Van Grogue encontrou-se com Elza defronte a porta do Shopping, de onde ela saíra, depois de tomar um sorvete e comprar alguns brinquedos numa loja especializada.
Quando ela o viu mostrou-se surpresa, não esperava jamais ver o amigo ali, àquela hora.
- E ai, bastante frio? – perguntou ele com um sorriso maroto nos lábios.
- Bastante. Veja quantos casacos! – respondeu ela, mostrando-lhe as blusas e sorrindo.
Van que desejava há muito conversar com a moça sobre um assunto delicado, parou, pensou e, tomando uma decisão arriscada, falou, sentindo uma espécie de constrição na garganta:
- Sabe Elza, alguns passarinhos têm me contado que você não está assim tão satisfeita com o seu relacionamento afetivo, não é verdade? O que está acontecendo?
- Quem foi que contou sobre isso pra você? – Elza estava mesmo surpresa. Intrigada, ela prosseguiu com a inquirição:
- Diga-me, quem está fazendo fofocas sobre Gabriel e eu? Será o Benedito que não posso ter nem uma temporada sequer de sossego? Nossa! Estou mesmo indignada. Será que já encheram a internet de titica, de novo?
Van Grogue chegou a pensar que entrara numa “roubada”, mas decidiu insistir:
- Gabriel não tem lhe dado muita atenção, não é? Parece que ele não vem cumprindo direitinho com, digamos, aquelas “obrigaçõeszinhas”, necessárias para a manutenção de um bom relacionamento, que normalmente existe entre marido e mulher, não é verdade?
- Van eu acho que você... Nossa cara, quem tem dito essas coisas assim pra você? Segundo consta você não tem nada de mago ou coisa assim, é verdade ou mentira?
Eles conversavam parados num local onde o fluxo de pessoas era constante. Algumas delas paravam para fotografarem-se umas às outras.
- Sabe, quando o cara mostra-se assim muito distante, entretido com vídeo games, futebol ou amigos, isso não significa que ele possa ter outro alguém. Você me entende? Esse afastamento não pode autorizar você a vingar-se de alguma coisa, que pode não ter acontecido. Não é verdade?
- Estou com ódio dele. Acho que acabou o que existia entre nós. Ele está muito chato, grosseiro, bastante tosco. Não posso mais continuar. – Elza rendera-se à verdade e expusera seu coração. - Ele está indiferente. Tenho certeza que vem me traindo. – continuou ela.
Sem prestar atenção nas pessoas que passavam por perto, olhavam e, até ensaiavam parar, Van prosseguiu:
- Escute, eu acho assim: se já não existe nada mais daquilo que atraiu, que juntou vocês, tanto da parte dele, quanto da sua, então o mais sensato é vocês abrirem logo o jogo, ou seja, de colocarem um ponto final no relacionamento, explicando os motivos. O equivocado é um ficar traindo o outro de forma digamos, covarde. Isso não é bacana, não é legal e, além de tudo é também muito perigoso.
- Você acha que eu devo dizer assim, sem mais nem menos, que não sinto mais nada por ele? – Elza demonstrava bastante interesse.
- Eu acho que sim. Seria mais honesto. O fim de um relacionamento não precisa ser contencioso, litigioso, depois de muita briga, compreende? Tudo pode ser amigável, sem que ninguém saia ofendido. Morou?
- Compreendo. Mas agora eu tenho de ir. Alguém me espera. Tchau Van. Eu não sabia desse seu lado bidu.
- Tchau Elza. Olha, leva essa pata de coelho, que pode dar sorte. Quem sabe?
Depois do beijo fraternal, com o qual se despediram, cada um seguiu por seu próprio caminho.
Fernando Zocca.
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