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Contos-->UMA CARTA PARA MAMÃE -- 26/04/2009 - 22:10 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em certo ponto da vida, Josimar já era casado ha muitos anos, tinhas três filhos e uma neta. Sua felicidade poderia ser completa se não fosse as saudades que ele tinha de sua mãe. O mês de maio estava se aproximando e mais uma vez o dia das mães. Todos os anos, na mesma época, seu coração ficava apertado e uma angustia enorme invadia seu peito.

Ele daria tudo para ter sua mãe ao lado dele, para que pudesse dizer a ela muitas coisas que ele queria ter dito quando jovem, mas não disse, como por exemplo, pedir perdão a ela por muitas coisas que ele havia dito e depois se arrependeu. Maio chegou e com ele a véspera do dia das mães. Ele estava se sentindo mal. Sentia um remorso profundo por ter se calado e deixado ela partir, sem ter dito a ela o que tinha vontade de dizer, mas não o fez. Era uma sensação que lhe causava até mesmo falta de ar. Ele precisava de alguma forma expressar seus sentimentos, e de repente, uma idéia lhe veio à mente. Iria escrever uma carta para sua mãe.

Quando ele sentou em frente ao computador e abriu o editor de texto, como se fosse mágica, ou milagre, ao começar a escrever, ele sentia como se estivesse falando com ela e assim, não parou até o fim. Ele não precisava pensar. Tudo que ele queria ter dito à sua mãe enquanto viva, ele estava dizendo naquele momento e tudo fluía livremente de seu coração e ao final, a carta ficou assim:

Mamãe,

A comemoração do dia das Mães chegou e mais uma vez e já fazem vinte anos que eu não tenho mais você aqui do meu lado, para que eu possa abraça-la, beija-la e dizer que te amo muito.

Olha Mãe, há muito tempo que eu tenho tanta coisa para te dizer e você não esta mais aqui para me ouvir, você se foi e eu não pude impedir, não pude fazer nada para você ficar e agora só o que posso fazer, é te escrever esta carta, sabendo que de você está, está lendo cada palavra que estou escrevendo.

Sabe Mãe, quando eu era pequeno e meu Pai me batia e você não fazia nada para impedir eu ficava pensando no porque você não me defendia e aquilo me maltratava mais do que as surras que eu levava.

Pois é Mãe, eu não compreendia porque era muito pequeno e não sabia nada da vida, nunca poderia me passar pela mente, que você tinha medo de ir contra qualquer ordem do meu Pai, que você ficava quieta porque sabia que se reagisse, coisas muito piores poderiam acontecer comigo e com a senhora.

Hoje eu sei disso Mãe, sei que seu amor por mim era tão grande que você passava muitas vezes por muitos mal tratos, muitas humilhações e privações, só para que eu não sofresse mais ainda.

No meio de tantas coisas que aconteceram quando eu era pequeno, apesar de nunca ter podido estar com você do jeito que hoje eu gostaria de ter estado, sua lembrança me enche de saudades, sim Mãe, saudades de você, não daquele tempo onde você e eu vivíamos com medo o tempo todo.

Existem lembranças Mãe, que se sobrepõe a todas as outras e essas Mamãe, valem para mim mais do que qualquer tesouro.

Lembra das trovoadas e tempestades que assolavam a Várzea do Palácio?

Nossa Mãe, como me lembro delas!

Jamais irei esquecer que quando elas chegavam, você me agarrava pelo braço, já gritando bem alto “Deus tenha piedade de nós” e me trancava dentro do guarda roupa para me proteger da fúria das chuvas e lá eu ficava morto de medo, esperando a chuva passar para sair da escuridão e da falta de ar.

Naquela época mãe eu nem podia ouvir falar em chuva, não por medo delas, mas por medo de você me trancar de novo no guarda roupa, Ah! Mãe, a senhora nem imagina o pavor que eu tinha de ficar trancado lá!

E o tempo passou mãe, eu cresci, me tornei um rapaz, aprendi a compreender muito cedo o porque de muitas coisas que nos aconteciam e a cada dia Mãe, dentro de mim ia crescendo mais e mais meu sentimento de gratidão, de respeito, de admiração pela mulher que você era Mãe.

No meio dos quatro filhos que a senhora teve, só eu sobrevivi e se estou aqui hoje Mãe, devo isto a você, à sua dedicação em me preservar, em me criar e educar da melhor maneira que você podia.

Naquela fase das nossas vidas, quando eu já tinha compreendia tudo que eu via e ouvia, quantas vezes eu não lhe disse, que a senhora deveria cuidar mais de si mesma e pensar mais na senhora mesma, que você deveria viver sua própria vida, que você devia não devia querer viver unicamente para os outros, pois eu sabia mãe, que você era mulher, um ser humano com todas as necessidades e carências físicas, biológicas e sentimentais, que você estava deixando de viver, na expressão da palavra.

Pois é Mãe, o tempo passou e com ele a senhora foi envelhecendo e continuou a pensar só em mim, no meu bem estar, na minha saúde e deixou seu tempo escorrer, como escorrem as areias da praia entre nossos dedos.

Eu sempre quis te preservar Mãe, mas você tinha um só motivo na vida que era me ver vivo, saudável, trabalhando e me tornando um ser humano de bem.

