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Contos-->BANDIT -- 21/04/2009 - 18:08 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quem olhava para ele, à primeira vista, tudo que se podia ver era que Bandit era um adorável cachorro vira-latas. Uma mistura de raças que deu origem a um belo animalzinho. Meio maluquinho de vez em quando, pois quando decidia correr atrás de seu próprio rabo, ele o fazia até ficar tonto de tanto rodar. No mais, era um animal curioso, brincalhão e bagunceiro como tantos outros. Tudo que ele mais adorava fazer, era ficar o dia todo indo de lá para cá, seguindo Maria Cecília sua dona, uma linda jovem de 18 anos, loira, de cabelos longos e cacheados, com um corpo escultural que fazia com que ela recebesse elogios de todos que a conheciam. Por onde quer que ela fosse, lá estava ele ao seu lado, e quando ela se ausentava por algum motivo, ele ficava com um olhar triste e só se alegrava, quando ela voltava para casa. Mas na verdade, ele não era um vira-lata como outro qualquer. Ele tinha um cérebro privilegiado e muitas vezes, sua dona ficava imaginando se ele não tinha algum tipo de poder telepático. Era comum acontecer de que quando ela tinha algo a dizer a ele, bastava que seus olhares se cruzassem e antes dela falar o que tinha a dizer, ele já atendia às suas ordens. Era como se ele soubesse o que ela queria que fizesse. Bandit tinha alguns comportamentos que para quem não o conhecia, pareciam estranhos. Ele gostava de subir no sofá da sala de estar que ficava bem em frente à TV e se sentava nele como se fosse gente. Ficava sentado sobre suas patas trazeiras, completamente ereto e com as patas dianteiras gesticulando como se quisesse dizer alguma coisa sobre um filme ou uma novela que estivesse vendo no momento. Sua orelhas atentas se mexiam conforme o grau de atenção que ele dispensava a um gesto, a um som ou uma frase dita por algum personagem. De vez em quando, ele olhava para quem estivesse sentado ao seu lado, com um olhar questionador, como se perguntasse à pessoa se ela estava entendendo o que ele queria dizer. Cecília, como os amigos a chamavam, quando presenciava uma cena assim ao lado dele, passava a mão em sua cabeça em sinal de entendimento, e ele balançava o rabo todo feliz.

Ele era um cachorro especial. Tinha um amor imenso por todos da casa, mas em especial por Cecília que era a pessoa que mais o compreendia e que mais lhe dava atenção, carinho e amor. Se alguma vez ela ficava doente, um tanto abatida ou tristonha, Bandit dava um jeito de chegar bem perto dela e a olhava direto nos olhos. Ele o fazia com um olhar tão doce e meigo, que ela sentia em seu coração, que ele realmente sabia como ela se sentia e que queria verdadeiramente vê-la bem, alegre e com saúde. Para Cecília, ele não foi, não era, e nem iria ser algum dia um cão comum. Para ela seu amado cãozinho foi um presente dado por Deus. Um daqueles seres que quando entram em nossas vidas só nos fazem bem. Ele era muito mais que seu animal de estimação. Bandit era seu amigo, fiel e verdadeiro, para qualquer situação e um dia, ela teve a maior prova de que estava certa quanto a isto e também quanto ao poder telepático que ele tinha. Cecília e sua família foram passar as festas de fim de ano num sitio à beira de uma estrada de terra, no interior de Sorocaba no estado de São Paulo e levaram Bandit com eles pois não tinham com quem deixa-lo por uma semana, ou mais. Depois de alguns dias, cansada de ficar na casa onde estavam, Cecília resolveu sair com seu amigo para um passeio a pé pelas estradas desertas do lugar. Após algum tempo de caminhada, ela e Bandit já haviam andado bastante. Estavam longe do sítio e o lugar ermo era um tanto assustador. Não se ouvia nada, apenas pássaros no meio do mato, grilos, besouros e cigarras cantando. O sol estava a pino e calor era sufocante. Ao passar por uma cerca coberta pela vegetação, eles se viram quase de cara a cara com um enorme touro. O susto foi grande, mas pareceu que o animal ficou tão assustado quanto eles dois. Bandit trocou alguns olhares com ele e o bicho se afastou para o meio do pasto que ficava do outro lado da cerca, e desapareceu. Foi então, que Cecília chamou Bandit para perto dela. Os dois sentaram-se à sombra de uma das arvores que beiravam a estrada. Ela estava cansada. Seus cabelos longos e louros com a alta temperatura a estavam incomodando. Ela estava suando e isto também a fazia se sentir desconfortavel. Com seu jeito sensual, ela os enrolou em um coque no alto de sua cabeça, encostou-se no tronco da arvore e quase adormeceu.

