Eu me responsabilizo
Antonio Accacio Talli
Dr. Wanderley, boa alma, bom cirurgião, extremamente responsável, estava operando numa segunda-feira de manhã. Na hora do fechamento da parede abdominal, Dr. Wanderley, muito preocupado, começou a embromar, mexendo nas alças intestinais, na bexiga e em outros órgãos, sem dar início à sutura do peritôneo – para os leigos: a membrana fina que separa a parede da cavidade abdominal. A essas alturas, o auxiliar começou a ficar impaciente com a indecisão do cirurgião, e falou:
“Ô Wanderley, por que você não fecha essa parede logo? Qual o problema?”.
Dr. Wanderley, olhando para os lados, fungando, falou no ouvido do auxiliar:
“Você não está sentindo um cheiro de merda? Acho que furei alguma alça intestinal”.
De fato, a sala estava contaminada por um odor pavoroso, repugnante, nauseabundo.
O anestesista, de porta aberta, controlava a anestesia do lado de fora. A enfermeira, atordoada, estava usando três máscaras numa tentativa infrutífera de evitar o odor fétido. Só então, o auxiliar, com um sorriso matreiro, disse:
“Wanderley, se o problema é esse, pode fechar a parede que eu me responsabilizo. Ontem à tarde eu comi uma feijoada”.
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