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Contos-->Um certo ônibus lotado II -- 15/04/2001 - 01:53 (Ana Mendonça) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O sol brilhava anunciando mais uma linda manhã de verão. O verde mostrava-se majestoso destacando o colorido das flores à agradecerem o vento suave que acariciava suas pétalas. E ela, a linda moça, despertou para este dia, em seu peito o coração batia descompassado sem que ela entendesse o porquê. Calmamente desfez-se das vestes que abrigaram seu corpo durante o repouso noturno e encaminhou-se para um refrescante banho. Sentia as pernas trêmulas, o coração ainda batendo descompassado, certa ansiedade tomava conta de seu ser. Esperou que o meio do dia passasse, então vestiu-se de maneira provocante, pois o calor neste momento era imenso...Saiu às ruas usando vestido com tecido transparente, macio, de caimento perfeito que moldavam as curvas sedutoras de um corpo fogoso, apetitoso, misterioso e o decote generoso mostrava parte dos seios que ansiava por serem tocados. Caminhou com passos um tanto descuidados, pois, resolveu ser este o dia de entrar em um ônibus lotado.

Entrou sorrateiramente naquele ônibus que mais parecia o inferno de tão quente que estava devido ao amontoado de gente que se acotovelavam, que mal se olhavam, gente de todo o tipo, suados, despenteados... Pessoas que esbravejavam pela demora do trânsito caótico. A moça já estava arrependida de ter entrado neste carro, poderia descer e pegar outro, pensou ela, mas de repente uma curva inesperada fez com que a mesma quase caísse, sendo amparada por mãos fortes que ela conhecia tão bem. Sem que arriscasse uma olhadela para a figura viril, seu coração foi a mil. Era ele, ela tinha certeza, enfim, sua procura tinha terminado.

Olharam-se longamente, lembrando cada um a seu modo, do encontro arrebatador. O empurra-empurra do ônibus os tornavam ainda mais próximos, frente a frente, olhos nos olhos, corações pulsando forte, respiração ofegante, o perfume dele a estonteava, com os olhos fixos nos dele pedia-lhe em pensamento que a tocasse.
Esse silencioso apelo teve resposta, seus lábios se tocaram sem que se beijassem, aumentando o desejo, a paixão, a emoção de um encontro não marcado, mas tão esperado.

Aproveitando o amontoado de gente, ele, delicadamente passou a explorar o corpo que estava a sua frente, aquele corpo carente, deslizando sua mão por entre as coxas em movimentos precisos, descobriu atalhos e teve seus dedos encharcados pelo mel da sedução. Ela, disfarçada e delicadamente, encaminhou a outra mão de seu amigo ao encontro de seus seios, nesta hora ela quase desfaleceu, ao mesmo tempo, deslizou a sua para um caminho certo, de igual carícias, de igual malícia...

Uma freada brusca do ônibus maldição os tiraram daquela situação.
Somente agora é que a moça se deu conta dos passageiros com olhares interessados, que guardavam em suas mentes cenas desenfreadas e que brevemente em suas casas, seriam copiadas, seriam por eles, espectadores, vivificadas, não por ela, que sairia dali frustrada.

Ela não sabe onde mora o moço, não teve coragem de perguntar, mas à ele o seu endereço faz saber, em um papel amassado no chão pegado está escrito a sua morada:
Rua da espera, Edifício desejo, n.º 20, 2.º andar.

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