De repente, roncos de motor soaram ao longe e ela percebeu que se tratavam de motos. O barulho foi se aproximando e ela, logo pensou que era um grande perigo estar ali sozinha, sem nenhum acompanhante além de seu cachorro e rezou para que quem quer estivesse pilotando as motos fosse boa gente, se não, só Deus sabe o que poderia a acontecer. Quando ela pode avistar ainda de longe as motos em meio à poeira da estrada, ela percebeu que eram três rapazes jovens e cabeludos. Eles usavam roupas pretas de couro e botas de cano alto. Não tinham nada de confiável em suas aparências e seu coração começou a bater mais rápido. Bandit sentou-se ao lado dela e ficou imóvel, de orelhas em pé em sinal de prontidão. Cecília pensou consigo mas não falou, que seu cãozinho não seria de grande ajuda contra três brutamontes naquele lugar deserto. Eles estavam praticamente no meio do mato e sem esperança de passar alguém de carro para poder ajudar numa emergencia. Quando ela pensou nisto, Bandit virou-se para ela, como se tivesse lido seus pensamentos, olhou em direção aos motoqueiros e começou a rosnar. Quando os rapazes chegaram bem perto, pararam suas motos com um sorriso malicioso, olharam uns para os outros. Um deles perguntou a ela o que uma gatinha como ela estava fazendo sozinha naquele lugar. Cecília fingindo estar calma, respondeu que estava caminhando com seu cachorro e que seu pai estava vindo encontra-la e logo iria chegar.

Os rapazes se olharam e riram maliciosamente da resposta e um deles, passando a mão em suas partes intimas, perguntou a ela o que achava de uns beijinhos, de uns carinhos bem legais e se ela não estava a fim ter o prazer de conhece-lo melhor. Naquele instante, ela não desmaiou, mas foi por pouco. Ela sabia o que estava por vir e o que a esperava na mão daqueles três homens mal encarados e sedentos de sexo. Um milhão de pensamentos ruins passaram-se por sua mente. Ela naquele lugar, sózinha e sem nenhuma proteção efetiva, seria com certeza vítima de um estupro triplo. Quem iria impedir? Quem iria ajudar ? Ninguém ouviria nada. Ela poderia gritar o quanto quisesse. Eles nem sequer precisariam tampar sua boca para que ela não gritasse. Tudo aconteceria do jeito que eles quisessem, e no final, para ela, tudo estaria acabado. O medo tomou conta de Cecília. Ela começou a tremer. Não balbuciou nem mais uma palavra. Ela levantou-se devagar e tentou ir em direção ao mato, mas um dos rapazes a impediu. Ele foi mais rápido e se colocou em sua frente. Bandit latia ferozmente, mas para um cachorro de pequeno porte como ele, enfrentar três caras como aqueles, seria suicídio. Eles o matariam com uma só paulada. Contudo, ele precisava defender a sua dona e continuava a latir ,tentando intimidar os três homens.

Enquanto isto, os outros dois que estavam ainda perto das motos, já estavam tirando as calças e Cecília vendo aquilo, queria morrer para não ter que passar pelo que ela sabia que estava por vir. De repente, Bandit debandou em disparada pelo meio do mato. Cecília pensou que ele estava fugindo. Que seu melhor amigo a estava abandonando, e pior, na hora em que ela mais precisava de ajuda. Ela sentiu que para ela tudo estava perdido. Que não havia mais nada a fazer, senão, lutar com eles até morrer. O rapaz que a havia cercado quando ela tentou fugir para o mato a segurou pelos braços. Ele a abraçou pelas costas e muito excitado estava se esfregando nela com toda a sua força. Cecília se debatia desesperadamente, tentando se libertar das garras daquele homem nogento. Os outros dois já completamente nús, riam do desespero de Cecília e foram se aproximando dela cada vez mais excitados. Tudo ia acontecer e ela pedia a Deus mentalmente, que ele não a deixasse passar por aquilo. Que de alguma forma, ele a poupasse daquela desgraça e ela pensou em Bandit. Se pelo menos seu cão fosse um Pit Bul , um Doberman, ou um Pastor Alemão, ele poderia tê-la ajudado a sair daquele sufoco.

Mas não, ele não era nada disto!

