas as esperanças de que sua vida um dia mudasse, tinha perdido até mesmo a fé em Deus e foi então que ela ouviu uma voz, baixa e suave pronunciar uma única palavra e esta palavra foi...

“NÃO!”

Subitamente ela soube exatamente o que deveria fazer, pois sua vida dependia desta palavra e daquele dia em diante, todos aqueles que faziam parte de sua vida, passaram a ouvir frases que nunca pensaram em ouvir de Ana, frases tais como:

Não, eu simplesmente não quero!, Não, eu não concordo com isto!, Não, isto é problema seu!, Não, isto para mim é errado!, Não, eu quero algo mais da minha vida!, Não, isto machuca demais!, Não, eu estou cansada!, Não, eu estou ocupada! ou Não, eu acho melhor não!

Tudo aquilo com ela não concordasse, gerava a pronuncia da palavra “Não!” e ela passou a externar todas as suas opiniões e foi como se o ar que lhe faltava para respirar todos os anos de sua vida, estivesse a partir de então enchendo seus pulmões de oxigênio trazendo-lhe de novo a vida.

Amigos e parentes estranharam, ficaram ressentidos com a mudança de Ana e podia se ver nos olhos dela a grande diferença, pois havia brilho neles, havia vida e isto, desde o dia em que ela recebeu de Deus, aquele a quem ela já nem mais reconhecia como tal, a permissão para dizer “Não!”.

Ela passou desde aquele dia a ser em primeiro lugar uma pessoa, um ser humano, depois uma mãe e esposa, ela compreendeu onde tudo começa e termina na vida entre um sim e um não.

Ana passou a ter sua individualidade, seus talentos, suas necessidades e metas respeitadas, voltou a estudar, voltou a trabalhar, conseguiu fazer sua independência financeira, adquiriu o direito de opinar e expor suas idéias quando algo fosse discutido e isto não só no âmbito familiar, mas no profissional também.

Ela se sentiu como se fosse um pássaro que a vida toda teve as penas de suas asas podadas e de repente elas tivessem crescido de novo, permitindo que ela alçasse vôo para além das nuvens, tendo recebido de volta a liberdade de voar.

Ana hoje em dia diz aos seus filhos ao contrário do que seus pais lhe disseram quando era pequena, ela diz a eles que ninguém é obrigado a concordar com tudo que os pais ou as pessoas dizem, pode ser até gentil concordar e dizer sim em determinadas situações, mas se não pudermos jamais dizer “Não!”, nunca vamos crescer de verdade nesta vida para ser aquilo que realmente desejamos ser.

Ela sabe e não nega a eles que muitas vezes também esta errada, como qualquer ser humano, que é cheio de erros e acertos.

Ela lhes diz que por causa do grande amor que ela sente por eles, mesmo que em algum momento de suas vidas eles neguem alguma coisa ela, eles serão sempre seus dois anjinhos e ela os amara do mesmo jeito e nada vai mudar isto, mesmo que eles lhe digam...”Não!”.

Se não concordamos com algo, mesmo não tendo poderes efetivos para dar a última palavra em decisões a serem tomadas, devemos fazer garantir nosso direito de opinar, de tomar parte nas decisões!

Crianças, adolescentes, homens e mulheres, maridos e esposas, casais de namorados, amantes ou parceiros escolhidos para fazer parte de nossas vidas, não importa, pois todos nós devemos zelar pela nossa individualidade, pelo direito ao respeito como individuos, pois não somos fantoches, somos seres humanos, feitos todos da mesma matéria, mesmo que alguns acreditem que não.

Não importa idade, cor, raça, sexo ou preferência sexual, o que importa é que quando estivermos numa daquelas fazes de nossas vidas em que tudo pode parecer ruim, sem esperança de melhorar, quando estivermos pensando em desistir, que ele nos diga em seu tom de voz baixa e suave, uma única palavra, a palavra...

“NÃO!”...

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