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Cronicas-->Crónica da crónica atracção -- 13/01/2006 - 02:24 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CRÓNICA DA CRÓNICA ATRACÇÃO



Desde muito jovem, e a partir da sua abertura ao público, que frequento o Café Novo, estabelecimento de cafetaria e bar, contíguo ao Quartel General, na Praça da República, no Porto. Antigas amizades afastadas que há muito tempo não têm contacto comigo, de quando em vez, ali me procuram para conviver um pouco, avivar recordações e matar saudades.

Os quatro sucessivos proprietários que ao longo de meio-século detiveram a gerência deste benquisto e popular local de convívio, sempre tiveram para comigo um trato especial, muito próximo de considerarem-me como membro de família. Em suma e actualmente, ninguém como eu conhece de fio a pavio a história daquele que hoje é para mim o "velhinho Café Novo", onde vou e estou todos os dias, salvo aos domingos, porque encerra para folga do pessoal que lá trabalha.

Os clientes de frequência habitual e que de resto constituem uma espécie de tertúlia assaz familiar, no período que vai das 12 às 15 horas do dia, dão voluntariosamente o lugar ao enorme movimento que enche o recinto no período do almoço. Depois, até às 2 horas da manhã, ora a conviver e a ler o jornal, ora a jogar bilhar em emotivos e bem organizados campeonatos, o Café Novo é um local de escorreita convivência e lazer, recinto cujo modelo ainda vai sobrevivendo à confusão hodierna que inquieta a vida das grandes cidades.

Os que são casados, trazem esposas e filhos, os reformados reunem-se para lengalengar sobre as coisas interessantes e desinteressantes da vida, os jovens namorados trocam suas mútuas promessas e beijocas descontraidamente, e as crianças divertem-se e recreiam-se a correr e a pular de um lado para o outro. No meio daquela gente está tudo visto e revisto: bonitos e feios não se diferenciam e os ricos e os pobres confundem-se sem impositivos gabaritos.

Uma vez por outra, zás, entra a bomba, espécie de deusa-demoníaca que concita todos os olhares e embasbaca os frequentadores. A habitual barulheirazinha reduz-se num ápice em oitenta por cento. Todos olham, reolham, disfarçam que não olham, fingem que não vêem. Os rostos dos homens iluminam-se de sonho aventureiro e as faces das mulheres contraiem-se de preocupada desconfiança.

E sabem porquê?... Porque a gajona, como soer é dizer-se à moda Porto, é mesmo boazona, explosiva pra caramba, com tudo exageradamente no sítio, parecendo que foi tirada de uma revista da Play Boy. A bela toma um cafezinho enquanto faz um telefonema, sentada ao balcão, de perna alçada por forma a bem mostrar as linhas que confluem para o vértice dos excelsos devaneios do amor da perdição. Um regalo visual. A senhoreca aborda o empregado com elegància, paga, dá gratificação e, como égua de rabo eriçado sacudindo as crinas, sai altiva, algo à guisa de pássaro de arribação com rumo a altos voos.

Volta a barulheira de novo, mais viva, mais rápida e empolgada, entusiasmante. Toda a gente se embrulha a dar opinião sobre o assim-e-assado do sonho sofisticado, essa espécie de sonho que vai a todos os cumes sem ir a parte alguma. Estarão porventura os Leitores a entender-me a expressão? O tal sonho que solicita sonhar-se com uma choruda loteria para lograr a possibilidade de correr em grande velocidade ao encontro da decepção fatal que todas as miragens contêm.

Bem, mas nada adianta fazer prévios esforços de aviso sensato. Como são raros os que já levaram o fatal pontapé do sonho e por isso se arrepiam logo que correm o risco de voltar a sonhar, não falta quem arriscasse imediatamente a estafada tranquilidade para fazer uma rapidinha ascensão ao céu que acaba sempre no inferno.

António Torre da Guia
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