Seu cãozinho era uma mera mistura de raças, um simples vira-latas. Apenas um animal com uma capacidade telepática diferente e incomum ,que os outros cães não tinham. A cada segundo que se passava, o desespero era maior. Os homens já estavam passando suas mãos asquerosas por todo o seu corpo. Ela gritava e se debatia, mas quanto mais ela gritava, mais eles ficavam excitados. Foi então, quando um deles tentava baixar o short jeans de Cecília com toda violência, se preparando para estupra-la, que algo inesperado aconteceu. Do nada, como uma trovoada repentina, do meio do mato, derrubando a cerca de madeira que separava o pasto da estrada, surgiram quatro touros furiosos que avançaram em direção ao ponto onde Cecília e os rapazes estavam. Ao ver aqueles enormes animais, com chifres imensos e pontudos, mugindo e vindo em direção a eles, os homens a soltaram e correram para detrás das arvores que havia no local. Cecília pensou que era um sonho, mas não era. Os quatro touros pararam a poucos metros de onde ela estava caída. Eles se voltaram em direção às arvores onde estavam escondidos os rapazes e na mais perfeita formação, como se formassem um batalhão de choque, lá eles ficaram, parados, bufando, balançando suas cabeças e batendo os cascos no chão em atitude ameaçadora, e na frente deles, ela mal pode acreditar. Lá estava ele, o pequeno Bandit. Ele latia com toda a força e de vez em quando, olhava para Cecília, como se quisesse dizer que ela agora estava salva. Depois olhava para os homens, como se quisesse dizer a eles, que agora ele queria ver se eles iriam ter coragem de se aproximar novamente de sua amiga.

Aquela cena que mais parecia uma cena de filme de Walt Disney, durou alguns poucos minutos. Os rapazes correram em disparada para suas motos, mal tendo tempo de recolher suas roupas que estavam caidas no chão e fugiram assustados. Os touros onde estavam, eles ficaram. Não se movimentaram nem sequer um milímetro de sua posição de defesa. Quando os bandidos já estavam longe, fora das vistas, Bandit parou de latir, foi até sua dona que a estas alturas estava sentada no chão, com as roupas rasgadas e chorando. Ele chegou bem pertinho dela, colocou suas patas dianteiras em seu peito e lambeu sua face molhada de lágrimas. Cecília o abraçou e naquele momento, ela não sabia o que dizer. Não sabia como agradecer a ele pelo que tinha feito por ela. Seu amigo, seu amado cãozinho vira-latas, a tinha salvo de morrer, ou no mínimo, de acabar estuprada por aqueles treis motoqueiros, bêbados, mal cheirosos e mal encarados. Ela não reparou a princípio, mas os Touros não tinham ido embora. Agora eles estavam olhando para ela e para Bandit. Eles estavam tão calmos, que parecia que tinham acabado de chegar e nada de mal estivesse acontecendo.

Bandit saiu de perto de Cecília e foi até onde estavam os quatro Touros e como se estivesse conversando mentalmente com eles, o pequeno cãozinho parava em frente de cada um deles, olhava em seus olhos e o imenso animal balançava a cabeça em sinal de afirmação. E assim foi. Um após o outro. Ela assistia aquela cena fascinada. Bandit parecia estar agradecendo a eles, dizendo que agora estava tudo bem e que eles poderiam voltar para o pasto onde era seu lugar. Um a um, lentamente eles foram andando e entram pelo mesmo lugar de onde saíram na cerca que eles haviam arrombado. O pesadelo acabou, mas ela podia até jurar que viu uma troca estanha de olhares entre Bandit e os Touros quando eles estavam indo embora. Cecília se arrumou o melhor que pode. Pegou Bandit no colo e caminhou em direção ao sitio. De volta ao lar. De volta à segurança do seio de sua família. Quando lá chegou, todos já haviam almoçado e tinham saído em grupo para pescar. Cecília entrou em casa, tomou um banho, trocou de roupas e apesar de tudo que tinha acontecido, ela estava com fome e resolveu almoçar. Bandit também deveria estar com forme e quando ela pensou que iria dar um pouco de lasanha ao seu melhor amigo, mesmo antes dela fazer qualquer movimento indicando o que iria fazer, Bandit já estava em frente ao fogão, sentado sobre as patas traseiras e com as dianteiras, ele fazia sinal de que queria algo que estava num lugar bem acima de sua cabeça. Sobre a boca do fogão, exatamente para onde Bandit apontava com sua pata dianteira, e olhava ansioso, estava uma travessa cheia de lasanha. Cecília sorriu para ele. Bandit lambeu os beiços e balançou seu rabo.

Ela colocou lasanha em seu prato e tambem na vasilha de Bandit. Os dois foram para a sala e sentaram no tapete em frente à televisão. Enquanto Bandit comia sua lasanha, ele parava de vez em quando. Olhava para TV. Levantava suas orelhas, balançava seu rabo e olhava para Cecília. Ela olhava para ele com carinho e balançava a cabeça como se estivesse entendendo o que se passava em sua cabeça. Naqueles momentos, ela se sentiu a garota mais abençoada deste mundo. Deus não só havia lhe dado a responsabilidade de tratar, cuidar, dar carinho, amor e alimentar um animalzinho. Ele deu a ela, um verdadeiro amigo, mas não um amigo qualquer. Um amigo muito especial, com inteligência própria e poderes telepáticos, muito além do que é aceito pela ciência dos homens. Isto porque supostamente, de acordo com o que o homem diz, tão convencido e cheio de si, qualquer outro animal que não seja ele, é um ser irracional...

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