Houve um tempo em que a Folha Ilustrada publicava microcontos de autores como João Gilberto Noll, Voltaire de Souza (Marcelo Coelho) e Fernando Bonassi, entre outros. Vasculhando alguns recortes, encontro este magnífico exemplar da prosa mínima do Fernando Bonassi daqueles tempos:
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Sangue Ruim
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Passo faca, meto bala, dou pedrada e o que for preciso. Pra mim, pulou é pulga qu eu esmago na unha. Gastei o que não tinha. roubei o que precisei e também o que era luxo. Pus muita cria sem sobrenome pra pedir por aí. Reparti errado. Fiz intriga. Tomei a parte de outros. Molhei a mão de fardas e togas que me deram na cara. Tudo bem, tive minha volta... pra desilusão de umas mulheres, que agora vivem da pensão desse estado de coisas. Também já fiz bastante bagunça onde imploravam silêncio. Neguei água pra sedento. Pão pra esfomeado. Neguei conforto pra quem apareceu moído. Neguei o ar que se respira! Só não nego é fogo. E não me arrependo. Aliás, me matar vou eu mesmo, que pra Deus nenhum dou esse direito sagrado."