Usina de Letras
Usina de Letras
12 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62285 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6209)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->UM NOVO AMANHECER -- 20/05/2009 - 00:18 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O dia ainda não havia amanhecido na aldeia de pescadores da Praia do Espanhol, um lugar que mais se parecia com um quadro pintado pelas mãos de um dos grandes mestres da pintura. O céu limpo daquela madrugada ainda se mostrava cravejado de estrelas num fundo azul marinho, que lembrava o manto de Nossa Senhora da Aparecida e elas brilhavam como se fossem pequenos diamantes incrustados no manto da padroeira do Brasil. Todos os dias, quando ainda era possível ver o espetáculo das estrelas brilhando no céu e o mesmo tempo poder ver no horizonte distante uma pequena faixa avermelhada entre o céu e as águas do mar, o galo da pequena aldeia dos pescadores, abria suas asas e cantava anunciando o amanhecer. Quando o sol surgia iluminando a pequena praia da aldeia, a visão dos barcos dos pescadores, todos pintados de branco, com faixas de uma outra cor para diferencia-los e também para que se pudesse identificar ao longe a quem eles pertenciam, era um verdadeiro espetáculo de cores e luz.

As casinhas dos pescadores, todas feitas de madeira e cobertas com palhas de coqueiros, davam ao lugar um clima de muita paz e comunhão com a natureza. Os coqueiros plantados em fila indiana na parte de trás da aldeia complementando a beleza e encantos do lugar tinham suas folhas balançando ao vento suave que soprava vindo do mar. A vida dos pescadores daquele lugar era pacata, não tinha grandes emoções, nem preocupações maiores do que a sua sobrevivência que eles tiravam da pesca diária em suas embarcações. Em cada casa, em cada família, a paz e a união reinava em meio a muito amor, compreensão e solidariedade entre todos. Era uma vida pobre, sem muitos recursos, mas havia o bem maior, havia amor em seus corações. Contudo, naquela manhã aconteceu algo que há muito tempo não acontecia. Ao raiar de um novo dia, o galo não cantou.

O sol já atravessava as inúmeras frestas que havia entre as tábuas que juntas, formavam as paredes de sua casa. Meio zonzo por ter dormido além do habitual, quando um facho de luz solar atingiu seus olhos ele escondeu a cabeça debaixo do travesseiro feito de penas e resmungou algo quase inaudível, mas foi o bastante para acordar Severina. Como esposa e mãe zelosa, ao perceber o que aquilo o incomodava, ela levantou-se para colocar um pano cobrindo a fresta por onde entrava a luz, mas ele a puxou de volta para a esteira, abraçando-a com muito amor. Ao lado da esteira onde dormiam ficava uma pequena caixa de madeira com a qual tinham feito um berço improvisado para Belinha sua filha de apenas um ano de idade. Quando ele a abraçou, ela correspondeu rapidamente ao carinho recebido, mas logo se desvencilhou para cuidar dos afazeres domésticos. Tudo parecia estar no mesmo ritmo de sempre, a vida seguia seu rumo, não só na casa deles, mas em todas as outras casas da aldeia. Tanto, que ninguém deu por falta do canto do galo ao amanhecer. Uma vez que já estava em pé, Severina pôs-se como sempre a preparar o café da manhã e Tião a observava enquanto ela preparava Tapiocas na chapa do pequeno fogão a lenha.

Ele sempre se considerou uma pessoa feliz. Tinha tudo que um homem de bem precisava. Tinha uma casa, uma esposa, uma filha linda e um barco herdado de seu pai que o havia herdado de seu avô. Era um barco velho, mas muito bem construído e Tião o mantinha com todo cuidado, porque era o seu instrumento para o ganha pão. Severina assava as Tapiocas e de vez em quando olhava para Tião e de seus lábios brotava um sorriso. O coração dele era capaz de ler naquele sorriso muito mais do que alguém possa imaginar. Eles não eram velhos, haviam se casado há não muito tempo, mas o entrosamento, o amor e a cumplicidade que havia entre eles, em momentos especiais como aqueles dispensava palavras. Seus corações diziam tudo. Contudo, apesar daqueles momentos felizes, estava faltando algo. Parecia que o ar estava pesado, que o mal estava rondando aquela casa, mas mesmo sentido uma certa negatividade no ar, eles seguiam a rotina do inicio de mais um dia. O café já estava pronto quando ela finalmente foi trocar Belinha.

