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Contos-->O CALDEIRÃO DE SOPA DE DONA MARIA -- 06/04/2009 - 20:52 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Para falar e verdade, hoje eu estava lembrando do caldeirão de sopa da mãe de um amigo meu e parecia que eu ainda o estava vendo em cima do velho fogão a lenha na cozinha de Dona Maria.

Tudo começou quando eu e Jairo nos conhecemos na escola e nos tornamos amigos inseparáveis a despeito de que eu era filho do Doutor Luiz, único médico da cidade e ele filho do Sr. Pedro o borracheiro.

Nossas classes sociais, aos olhos da sociedade, em nada contribuíam para nossa amizade, pois filho de pobre não pode ser amigo de filho de rico, mas o que houve entre nós foi muito mais do que uma simples amizade, foi amor de amigo e pura aceitação.

Tudo que sabíamos, era que adorávamos estar um com o outro e nossas afinidades eram infinitas e como tinha que ser, fomos crescendo e nossa amizade fortalecendo dia a dia, até que finalmente eu convidei Jairo para ir à minha casa e ele logo aceitou.

Meus pais foram simpáticos, mas distantes com ele quando esteve em minha casa e percebi que ele não estava muito a vontade e depois de algum tempo, arrumei uma desculpa e fomos andar de bicicleta pela cidade e eu lhe perguntei o que havia achado de minha casa e minha família.

Jairo disse que achou tudo muito bonito dentro de minha casa, mas achou estranho o comportamento de meus pais entre eles e em relação a mim, disse que nunca viu família que não se abraçasse ou que não conversasse à mesa de refeições, disse que tinha achado que eu deveria ser um menino triste por dentro, porque não tinha carinho e atenção.

Apesar de eu nunca ter me questionado a respeito de tudo o que ele me falou, eu comecei a pensar em minha vida com meus pais e descobri o significado da palavra carência...

Fiquei curioso sobre a família e a casa de Jairo e um dia já cansado de esperar o convite eu mesmo me convidei e disse que iria à casa dele no domingo e iria para almoçar.

Sua reação foi bem diferente do que eu esperava, pois apesar não descartar a possibilidade, percebi que ele não estava muito contente com minha ida à casa dele, mas mesmo assim, no dia marcado fui pedalando minha bicicleta em direção à casa de Jairo.

Eu nunca tinha nem passado por perto da casa dele e não tinha idéia como poderia ser, apenas segui o caminho que me ensinou e quando lá cheguei fiquei perplexo com o que vi.

Era uma casa grande, mas muito simples, seu reboque precisando de reforma, paredes rachadas, numa rua escondida no lado pobre da cidade.

Quando chequei mais perto fui recebido por Dona Maria que entre beijos e abraços chamou Jairo dizendo:

Jairo querido, vem ver que maravilha, vem ver quem chegou, é seu amigo!!

Meu amigo que estava no quintal dos fundos apareceu com um ar de que havia algo errado e eu como o conhecia muito bem logo percebi, mas mesmo não se sentindo a vontade com minha presença ele me apresentou ao pai e aos irmãos e no meio de tantos abraços, apertos de mãos e tapinhas nas costas, acompanhados de largas gargalhadas, de conversa em conversa logo chegou a hora do almoço.

Vi que Jairo estava ainda mais acanhado e achei que deveria estar acontecendo algo mais grave, mas não tive como falar com ele a sós, pois todo mundo daquela casa só tinha atenção para mim e quando Dona Maria nos chamou para almoçar, fomos todos para a cozinha, achei estranho o lugar para um almoço ser servido, mas ao entrar fiquei encantado com o que eu vi.

Havia um fogão de lenha num canto da cozinha algumas poucas prateleiras nas paredes e no meio uma enorme mesa de madeira cheia de cadeiras à sua volta, parecia até uma daquelas mesas de filmes épicos, onde cavaleiros do Rei se sentavam para comer.

Em cada canto uma réstia de cebolas e alho que davam ao lugar uma energia positiva que a cada segundo me fazia gostar mais e mais do lugar.

Em cima do velho fogão de lenha havia um caldeirão soltando fumaça como se fosse um vulcão em atividade, prestes a entrar em erupção e aquilo me chamou atenção, não havia outras panelas, parecia que o que quer que seja que estivesse dentro dele seria certamente o nosso almoço.

Quando todos nos sentamos à volta da mesa, Dona Maria Trouxe o caldeirão e o colocou no meio da mesa e ao seu lado uma enorme concha e com um sorriso que até hoje me emociona ela distribuiu pratos e colheres para todos e começou a nos servir.

Ao chegar a minha vez ela encheu meu prato e perguntou se eu sabia o que era aquilo e eu disse que não, mas que o cheiro era maravilhoso.

Foi então que ela disse algumas palavras que carrego comigo até hoje e passo aos meus filhos do mesmo jeito que as recebi naquele dia...:

É sopa meu filho e ela tem um poder mágico de cura e de regeneração, ela pode curar gripes, resfriados, dores de cabeça, fraqueza física e mental e também cura muitos males do coração, da alma, pois ela é feita com um ingrediente muito especial, que se usado na medida certa pode ser mesmo milagroso e este ingrediente meu menino, é o amor e se você prestar atenção a uma sopa você pode até dizer como andam as finanças da família, se ela for rala é porque os tempos estão difíceis, se ela estiver grossa é porque eles já se foram e as coisas começaram a melhorar.

A sopa é o alimento da vida e do coração meu menino e a todos que necessitam de algum remédio especial para curar alguns males da vida e indico a sopa e se não souberem como fazer, eu ensino, pois assim espalho o amor pelo mundo.

Eu provei a sopa e fiquei maravilhado como o sabor, comi tudo e pedi para repetir duas vezes e ao final de tudo, percebi que meu amigo Jairo já não mais estava com um ar diferente, que ele até estava mais alegre.

Quando todos se levantaram da mesa fomos andar de bicicleta pelas redondezas e no caminho como sempre conversamos e perguntei a ele o por que de ele estar meio estranho antes do almoço e então ele me disse:

Eu tinha medo de que ao você ver como era minha casa, minha família, de como realmente eu era pobre, você nunca mais quisesse ser meu amigo e eu perderia a coisa mais importante da minha vida que é a sua amizade.

Então eu disse a ele além de não perder minha amizade, mas havia ganhado um irmão, porque a família dele era tudo que eu queria ter na vida e que agora que os havia encontrado, jamais os deixaria e por nada neste mundo.

Disse que ele era o garoto mais rico que eu conhecia neste mundo, pois para mim tudo que sempre teve valor e me foi negado desde pequeno, foram os abraços, os beijos, os carinhos, as palavras de amor e atenção e porque não dizer, tapinhas nas costas iguais ao que recebi de sua família e que me fizeram tanto bem.

Desde então, acompanho Jairo e sua família como se fizesse parte da família e meus filhos hoje, quando se sentam à mesa para comer, ao ver a sopa em seus pratos, sabem que nela haja o que houver um ingrediente é sagrado, sempre tem amor em seu preparo e graças ao Caldeirão de sopa de Dna Maria.

Eu e Jairo aprendemos juntos, que não existem diferenças sociais. O que existe são formas diferentes de se enxergar os verdadeiros valores da vida e que aqueles que como eu os vê com os olhos do coração, não desprezam uma amizade verdadeira, por um punhado de ostentação, que em nada cura, os males do coração...
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