Eis que chega o dia em que a sociedade determinou que seja comemorado o dia dos pais, mas, na minha opinião, dia dos pais não tem dia certo, são todos os dias do ano e ninguém que não seja pai pode compreender a grandeza e complexidade desta condição e é tanto, que muitos de nós que somos pais, muitas vezes nos questionamos, sobre o que realmente isto significa em nossas vidas.
Penso que até que um homem tenha seu próprio filho, ele nunca saberá a extensão do significado da palavra pai, ele nem de longe vai imaginar a alegria, contentamento e amor que ressoam no coração de um pai quando ele olha para seu filho e recebe um sorriso e o ouve dizer que o ama.
Sem que um homem seja pai, ele jamais ira sentir o senso de honra, que faz com que um pai queira ser aos olhos do filho, mais do que ele é e poder passar às mãos de seu filho, algo de bom de esperançoso, nunca compreenderá um coração partido de um pai, que não consegue ser aos olhos de um filho, aquilo que ele deseja que o filho veja e muitas vezes, porque ele é impedido por demônios que vivem em sua mente e que o impedem de faze-lo.
Quando não se é pai, só se consegue enxergar seu próprio pai, como o homem que esta à sua frente, que o sustenta e o mantêm, ou aquele que lhe deu a vida e que exerce poder sobre ele, seja por bem ou por mal.
Não consegue entender que é um grande privilégio ser estar na condição de pai e que um homem nesta condição, crê no fundo de sua alma, mesmo que não demonstre, que sempre há algo de bom que deve ser passado para um filho, como se tivesse no fundo de sua alma um sentimento de profunda responsabilidade para com o mundo ao seu redor.
É difícil colocar isto em palavras, nós vivemos em um mundo onde é difícil falar com o coração, um mundo onde são poucos aqueles que enfrentam tabus criados pela sociedade e descem do pedestal de machismo onde foram colocados, para expressar abertamente, aquilo que sentem profundamente em seus corações.
Vivemos numa sociedade, onde nossas vidas são ofuscadas por bilhões de regras e condições e a musica que existe nos corações dos pais, aquela que os fazem tão felizes por serem pais, que os fazem ter imensa necessidade de compartilhar isto com todos que o cercam, é silenciada pelos afazeres e obrigações da vida.
De qualquer forma, eu digo honestamente, não tenho respostas para tudo isto, mas meu coração compreende profundamente as perguntas.
Quando eu vejo meu filho crescendo, aprendendo e assimilando seus conhecimentos, eu vejo a mim mesmo refletido em seus olhos, em seus dias e de alguma mágica e fundamental forma, eu estou lá, dentro dele e preciso compartilhar isto com o mundo.
Eu, exatamente como acontece ao meu filho, aprendi a andar, a correr, a cair e a levantar, tive meu primeiro amor, conheci o medo, conheci a solidão e a tristeza, meu coração já foi partido e já houve momentos em que acreditei que Deus não existia, mas houve momentos, em que senti claramente as mãos protetoras dele pousadas em meus ombros, já chorei lágrimas de tristeza, mas também lágrimas de alegria, de contentamento.
Houve tempos em que me vi na escuridão e imaginei que jamais iria ver a luz novamente, mas houve muitas e muitas vezes, em que eu quis dançar, cantar, abraçar e beijar qualquer um que eu encontrasse em meu caminho e também houve vezes, que meu coração se esvaziou dos mistérios do universo e qualquer deslize, por menor que fosse, me fazia ficar enraivado, perder o controle, agindo por impulso, sem dó nem perdão.
Muitas vezes carreguei outras pessoas em minhas costas, quando mal podia me manter sobre minhas próprias pernas, mas também houve vezes, em que deixei pessoas sem resposta, quando me estenderam a mão em busca de ajuda, mas por outro lado, tantas e tantas vezes, fiz mais do que me pediram, também senti muitas vezes que sou uma farsa, um charlatão, uma falha como pai e como homem, mas tenho consciência de que carrego dentro de mim as virtudes da grandeza espiritual, mas também carrego, a obscuridade dos mais horrendos crimes de pensamentos que tive, sem ouvir meu coração.
Em resumo, sou pai sim, mas também sou um homem e humano assim como meu filho, contudo, ele irá trilhar seus próprios caminhos, seu próprio tempo e o sol que irá brilhar sobre ele é o mesmo sol que brilhou para mim, assim ele irá passar por todas as estações pelas quais passei em minha caminhada e nós dois de uma forma profunda e verdadeira, sempre seremos diferentes, mas ao mesmo tempo, seremos sempre iguais.
Esta é uma simples tentativa de passar aos meus filhos e todos os filhos do mundo, que quando nós pais, passamos algo para nossos filhos, não significa de forma alguma, que eles precisam ser iguais a nós, pois não há nada melhor do que o pai que pode ver seu filho se tornar ele mesmo, único e verdadeiramente autentico.
Mas o tempo revela verdades e segredos da vida, segredos e verdades estes, que são muito maiores que todos juntos, pais e filhos, sem exceção e se eu puder dar voz a tudo que passo aos meus filhos, para que durante suas vidas, sempre que preciso, se lembrem e ouçam meus conselhos onde estiverem, então eu terei sido um bom pai, terei cumprido minha missão.
Ser pai é a maior honra que já recebi na vida, pois Deus me permitiu tocar o mistério da vida por uma fração de segundos e ver meu amor se transformar em carne.
Se eu pudesse pedir a Deus mais uma benção na vida, eu pediria a ele que me permita sempre passar aos meus filhos, meu conceito de amor e que eles o passem à frente, para seus próprios filhos quando os tiverem, porque afinal das contas, não há muito mais em nossas vidas, além do amor...
Deixar que um pai ele seja ele mesmo, é dar a ele um presente especial, pois quando permitimos que nossos pais se mostrem a nós, não como Deuses, mas como homens comuns, com defeitos e virtudes como todo mundo, que tem carências e necessidades como todos nós, então podemos verdadeiramente ama-los como são, não como os imaginamos, mas para isto, precisamos dar a eles a chance de serem eles mesmos, não aquilo que a sociedade e nós, cobramos deles o tempo todo.
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