Ao se virar para ir até onde estava o pequeno caixote, seu coração quase parou. Rastejando sobre a manta que cobria a pequenina, havia uma cobra. Não era uma cobra grande, apenas um bebê como sua filha, mas se ela a picasse, só Deus sabe o que poderia acontecer. Muda, paralisada onde estava, com muito esforço ela fez um sinal com a cabeça para Tião, para que olhasse para a caixa onde estava Belinha. O coração de um pai nestes momentos parece se igualar ao coração de uma mãe e Tião com os olhos arregalados e o coração quase saindo pela boca, foi caminhando lentamente na direção de onde estava sua filha. Quando ele estava quase lá, Belinha abriu os olhos. Como todo bebê, quando viu seu pai vindo em sua direção, com toda alegria sacudiu os pezinhos e balançou os braços e foi então, que ao bater sua mãozinha bem ao lado de onde estava a cabeça da pequena cobra, ela a picou. O bebê deu um grito de dor e começou a chorar. Como um raio, Tião deu um tapa na cobra jogando-a para longe e sem perder tempo, procurou ver onde ela havia picado sua filha e chupou com força para retirar o que pudesse do veneno. Após cuspir muito entregando Belinha a sua mulher, ele matou a pequena cobra esmagando-a com os pés.

O pobre animal que apenas mordeu para se defender, foi reduzido a quase nada tamanha a raiva que invadiu o coração de um pai apavorado. Belinha gritava desesperadamente enquanto Severina chorava com ela no colo sem saber o que fazer. Ao ouvir os gritos e a choradeira, os vizinhos vieram acudir. Todos na vila era muito solidários, pobres sim, mas na hora do apuro, sempre ajudaram uns aos outros como é a vontade de Deus. Uma senhora que era a benzedeira do lugar, ao saber o que havia acontecido e ao ver a cobra morta, examinou o que sobrou do animal com atenção e disse que ela não era das mais venenosas. Afirmou que se ela picasse um adulto, ele teria febres altíssimas e não fosse medicado adequadamente, poderia até mesmo ficar com alguma seqüela, com algum defeito físico ou até mesmo podendo ficar cego, mas uma criança daquela idade, era difícil dizer o que poderia acontecer.

Tião ouvindo aquilo gritou desesperado que precisavam levar Belinha com urgência ao único médico que havia na cidade mais próxima. Severina nem piscou. Passou a mão na sua trouxa onde estavam algumas roupas de sua filha e saiu correndo na frente enquanto pedia a Deus que não lhe tirasse a sua pequenina. Como um cortejo, todos os moradores da aldeia acompanharam o casal e sua filha até a cidade que ficava a uma boa distancia do lugar onde viviam. A caminhada durou quase uma hora, mas ninguém, homens, mulheres ou crianças sentiram qualquer cansaço. Estava em jogo a vida do mais novo membro de sua aldeia e como tal, era como se fosse alguém de suas próprias famílias. Ao chegarem no portão da casa onde morava o médico, Tião bateu palmas, mas ninguém veio atender. Bateu novamente e mais uma vez ninguém atendeu. Desesperado ele pulou o muro e foi até a porta da frente, onde bateu forte com as mãos.

Após algum tempo, foi possível ouvir que alguém estava vindo atender. A porta se abriu. Quem os recebeu foi uma empregada que perguntou a Tião o que tinham vindo fazer. Apressadamente ele explicou os fatos e ela disse para esperar, pois iria falar com o Doutor. Com o coração saindo pela boca ele, sua esposa com Belinha nos braços e todos aqueles que os acompanharam ficaram angustiados à espera da resposta. Mais uma vez a porta se abriu e a empregada disse a Tião que o médico tinha lhe dito que só atenderia, fosse o que fosse, se tivessem dinheiro para pagar a consulta. O sangue subiu à cabeça de Tião. Parecia que ele estava sendo queimado vivo tamanho o ódio que surgiu do mais fundo de seu coração. A empregada sabendo qual era a resposta, pois conhecia a todos porque seu pai também tinha sido um pescador daquela aldeia e com medo de receber represálias por parte de seu patrão, fechou a porta sem permitir que alguém dissesse algo mais. Naquele momento um estrondo se ouviu.

Tião deu um murro com tanta força na porta que até mesmo quem passava do outro lado da rua pode ouvir. Severina chorando copiosamente embalava em seus braços a pequena Belinha que ainda chorava sem parar. A velha senhora que era benzedeira, sendo muito mais velha que todos na vila, lembrou-se de todos os preconceitos que havia por parte de todos da cidade contra os pescadores de sua aldeia. Quantas e quantas vezes ela viu partir deste mundo pessoas muito queridas por falta de socorro médico quando mais precisavam. Ela pensou, mas não disse, que e vida de Belinha agora estava nas mãos de Deus. Não havia para onde correr. Ninguém além do médico poderia salva-la, mas por não poderem pagar ele não iria atender como o fez com inúmeros outros que o procuraram antes. Tristes, abatidos e revoltados com aquela situação, resolveram voltar, mas no caminho iriam passar pela única farmácia da cidade e tentar conseguir algum medicamento fiado para aliviar a dor e a febre de Belinha, que já era possível ser sentida apenas tocando em sua testa.

