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Poesias-->INDIANISTA -- 29/09/2010 - 20:07 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O sertanista no trem

Levava os teréns

Que podia levar:

Uma rede, um facão

E a pá que

Ajudava a sapar

Alguma trincheira

Que fosse cavar.



No meio da noite,

Na terra Mafrense,

Muitas léguas distantes

Da civilização,

A lenha acabou,

E o trem parou,

Porque a caldeira

Não tinha pressão.



Ribeiro desceu

Sem sol, nem luar.

Deixou logo o trilho

Pegou uma senda

Sem luz e sem brilho

Sem nada enxergar,

Nos olhos a venda

Da noite escura

E sobre abrolhos

Começa a pisar.





Sem temer o perigo

De bicho selvagem,

O bom sertanista

Com muita coragem,

Fez ali seu abrigo

Para descansar.

E, assim, na trincheira

Por ele cavada,

A noite inteira

Ficou a pensar...



O dia amanhece

No topo da serra,

E o trem parece

Querer galopar

Como corcel arisco

Nas rédeas do trilho

Mas, filho mineiro

Não pode escutar

Senão o clangor,

Naquela manhã

Do triste acauã,

Solitário a cantar.



Veloz sobre os trilhos,

Na curva dos montes

Mais claros que via,

A semana inteira

O trem desafia

O tempo e o espaço,

Quão rápido se sente

E, a cada dormente

Que vê passar,

Apita e fumega

É ponto final,

A última estação.



No longo percurso,

Ninguém percebeu

Que o companheiro

Do norte mineiro

Abandonara o trem

E seus passageiros

Além, muito além

Por outro caminho

Andando sozinho,

Ribeiro está.



Na sombra da mata,

Sem sol poder ver,

Rompia a trilha

Por ele aberta

Como fenda no outeiro

Nem ele sabia:

Era o fim da senda

Que de longe via

Guerreiros tenazes,

Nativos da terra,

Bem no pé da serra,

A tribo Aroazes.



Mas o sertanista

Sequer teve medo

Daquele arvoredo,

Que tanto queria

Guardar o segredo

Da tribo que, um dia,

Em suas entranhas,

A mata escondia.



Seu corpo cansado

De tanto andar

Por horas a fio,

De sede aflito

E por sorte sua

Generoso Sambito

Da morte o sertanista,

Veio ele salvar.



Quando recobrou

O vigor e a força,

No espelho das águas

Viu sombra de moça.

Doze anos, não mais,

Curtida de sol, a pele tenaz,

Os cabelos negros,

Seios despidos

Da cor do romã

O corpo esculpido

Pecado de Tizo

Gosto de maçã



Nudez de corpo, mente e alma

Mamilos rosados, negros cabelos

Poucos pelos pubianos cunhatã tinha

Ribeiro queria estar grudado

Num abraço, em seus braços...

Mas trepar na árvore não podia.

Na copa mais alta do jequitibá,

Jovem índia aroazes se escondia.



Então resolveu, na mente, inventar,

Uma língua possível que pudesse levar

Alguma mensagem qualquer àquela

Menina selvagem, formosa e tão bela,

Veloz e mais forte do que Alencar.

— Jequiriti, jequitá! —

Gritou Ribeiro

Em seu linguajar

E, como por encanto,

Tomado de espanto,

Viu cunhatã descer

Do jequitibá!



Porque, ao nascer,

Pajé lhe dissera:

Tu és a deusa Jequiriti-Jequitá,

Palmeira frondosa, trepada no galho.

Quisera o espírito bom te mandar

Em cento e quarenta e quatro luas

Um deus de longe, que pra perto vem

Teu nome chamar.

- Jequiriti-Jequitá.



Sem nada falar,

Acenou para o deus

Que há tempos esperava.

Precisava fazer

O que pajé lhe mandava

E, pelo aceno, Ribeiro sabia,

Naquele momento:

Jequitá queria

Instrumento de branco

Para o chão cavar.



E a índia trigueira,

Num salto felino,

Numa mão tinha a pá;

Na outra, o facão,

Passou a cortar

A rala caatinga

E, depois, a escavar;

Desenterrou a cuiapitinga.

Há tanto tempo enterrada

No tronco do jequitibá.



O líquido escuro e cheiroso

Sobre seu corpo nu derramado

Passou a escorrer

E fez nascer a deusa-mulher.

Que logo atrelou-se

Ao sertanista em libidinoso abraço

E entregou-se todinha

Ao deus que ela tinha

Por tanto tempo esperado.

Em gozo medonho,

Caíram no sono

E abraçados dormiram.



Longas horas se passaram

E quando acordaram,

Valentes guerreiros dançavam.

E aos deuses cantavam,

Sem nenhuma maldade,

A poderosa dança

Da fertilidade

Enquanto mulheres água jogavam,

Nos corpos despidos,

Após os gemidos.

Para consagrá-los

Aos deuses Aroazes.



O sol já pendia quando

O valente cacique Cuiarana,

Na rede, deitado,

Mandou chamar o pajé

Para invocar os espíritos

Sobre marido e mulher:

Os deuses Jequitibá

E Jequiriti-Jequitá.



Feita a pajelança,

Em silêncio ficaram,

Esperando a voz da selva falar

Cuiú-cuiú a cantar.

Anuncia, por fim,

A vinda da criança.

O tempo será de nove luas

Para curumim chegar.



Mas, enquanto dormia,

Ribeiro a sonhar

Intrigado ficou,

Porque parecia ouvir

Carimbamba cantar:

“Amanhã eu vou”

“Amanhã eu vou”

“Amanhã eu vou”







Sem demorar veio

A noite de um novo dia...

Cuiarana e toda tribo bebia

Aluá de milho e fumava diamba.

Ribeiro aproveitou

da alucinação da tribo

para empreender sua fuga

antes que nascesse o herdeiro

do cacique, seu filho, o deus

Cuiarana Jequitibá.



Precisava fugir,

Porque curumim,

Uma vez nascido,

O pai seria oferecido

Com a deusa Jequiriti

Em sacrifício a Tupã,

Amanhã, na primeira aurora.

E só havia um jeito de salvar

Da morte a deusa Jequiriti:

Se o espírito de Jequitá

Levasse em suas asas

O deus Jequitibá.



No centro da ocara,

Frondosa palmeira

O vento torcia,

Enquanto por ela

Ribeiro subia

Foi quando por sorte

Soprou vento forte

Feito tufão,

Levando ao chão

Quase toda taba.



Na copa altaneira

Da grande palmeira,

Ribeiro cortou

Uma enorme palha.

E, como uma gralha,

Ribeiro voou...

Deixando na crista

O grande facão.



Cravado na palmeira,

O presente do deus

Que trouxe a sorte

Livrando da morte

Jequiriti-Jequitá.

Agora sozinha

Podia esperar

Nascer curumim,

Sem ter que morrer

Com Jequitibá.



Meninos!

Não minto;

Eu canto o que sinto.

Meninos, eu vi

O corpo inteiro

Bonito e faceiro

De Jequiriti-Jequitá!

Eu vi Ribeiro abraçar

Eu vi Jequiriti

Trepada no Jequitibá.

Meninos, eu vi

Ribeiro por lá!...



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