Quantas e quantas vezes eu não ficava muito bravo por opiniões que você dava sobre minhas amizades?

O que eu não compreendia Mãe, é que você sempre teve um sexto sentido e que tudo que você dizia, fatalmente acontecia, querendo eu ou não e você se lembra quando conheci minha ex-esposa Mãe?

Quando eu a conheci e me apaixonei cegamente, já não enxergava nada na minha frente a não ser ela, seu sorriso, seu charme, seu encanto, sua voz...

Mas você mãe, apesar de estar já com as vistas cansadas enxergava muito mais do que eu e tentou abrir meus olhos muitas vezes e eu me neguei.

Parece que estou ouvindo você dizer Mãe, “Filho, esta moça ainda vai te fazer sofrer muito, ela não é a pessoa certa para você”, eu não te ouvi Mãe e além de não te ouvir te disse que a vida era minha e eu era quem decidia o que era certo ou era errado e como eu estava errado Mãe, você tinha toda razão!

Olha Mãe, eu sinto muito, mas muito mesmo não poder estar dizendo hoje a você tudo o que sinto hoje a respeito de nossas vidas, pois sei Mãe, que hoje eu poderia fazer jus ao cuidado que você sempre teve por mim, hoje eu saberia te ouvir e te respeitar mais do que nunca, te dar todo o amor que você merecia minha Mãe!

Só sei Mãe, é que o tempo passou e com ele veio a doença que a fez sofrer tanto até o dia de sua partida.

Eu teria feito tudo Mãe, qualquer coisa para não ter te visto com tanta dor, com tanto sofrimento!

Tentei cuidar de você, faltando no banco onde trabalhava, perdendo dias e dias de trabalho, as noites e noites de sono perdidas à sua cabeceira para tentar te salvar Mãe, enquanto meu Pai nem sequer sabia em que hospital você estava, tentei com todas as minhas forças fazer você ficar comigo Mãe, mas havia chegado a hora de você fazer a grande viagem, a travessia...

No dia em que você partiu Mãe, em seu velório na capela do cemitério, meu Pai apareceu e eu estava tão passado que naquele momento a única coisa em que eu podia pensar era que você estava para ser enterrada, eu estava te perdendo para sempre.

Lembro Mãe, que ele ficou o tempo todo em volta do caixão com uma expressão de alívio, daquelas que as pessoas mostram quando se livram de um problema.

Apesar de não ter falado nada com ele eu estava sentindo, sofrendo por ver o pouco caso que ele estava fazendo de sua partida e quando chegou a hora de lacrarem seu caixão, quando disseram a ele que era chagada a hora ele correu, pegou a tampa do caixão e rapidamente, sem sequer te olhar fechou e começou e parafusar a tampa...

Naquele momento Mãe, aquilo foi demais para mim, instintivamente levei as mão ao meu rosto para não ver, me virei com tanta violência para trás que bati a cabeça na coluna da igreja e perdi os sentidos...

Não vi quando você partiu de vez deste plano Mãe, assim como não vi quando e para onde te levaram, pois naquele fiquei desacordado por horas e quando me recuperei, não quiseram me levar ao local onde te colocaram para sempre.

Eu sei Mãe, que de onde você estiver, você estará sempre cuidando de mim, do meu bem estar, assim como de seus netinhos e bisneta que você nunca teve nos braços, mas mesmo sabendo que você esta sempre comigo em espírito mãe, eu faria qualquer coisa para que você estivesse aqui ao nosso lado, ao meu alcance, para que eu, minha família pudéssemos nesta data te abraçar muito e dizer:

Feliz dia da mães Dona Luzia!

Quando ele terminou de escrever a carta para sua mãe, parecia que um peso enorme havia saido de suas costas. Foram tantos anos de angustia, tantos momentos de arrependimento por não ter dito tanta coisa à sua mãe enquanto ela estava viva. Tudo que estava guardado em seu peito e que o sufocava, passou para o editor de textos naquele momento e ele sentiu do mais fundo de sua alma, que deveria deixar sua esposa, seus filhos e sua neta e todos os amigos, vizinhos e parentes ler tudo o que ele escreveu.

Todos ganharam um cópia que ele imprimiu e após lerem em silêncio, alguns com os olhos cheios de lágrimas, outros soluçando, compreenderam ao ler aquela carta, que a gente deve fazer tudo que pudermos pelos nossos entes queridos enquanto estiverem vivos, porque depois que eles partirem, até que haja um novo encontro, sofreremos as consequencias de nosso silencio, de nossa falta de sensibilidade para compreender, que para que as pessoas saibam o que estamos pensando e sentindo, é preciso falar.

A carta que Josimar escreveu para sua mãe mexeu com os corações e emoções de muitas pessoas. Cada uma de um jeito, mas muitas delas, se viram no lugar dele como filho porque agiam igual, outras no lugar de sua mãe, pela dor da incompreensão.

Cada pessoa que leu a carta, vivia situações diferentes do que ele e sua mãe viveram, mas foram tocadas profundamente por tudo que ele escreveu, e isto, porque sem dúvida nenhuma, quando se trata de sentimentos, de alguma forma, mesmo que a maioria diga que não, somos todos iguais.

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