Ao chegarem lá, o pobre pai desesperado se ajoelhou aos pés do dono da farmácia suplicando sua ajuda, mas ele disse que ninguém da aldeia de pescadores tinha mais crédito com ele, pois já tinha levado muito calote e não estava lá para bancar a saúde de ninguém. Mais uma vez o ódio se manifestou no coração de Tião. Se não fosse por alguns pescadores o terem segurando, ele teria matado o farmacêutico com suas próprias mãos. A ultima esperança estava nas mãos dele, mas como o médico, porque não tinham dinheiro, negou-se a atender ao seu pedido. A caravana de pessoas da aldeia de pescadores marchou de volta para lá e ao chegarem na casa de Tião, ninguém foi embora para suas casas. Todos queriam de alguma forma ajudar. Algumas mulheres cuidaram da casa, outras da comida, outras dos cuidados de Belinha que recebia compressas de água quente feitas com folhas medicinais. Enquanto isto, Tião chorava sentado num canto do lado de fora de sua casa.

Os homens o confortavam dizendo que com a graça de Deus, tudo iria passar. Que ele não deveria perder as esperanças, porque ao contrário dos homens, para Deus, nada é impossível. A manhã se passou, a tarde também e logo após veio a noite e exaustos, a maioria voltou para suas casas para descansar. A velha benzedeira foi a única a ficar. Enquanto Tião e Severina a observavam, exaustos, mas sem sentir o sono pesar, ela rezava e benzia a pequenina e assim foi, até o amanhecer. No dia seguinte, já eram quase 10 horas da manhã e nenhum dos dois tinha dormido. Trêmula, Severina embalava sua filha e ainda rezava pedindo ao pai todo poderoso que salvasse seu pequeno anjo. Em dado momento, ela colocou a mão na testa de Belinha e seu coração disparou. A febre havia cedido e a menina já estava respirando com maior facilidade. Sem fazer barulho, ela estendeu a mão o seu marido que estava ao seu lado e sorriu.

Ao vê-la sorrir, num salto Tião se levantou do lugar onde estava para ver melhor sua filha. Belinha agora dormia e parecia estar sonhando. Em dado momento ela sorriu. Lágrimas vieram aos olhos dos dois admirando seu pequeno anjo e reverenciando mais uma vez o poder de Deus. Os vizinhos não passavam um dia sem ir visitar o casal e levar seu apoio, ajudando como podiam. Apesar de ter ficado com uma mancha avermelhada em seu pequeno braço, Belinha foi se recuperando dia a dia e 2 semanas depois, ela balançava as pernas e sacudia os braços ao ver seu pai sempre que o via se aproximar. Mesmo na pobreza, mesmo não tendo nenhum bem material de valor, eles tinham presente em suas vidas, o maior tesouro do mundo, o amor. A vida aos poucos retomou seu curso natural e a rotina daquela gente pacata voltou a ser a mesma, mas esta estória não termina aqui.

Outras manhãs se passaram e estranhamente em nenhuma delas o galo cantou ao amanhecer. Era algo que deveria ter chamado naturalmente a atenção de todos os moradores da aldeia dos pescadores, mas somente a benzedeira deu àquele acontecimento a devida atenção. Com toda a sua experiência de vida, ela sabia que havia algo errado, que o mal ainda estava pairando sobre todos, apenas à espera do momento certo para agir. Pelas manhãs os pescadores saiam com seus barcos para pescar e muitas vezes só retornavam no final da tarde e enquanto não voltavam para casa suas esposas e suas famílias ficavam rezando para que Iemanjá, a rainha do mar, permitisse que seus homens voltassem sãos e salvos. Era a rotina, era a vida deles, a única vida que conheciam além daquelas em que eles viviam apenas em sonhos.

Muitas vezes eles faziam um mutirão a beira mar para consertar redes, calafetar seus barcos com uma mistura especial conhecida há séculos por seus ancestrais que passaram a formula de pai para filho, geração após geração. Quem passava pela estrada que ficava próxima da aldeia e via aqueles homens trabalhando com afinco para manter seus barcos em ordem, ficavam maravilhados com a cena de completa união entre eles e paravam para ouvir a musica que eles cantavam, dando um encanto especial àqueles momentos de uma forma quase mágica. Algo raro de se encontrar. Dia após dia, tudo seguia na mais perfeita ordem, mesmo sem o galo cantar pelas manhãs, mesmo a benzedeira tendo alertado a todos sobre o risco que estavam correndo, nada parecia estar fora do lugar.

