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Contos-->Café e Cacau -- 02/04/2009 - 22:15 (Pedro Ivo Ravagnani) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Todos os dias o velho levantava-se, colhia algumas espigas e fazia seu café. A roça não era dele, nem a casa, mas mesmo assim as tratava com o maior zelo, apesar de não se dar o trabalho de varrer o chão batido. Nunca exclamava, ou perguntava. Não se lembrava mesmo da última vez que tivesse dito uma só palavra. Espantava alguns ratos que às vezes apareciam para saborear algumas espigas mais antigas e rasteiras. Coletava água com baldes do pequeno açude sem peixes e com muitos caramujos. Não fervia nem passava pelo pano. Seu único prazer assumido era tomar o café bem fraco, colhido do enorme cafezeiro e torrado sobre a chapa do fogão à lenha.
Numa madrugada de inverno, enquanto o milho fervia e o ancião tocava calmamente os dois ratos que saciavam sua fome, um roedorzinho se aproveitava da ocupação do homem e se servia com uma xícara da bebida recém preparada. Não era um bom café, mas acompanharia bem uma sementinha de cacau.
- É um bom café – disse educadamente ao velho que já se apresentava à porta.
Desconfiado, sentou-se ao lado do pequeno, sorveu um pouco da mesma xícara e fixou o olhar na rachadura do casebre de madeira, esperando o fim do cozimento. Com toda a cortesia que têm os ratos, acenou com o chapéu e se despediu.
Durante toda a semana mal pôde dormir, lembrando da alegria daquela conversa. Acordava afoito para preparar o desjejum, ansioso pela visita do seu novo amigo, mas ele só foi retornar no final do mês. Desta vez trouxe algumas sementes de cacau e compartilhou com seu companheiro a delícia do café com cacau. Contou sobre os lugares que estivera, sobre o sal da praia e o sol do norte. Ouviu sobre as colheitas e de como adubar a terra com o sabugo. E pela primeira vez o velho deitou-se após o sol se por.
Eles riram e aprenderam, reformaram a casa, cercaram a roça e dormiram juntos. E no começo do outro inverno, o pequeno se despediu e foi em busca de novas histórias.
Durante a estação as rachaduras reapareceram, e tinha madrugadas que o homem não se levantava. Deixou de cuidar da roça, colher espigas e preparar o café. Bebia a água que a chuva trazia pela goteira e esquecia de banhar-se. Julgava ser o efeito do maior frio que aquela região tinha passado.
Um dia, encontrou um pouco daquele cacau com o qual seu amigo havia lhe presenteado, e com desdém, atirou sobre a poça de lama. Em um mês, a plantinha começou a vigorar, e o frio foi passando.
Dum fruto, nascido muito tempo depois, comeu as sementes e tomou seu café, mais forte, como lhe havia sido ensinado. Voltou a catar as espigas, mas já não espantava os roedores. Fez-lhes chapéus com a palha do milho e os convidava sempre a entrar. Foi à cidade e mandou um telegrama, tratou novamente da casa, vedou o telhado. Fez uma trilha com pedrinhas até o açude e encontrou uma ovelha. Aprendeu a tomar leite e fazer cobertor. Preparou uma rede e pendurou na parede e no cacaueiro.
Mal se agüenta para chegar segunda-feira e rir no correio com as notícias do seu amigo.
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