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Contos-->A Coragem por um fio.... -- 30/04/2009 - 13:12 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aos sábados a tarde, reuníamos para conversar sobre meninas, contar piadas e historias que muitas vezes víamos que eram inventadas e outras coisas mais.

As conversas paravam no fechamento da bodega do Seu Quintino. Os contos giravam em torno de fantasmas que causavam medos entre nós. Um jeito de nos divertir, porque a maior parte dos rapazes trabalhavam até as vinte e quatro horas. Nossa alegria era testar a coragem de cada colega. Um amigo chamado Dirceu, fazia-se de corajoso, desafiava a todos. Ele dizia não ter medo de nada, ficava desafiando os espíritos.

Os amigos lhe aconselhavam a não duvidar destas coisas:
_ Cuidado, você poderá ser castigado por estar provocando o desconhecido!
Dirceu respondia:
_ Seus covardes, medrosos! As coisas que dizem ter visto, é pura ilusão de óptica. Para mim nada aparece. Os fantasmas que dizem ter visto é imaginação de suas mentes, como podem acreditar em tal baboseiras. Quem morre, apaga para sempre!

Eu sabia que Dirceu não era tão corajoso como demonstrava. Ele não queria que os amigos percebessem porque poderiam fazer gozações. Então sabendo disso, guardava seu segredo. Ninguém percebia. Sua infelicidade chegou no dia em que ia sentir o medo de perto. Deixando o trabalho as três horas da manhã, dirigia-se para casa, por uma estradinha através da mata. A noite encontrava-se como um breu, mal se conseguia ver o caminho.

Acabou o turno de trabalho de Dirceu e na saída do serviço foi avisado pelos amigos:
_ Hoje é sexta-feira, cuidado com o diabo! Veja que não tem luar, você vai se dar mal.

O Dirceu não se intimidou e respondeu com convicção:
_ Então que apareça... Colocarei o desgraçado para correr!!

Depois da resposta aos amigos saiu rindo e debochando. Dirceu percorreu a metade do caminho. Logo sua mente começou agir:
_ E se Deus me castigar pelas brincadeiras que faço? Por favor, o Senhor sabe que falo da boca para fora. É tudo mentirinha, por favor me proteja!

Dirceu continuou caminhando com certa dificuldade devido ao escuro. A mata dificultava sua visão. Aproximando-se de um morro, notou algo estranho no barranco. Ele parou, olhou, esfregou os olhos e nada modificava. A visão estava lá e era um senhor bem velhinho. Tinha cabelos longos, barba branquinha. A descrição perfeita para a imagem vista era um velho guru indiano. Ele diminuiu os passos e falou para si:
_ Cadê a minha coragem? Onde esta a valentia que tanto apresento aos outros? Eu não posso voltar correndo para firma porque imagine a gozação que ouvirei dos amigos. Então serei desmascarado!! Que Deus me proteja e vou ter que enfrentar o velhinho custe o que custar.

Lembrou-se de uma frase que seu pai sempre comentava:
_ Filho, tenha medo dos vivos! Os mortos não podem lhe fazer nenhum mal. Se um dia deparar-se em tal situação, siga em frente. Demonstre respeito e não provoque, que nada lhe acontecerá.

Dirceu resolveu iniciar a caminhada. Em cada dez metros ele parava, olhava, observava, tentando decifrar o que seria aquilo a frente. Seria um homem? E o que estaria fazendo naquela hora, exatamente ali onde teria que passar? Ao observá-lo, Dirceu percebia que o homem parecia sereno, os movimentos eram levar as mãos na barba e alisar. Quanto mais ele olhava, a situação parecia se tornar real.

O rapaz corajoso tinha seus cabelos em pés. Os pêlos estavam arrepiados, duros como arame. Ele resolveu criar coragem e apurou os passos. Dirceu passou para a esquerda da estradinha e tirou o canivete do bolso. Abrindo-o, segurou firme na mão. Pensou consigo mesmo, tentando encorajá-lo ainda mais:
_ Seja o que Deus quiser! Caso este velho venha para cima de mim, meto-lhe o canivete na sua barriga e eu saio correndo para casa.

Andando ligeiramente, abaixou a cabeça e foi em direção da casa, sem olhar para o velho. Ao chegar no local aonde o velho estava, bem a sua frente, ele resolveu olhar para matar a curiosidade que também crescia em sua mente. Foi neste instante que veio a decepção. O fantasma que parecia sereno eram duas touceiras de capim, chamada de barba de bode. As plantas estavam secas. Uma das touceiras estava na parte alta do barranco e a outra um pouco mais abaixo. Era a posição das barbas de bode com a direção do vento que dava movimento a imagem.

Havia uma réstia de luz entre as matas, a qual vinha de um poste próximo da indústria, clareando o local. Dirceu ficou envergonhado ao perceber o engano. Porém, analisando o outro lado da historia, ele percebeu que sua coragem não foi abalada. Caso tivesse recuado, contado a historia para os amigos, seria insuportável as sátiras que surgiriam. Ele imaginou os amigos, no dia seguinte indo até o local e ao passarem, verem que o fantasma do lugar era duas touceiras de capim barba de bode. Isto seria o fim do corajoso Dirceu.

Dirceu foi valente, não esmoreceu, mas graças as palavras sábias de seu pai. Até hoje continua desafiando os espíritos. A verdade em seu intimo é que a coragem esteve por um fio num dia em sua vida. Esta prova de fogo, inconscientemente lhe deu uma moral ao ponto de que em situações aflitivas ou difíceis, fez nascer mais um São Tomé. Descobriu que quando estamos cheio de duvidas, que a nossa mente, é capaz de nos enganar, criar coisas absurdas, moldar objetos, modificar nossa visão. O medo nos alerta mas a coragem nos fortalece! Acredite em sua intuição, porque como disse o Rei Salomão há milênios:

“...Porque o medo é apenas a falta de socorro que vem da reflexão; quanto menos reflexão interior tivermos, mais alarmante parecerá ser a causa oculta do tormento.”
(Sabedoria 17:10)

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