Certa manhã, Tião ajudado por Severina, empurrou seu barco até onde ele podia começar a remar, subiu dentro dele, deu um beijo em sua esposa e partiu para mais um dia em alto mar. Naquele dia ele foi só. O pescador que o acompanhava todos os dias adoeceu e não pode ir trabalhar. Tião já estava longe da costa. O sol brilhava no céu iluminando a tudo e a todos, inclusive o fundo do mar. Uma verdadeira floresta submersa composta de algas marinhas balançava ao movimento das ondas. Peixes multicoloridos nadavam em cardumes de lá para cá. Alguns desgarrados escondiam-se entre as algas, outros em corais nas proximidades quando peixes maiores estavam por perto. O fundo do mar naquela região era um verdadeiro paraíso de paz e tranqüilidade para a esplendorosa vida marinha daquele lugar.

As águas eram tão claras que era possível ver nitidamente o fundo do mar com todos os seus encantos e mistérios. De vez em quando, Tião se lembrava da origem do nome da praia onde morava. Os antigos diziam que há séculos atrás, um Galeão espanhol carregado de tesouros da coroa imperial tinha naufragado naquela região e que o único sobrevivente do desastre chegou a nado naquela praia e foi salvo pelos nativos que passaram a chamá-la de Praia do Espanhol. Contava-se também, que o tesouro naufragado nunca foi encontrado, por mais que tivesse sido procurado ao longo dos tempos. O mistério do Galeão naufragado nunca foi decifrado, nunca teve sua existência provada, porque nada, absolutamente nada foi encontrado.

Assim como os outros pescadores, Tião tinha sonhos de um dia se tornar rico. Ele queria poder dar à sua pequena Belinha a chance de estudar, se formar, de ser alguém na vida, coisa que nem ele, nem sua amada Severina tinham tido a chance de ser. Após muito tempo no mar, tendo pescado muito pouco, ele já estava ficando desanimado. Em dado momento, ele resolveu recolher suas redes e voltar para casa, mas de repente, o barco balançou um pouco mais forte e ele perdeu o equilíbrio, e para não cair no mar, deixou escapar seu velho arpão de suas mãos que caiu sem que ele pudesse evitar. Sendo ele uma ferramenta muito importante, mesmo velho e um pouco desgastado, Tião não poderia perde-lo daquela forma, pois ele faria muita falta em suas pescarias, afinal, não havia dinheiro sobrando para comprar um novo.

Com um pulo decidido, Tião se atirou ao mar. Ele mergulhou indo na direção onde havia caído seu arpão. O mar no lugar onde ele estava pescando não era muito fundo e rapidamente ele chegou onde a ferramenta estava. Tudo estava tão espantosamente claro e limpo, que era possível ver tudo à sua volta com todos os detalhes. Tartarugas enormes passavam por ele parecendo que nem se importavam com a sua presença. Cardumes inteiros o envolviam e ele se sentiu de alguma forma parte daquilo tudo. Foi uma sensação de plenitude que ele nunca havia sentido antes em sua vida, mas ele se lembrou que precisava voltar à superfície. Com uma das mãos, Tião agarrou o arpão que estava pousado na areia e quando ia se virar para iniciar a subida, uma enorme tartaruga passou raspando em sua mão e no arpão e com o movimento dela na água, a areia fina se movimentou e um reflexo dourado pode ser visto por fração de segundos e então desapareceu.

Tião ainda meio assustado pela passagem inesperada da tartaruga achou que tinha visto coisas, mas por via das duvidas, ele resolveu investigar. Sabendo que não podia segurar a respiração por muito mais tempo, ele largou o arpão e remexeu a areia rapidamente com as duas mãos. A areia subiu e quando ela baixou, como por encanto uma ânfora surgiu bem em frente aos seus olhos. Ele quase engoliu água vendo aquela peça que apesar de estar quase toda coberta por uma crosta grossa e negra, mostrava sua forma perfeita e em uma de suas alças, uma parte estava descascada daquela cobertura negra e o ouro do qual ela era feita, ao receber a luz do sol que vinha do alto, brilhava como uma lanterna em noite escura. Um mundo de sonhos que ele teve durante toda a sua vida, passou bem em frente aos seus olhos em uma fração de segundos. Ele estava rico! Finalmente ele poderia realizar todos os seus sonhos! Poderia dar a sua filha o maior presente do mundo! Ela iria poder estudar!

Com o coração batendo rápido, desesperado para chegar à superfície e liberar o grito de alegria que teimava em sair de sua garganta, Tião subiu como um raio na direção de seu barco. Ele estava tão excitado com aquela ânfora em suas mãos que nem se lembrou mais do arpão. Ele ficou lá, no fundo do mar, para ser coberto pelas areias e talvez até, para nunca mais ser encontrado. A alegria pelo achado foi tamanha, que quando ele finalmente pôs a cabeça para fora dágua, um grito se fez ouvir. Ele finalmente liberou aquela energia que estava entalada em sua garganta e com ela, um aviso a todos que navegavam por perto de que algo inusitado tinha acontecido. Após poucos minutos outros pescadores foram chegando com seus barcos e cada um que via a ânfora nas mãos de Tião dizia a mesma coisa. Tião estava rico.

Naquele dia ele não pescou mais. Ele voltou para a praia e com ele, toda uma procissão de barcos e quando os que estavam na praia viram aquilo, já sabiam que alguma coisa muito importante tinha acontecido. Mal ele pisou fora de seu barco na praia, uma multidão de pessoas veio ao seu encontro. Era sua esposa com Belinha nos braços, as mulheres e crianças dos seus vizinhos, assim como todos os outros componentes da aldeia que não tinham ido pescar. Curiosos, eles ouviam Tião contar o que havia acontecido. Em cada olhar havia uma luz diferente. Não era a mesma luz que Tião estava acostumado a ver em seus olhos. As pessoas não sabiam, mas era a ganância e a cobiça despertando dentro de cada uma delas. Outros pescadores que foram chegando, também tinham aquele mesmo brilho estranho no olhar. Tão se sentiu inseguro. Pela primeira vez em sua vida ele sentiu medo.

Todos o cumprimentavam pelo achado e lhe desejavam muito bom proveito de todo o dinheiro que iria ganhar, mas mesmo Severina, ao ouvir as pessoas falarem, não sentia a mesma sinceridade que sempre sentiu em suas vozes. O clima estava estranho, mas afinal, Tião tinha encontrado uma ânfora de ouro maciço e aquilo, era a certeza de muito dinheiro no bolso e uma vida melhor em todos os sentidos. Quando Tião resolveu ir para casa acompanhado de sua esposa e sua filha, foi com surpresa que ele percebeu que todos os estavam acompanhando. Ninguém queria ficar longe do homem mais rico da aldeia e pareciam fazer questão de não perder um detalhe sequer de tudo que ainda estava por acontecer. Quando chegaram na porta da pequena casa de Tião, eles se despediram de todos agradecendo a companhia na caminhada, dizendo que precisavam descansar, porque no dia seguinte ele ia até a cidade tentar vender seu tesouro.

Aos poucos um a um foi voltando para casa, mas sem exceção, antes de partirem, lançaram um olhar na ânfora que estava nas mãos de Tião e neles, mais uma vez o casal pode ver aquele brilho estranho e então já desconfiavam que neles havia ganância e cobiça. Certamente naquela noite eles não iriam dormir. A excitação era imensa. Quase insuportável, mas era preciso dormir. Os dois se olharam e como sempre não eram preciso palavras, o coração dos dois podia ler em seus olhares. Tião pegou um pedaço de madeira e cavou um buraco bem ao lado de um caibro que ficava no centro de sua casa de madeira e que dava suporte a armadura do telhado de folhas de coqueiro. Nele ele enterrou a ânfora. Instintivamente ele sentia que corria perigo. O casal se deitou por volta das 8 da noite, mas seu sono logo foi perturbado. Os dois acordaram com um barulho estranho. Era como se um cachorro estivesse cavando o chão e num pulo Tião se lançou da esteira onde estava sobre um vulto que estava bem em cima do lugar onde ele enterrou a ânfora de ouro. Severina apavorada pedia a ajuda de Deus. Gritos e socos foram ouvidos e de repente uma pancada seca e o barulho de um corpo caindo no chão se fez ouvir. Era Tião.

O intruso fugiu em disparada. Ele não conseguiu o que tinha vindo procurar, mas acertou Tião com alguma coisa na cabeça e ele perdeu os sentidos. Severina correu até seu marido e pediu gritando que ele acordasse e sendo jovem e resistente, logo ele acordou. Como em todas as mulheres sempre há um sexto sentido e ela sabia que a alegria, a paz, a tranqüilidade e segurança de sua família estavam em perigo. Horas se passaram e o casal não mais dormiu. Já era de madrugada quando mortos de cansaço ele cochilaram e quando o fizeram, num piscar de olhos os dois se viram envoltos por uma rede jogada por alguém. Enroscados no meio dela, no escuro que ainda estavam, eles lutaram para se libertar e enquanto o faziam, um vulto cavava o chão fofo de areia da casa em busca do tesouro enterrado. Fosse quem fosse, sabia que Tião o havia enterrado em algum lugar.

Com muito esforço, Tião lembrou-se da faca que tinha em seu bolso e com a ajuda dela cortou a rede com uma velocidade que nem ele mesmo acreditou e já liberto, passou uma rasteira no vulto que caiu no chão com um barulho seco. Pensando unicamente na segurança de seu tesouro, com a agilidade de um gato, Tião pulou em cima do vulto e uma luta violenta começou a ser travada entre os dois. Em dado momento, um grito se ouviu. Alguém havia sido atingido e tinha sido muito machucado. No escuro, Severina não sabia o que pensar. Tudo que passava por sua cabeça era a segurança de sua família, mas principalmente de Belinha que dormia tranqüilamente em sua caixa, mesmo com todo aquele barulho. Num estrondo a porta da frente foi arrombada de dentro para fora e alguém saiu correndo na escuridão.

Severina presenciando tudo aquilo, sabia do mais fundo de seu coração que aquele objeto era do mal. Desde que Tião trouxe aquela ânfora para dentro de sua casa, seu mundo de paz e tranqüilidade desabou. O que mais ela poderia esperar? Do jeito que as coisas iam, a qualquer momento seu marido seria morto e sua pequena Belinha se tornaria uma órfã para crescer sem um pai ao seu lado. E ela então? Seria mais uma viúva, sem ter um marido que a amasse e a protegesse contra a maldade dos homens. Com lagrimas nos olhos, ela pediu ao marido que com as mãos sujas de sangue estava se levantando do lugar onde havia caído em luta com o ladrão, para que se desfizesse daquela ânfora, pois ela era portadora da desgraça, da tristeza e infelicidade, não da prosperidade, felicidade e alegria que Tião tanto queria.

Ao ouvir o pedido de sua esposa, Tião explodiu. Sem pensar no que fazia deu-lhe um tapa na cara que a jogou longe no chão da pequena casa de madeira. Atordoada com a força do tapa, ela levantou-se cambaleante. Tião que estava na porta virou-se para ela com um olhar fulminante e nele, havia aquele mesmo brilho que havia no olhar de todas as outras pessoas que souberam do tesouro que seu marido havia encontrado. Enquanto isto, a luz de um novo dia foi surgindo e mais uma vez, o galo não cantou ao amanhecer. A manhã se passou sem que se percebesse. Parecia que o tempo estava voando. Tião ia levar a ânfora à cidade para vende-la ao único antiquário que existia lá. Pouco antes da partida, mesmo sem que ele lhe tivesse dirigido a palavra depois que a esbofeteou, Severina disse a Tião que iria com ele. Que ela queria estar ao lado dele por precaução. Ele não respondeu. Desenterrou a ânfora, embrulhou-a num pano e com passos firmes saiu de casa. Severina o seguiu. Quando já estavam a uma certa distancia da vila, ao virar uma curva, dois mascarados os esperavam e eles estavam armados com enormes pedaços de pau em suas mãos.

Tião ao ver aqueles homens parou onde estava. O suor escorria em bicas de sua testa. Ele segurava a ânfora embrulhada no pano com força junto ao seu peito. Com dentes cerrados ele parecia um cão rosnando. Severina tremia com Belinha em seus braços. Aqueles homens queriam o tesouro e estavam dispostos a tudo para obtê-lo, mesmo que para isto, tivessem que matar pai, mãe um bebe de um ano de idade. Quando eles começaram a se movimentar na direção de Tião, Severina pedia ao Deus todo poderoso que os livrasse de mais uma desgraça. Um deles tentava acertar Tião com o pedaço de madeira enquanto ele se esquivava a cada ataque. O outro foi em direção a onde Severina estava com Belinha no colo e quando ele chegou bem perto, ela se ajoelhou e suplicou que a poupasse pelo bem da menininha. No momento em que ele titubeou, rápido como um relâmpago, Severina jogou um punhado de areia nos olhos dele e quando ele gritou, chamou a atenção do outro bandido, dando tempo suficiente para Tião acerta-lo com um soco que o nocauteou.

O bandido que tentava limpar os olhos cheios daquela areia fina, não pode fazer nada para impedir o casal e eles fugiram. Ao chegar na cidade, todo mundo que vivia lá já sabia que Tião tinha encontrado um grande tesouro. Quando eles começaram a caminhar pelas ruas na direção da loja do antiquário, tiveram que cruzar com muitas pessoas. A maioria delas, antes do grande tesouro ser encontrado, fizeram pouco do casal e negaram auxilio a eles e varias ocasiões, deixando claro que eles não eram bem vindos na cidade. Afinal eles eram pobres e sem dinheiro, não tinham nada a fazer por lá. Contudo, aquelas mesmas pessoas que os renegaram antes, que os humilharam e se desfizeram deles por sua condição social, os cumprimentavam sorrindo e até mesmo perguntando como estavam. Tião e Severina nunca sentiram tanto nojo em suas vidas.

O padre local, que nunca os aceitou nas missas de sua paróquia, começou a perguntar-se se tinha sido ele quem os tinha casado na igreja. Afinal eles agora eram ricos e poderiam dar um bom dizimo para ajudar. Nem sequer se lembrou, que quando o casal lhe pediu para batizar Belinha, ele mesmo disse que não o faria, pois a agenda de batizados estava lotada por três anos e isto, porque eles não tinham como pagar o batismo. O prefeito da cidade, que nunca ligou para a qualidade de vida dos pescadores da pobre aldeia da Praia do Espanhol, começou a dizer a todos que Tião era seu eleitor favorito. Até mesmo o médico que se recusou a socorrer a pequena Belinha quando foi picada pela cobra, dizia a todos que encontrava que Tião era seu cliente, que afinal se Belinha estava viva, era por causa dos remédios que ele receitou. O farmacêutico, aquele que se negou a vender pelo menos um remédio para controlar a febre e reduzir a dor de Belinha, dizia a todos que Tião e sua mulher era seus melhores clientes e que tinham crédito a qualquer hora do dia ou da noite.

O casal pouco depois se encontrou outras pessoas de sua aldeia e as ouviu contar coisas que as pessoas da cidade diziam umas às outras depois de Tião ter encontrado o tesouro, e a cada palavra ouvida, mais eles compreendiam que a ganância e a cobiça tinham se apoderado do coração daquela gente, exatamente como o fizeram com as pessoas de sua pequena aldeia, que quase o mataram. Aquelas pessoas que moravam em casas feitas de pedra, também fariam de tudo para se apossar daquela ânfora, porque mesmo tendo de tudo o que precisavam na vida, sempre queriam mais, e para conseguir o que queriam, fariam qualquer coisa, até matar, sem dó nem compaixão. Em seus pensamentos, Severina sabia que aquele objeto carregava em si a essência do mal. Ele tinha o poder de despertar a ganância e a cobiça em todas as pessoas que tomavam conhecimento do tesouro que seu marido havia encontrado.

Tião por sua vez só pensava num futuro melhor. Não só para ele, mas para sua esposa e sua filha. Ele não queria morrer pobre e queria poder fazer por Belinha o que os pais dele não puderam fazer. Ele estava irredutível quanto a continuar de posse daquele tesouro até vende-lo e desfrutar de todo o conforto que o dinheiro da venda iria trazer. Severina pedia a Deus que iluminasse os pensamentos de Tião para que ele compreendesse que ao invés de trazer felicidade à vida deles, aquela ânfora estava trazendo infelicidade e que ela poderia trazer também para a vida pacata, simples, mas feliz que viviam, uma tragédia sem igual. Ao passar pela mercearia, o mesmo homem que se negou a lhes vender polvilho e farinha de milho fiado, os convidou a entrar e tomar um refrigerante grátis, por cortesia da casa. Com sede, cansados pelo sol ardente que fazia àquelas horas da tarde, mesmo relutantes eles entraram. Tião precisava ir ao banheiro, não podia esperar mais. Enquanto Severina ficou sentada num banquinho na entrada da venda, ele pediu licença para ir ao banheiro e com a um grande e amistoso sorriso, o dono da venda lhe deu a chave da porta para que ele fosse até lá.

Tião, ainda segurando firme a ânfora nos braços, entrou por um corredor estreito que ia dar onde ficava o banheiro. Na metade do caminho quando passou por uma porta, quase não teve tempo de se esquivar da lamina de uma foice que passou rente ao seu nariz. Assustado ele correu de volta para onde estavam Severina e Belinha e ao chegar lá, sem dizer nada ao dono da venda que o olhava incrédulo, agarrou o braço de sua mulher e saíram rapidamente de lá. No caminho ele contou à sua esposa o que havia acontecido. Ela mais uma vez tentou faze-lo compreender que aquilo tudo tinha acontecido por causa daquele tesouro. Que de tesouro ele não tinha nada, pois na verdade ela era um objeto enviado pelo mal para destruir suas vidas. Nervoso com a insistência de Severina, com um grito ele a mandou calar a boca e ela obedeceu.

Ao chegarem à loja do antiquário, ele havia viajado e só retornaria 30 dias depois. O homem estava de viagem ao Rio de Janeiro onde iria vender alguns objetos de arte por lá. Decepcionado, Tião puxou Severina pelo braço e os três começaram o caminho de volta para a aldeia, mas já era tarde e se não se apressassem, quando chegassem lá já seria noite. Mesmo sabendo disto, dos riscos que correriam andando à noite pelas estradas, lá eles se foram. No caminho, parecia que em cada fresta de janela, em cada buraco de fechadura das casas daquela cidade, havia um olhar à espreita, apenas esperando o momento exato para atacar. Foi uma caminhada cheia de medo e insegurança pelas ruas da cidade, mas ao saírem das ruas calçadas e pisarem na areia, lhes pareceu estar voltando para seu próprio mundo. Nada tirava da cabeça de Severina que a única salvação dela, de seu marido e sua filha, seria que aquela ânfora desaparecesse de suas vidas. Ela não mais disse nada ao seu marido, mas pensou.

Quando estavam a meio caminho da aldeia, a noite chegou. Era muito perigoso seguir caminho e correr o risco de serem atacados por mais alguém querendo roubar deles aquele objeto que para Tião era a garantia de um futuro melhor, mas para Severina era a certeza de muitas tristezas e desgraças em suas vidas. O casal encontrou um lugar entre as rochas no alto de um rochedo que beirava o mar e lá se esconderam para passar a noite. Tião arrumou um cobertor no chão onde eles se deitaram com Belinha, cobrindo-se com outra manta que haviam trazido. Ele estava tão cansado que não demorou muito a adormecer. Severina pelo contrário não dormiu. Já era quase de madrugada e ela ainda via em seus pensamentos as desgraças, os desastres que ainda iam acontecer em suas vidas por causa daquela ânfora e olhando para Belinha adormecida, tendo seu rostinho iluminado pela luz da Lua, ela decidiu.

Sem fazer o menor barulho ela levantou-se, pegou a ânfora embrulhada no pano que estava embaixo do braço de Tião e ela o fez com tanta delicadeza, que ele nem percebeu e continuou a dormir como se nada estivesse acontecendo ao seu redor. Severina havia deixado Belinha deitada ao lado do pai. Ela olhou os dois dormindo e viu para eles, sem aquela ânfora de ouro, um futuro de muita paz, de muita luz. Como uma felina, caminhando a passos inaudíveis ela subiu para o alto do rochedo. Lá no alto das pedras, ela desembrulhou a ânfora e a luz da Lua fez cintilar o ouro exposto daquela peça do mal. Ela sentiu um arrepio na espinha. Severina estava decidida a livrar a ela e toda as sua família da influencia maléfica daquele objeto do mal e a única maneira, era devolver aquela ânfora ao fundo do mar. Ela jogou o pano que embrulhava a ânfora no chão, preparou-se para atirar para longe a ânfora com todas as suas forças, para que ela caísse no fundo do mar e bem próximo aos rochedos onde ondas violentas se arrebentavam a cada segundo. Ela sabia que assim seu amado Tião não tentaria pegá-la de volta porque sabia que se o fizesse, iria morrer.

Tião havia acordado e deu por falta do tesouro e de Severina. Instintivamente ele sabia o que estava acontecendo e precisava evitar. Era seu futuro. O futuro de sua família. Uma vida melhor que mesmo que ele trabalhasse a vida toda, não poderia dar à sua mulher e sua filha tudo que o dinheiro da venda daquela ânfora poderia dar. Severina já estava pronta para arremessar aquele objeto no mar. Quando finalmente pode vê-la ele gritou para que parasse. Assustada ela baixou o braço que segurava a ânfora e olhou para trás. Quando ela percebeu que se seu marido chegasse mais perto ela não conseguiria mais livrar a todos daquele objeto maligno, com a velocidade de uma águia, ela atirou a ânfora o mais longe que pode, enquanto desesperado Tião gritava que não. O dia estava amanhecendo. Na linha do horizonte era possível ver entre o azul escuro do oceano e azul marinho do céu da madrugada, uma faixa avermelhada e no exato momento em que a ânfora tocou as águas do mar, depois de muito tempo sem se manifestar ao amanhecer, na vila dos pescadores o galo cantou.

Após chorar muito pela perda de seu tesouro e ouvir de coração aberto as razões pelas quais Severina fez o que fez, Tião acabou por compreender que na verdade, ele sempre foi rico. Que nem ele, nem ninguém de sua aldeia eram mais pobres do que toda aquela gente da cidade. Muito pelo contrário, todos eles, em cada casa, tinha o seu tesouro particular. Um tesouro maior do que todas as riquezas materiais juntas, e que não podia ser avaliado, nem vendido por dinheiro nenhum deste mundo. Que eles tinham o amor que Deus lhes deixou desde a sua criação, e que eles, com toda a sua simplicidade e vida difícil, eram mais ricos do que os mais poderosos homens da cidade.

Pouco depois, com o sol já no alto, iluminando a terra e o fundo do mar com sua luz eterna. No lugar onde estava pousada a ânfora no fundo do mar, uma tartaruga centenária passou seguindo seu rumo. A areia subiu com o movimento de suas nadadeiras e quando ela baixou, por um breve instante o reflexo da luz do sol na ânfora pode ser visto, mas logo depois desapareceu. A areia cobriu novamente a ânfora de ouro maciço e com ela, o mal se foi. A ganância e a cobiça ficaram lá, sob as areias do fundo do mar, esperando que algum dia um outro alguém encontrasse a ânfora de ouro, para que mais uma vez elas pudessem despertar e se apoderar dos corações e das mentes dos homens. Naquela manhã o ar estava mais leve do que nunca. O mal que rondava a aldeia dos pescadores se foi. Em pouco tempo o sol começou a surgir no horizonte. A luz divina se espalhou lentamente pelo mar em direção à Praia do Espanhol iluminando os barcos sobre a areia branca. Tião abraçado a Severina que carregava Belinha em seus braços, agradeceu a Deus por terem recebido dele a graça de poderem estar vivos, juntos, sãos e salvos, admirando o espetáculo inigualável de um novo amanhecer.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui