Usina de Letras
Usina de Letras
17 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62285 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6209)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->PROCURANDO POR DEUS -- 04/07/2009 - 23:13 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há muitos anos, tantos que é quase impossível de se dizer quantos se passaram desde então, no Reino das Águas Calmas, um lugar encantado que ficava em algum lugar do arquipélago de Fernando de Noronha, nas profundezas do Oceano, vivia Yara, uma pequena sereia que levava uma vida triste e solitária. Desde que nasceu, ela sempre foi rodeada por magníficos recifes de corais, exóticas criaturas do fundo do oceano e pela magnífica arquitetura do povo do fundo do mar que era de tirar o fôlego de qualquer um. Ainda assim, com tanta beleza à sua volta, vivendo em meio a uma natureza exuberante, ela nunca parecia satisfeita. Sempre via só o pior em tudo e criticava a todos que estavam à sua volta. Isto é claro, a fez tonar-se uma pessoa indesejada por todos os seres do fundo do mar. Era comum encontrá-la só, pensando em como tudo e todos eram chatos e antipáticos. Mesmo sendo uma pessoa desagradável, difícil de se conviver, ela tinha uma única, mas verdadeira amiga. Seu nome era Jasmim e era a sereia mais velha, mais sábia e bondosa do reino. Ela conhecia os pais de Yara há muito tempo e sabia que a menina não tinha amigos por causa sua conduta e atitudes sempre negativas. A sereia anciã sentia pena da menina por vê-la sempre tão triste, tão solitária e assim, sempre que podia, arranjava algum tempo para tentar ajudá-la de alguma forma. Certa manhã, a jovem sereia e sua única amiga estavam nadando suavemente pelo Reino das Águas Calmas e a velha sereia, com sua sabedoria e sensibilidade, admirava com sentimento a bela manhã que tinha acabado de nascer, mas a menina não.



Ela só havia notado que a água estava mais fria do que a temperatura que ela gostava e também que os golfinhos brincavam demais e faziam um barulho enorme que a incomodava. Em dado momento, esperançosa, Jasmim perguntou a Yara o que estava achando dos corais com aquela iluminação mágica do sol da manhã, afinal, naquele dia eles estavam particularmente radiantes, com suas cores mais gloriosas que nunca. A resposta da menina foi que até podia ser, se ela gostasse das cores laranja, vermelho e cor de rosa, mas definitivamente, não era o seu caso. A velha e sábia sereia olhou pensativa para a menina por alguns momentos e depois balançou a cabeça, imaginando se algum dia ela poderia pensar em alguma coisa que a fizesse feliz e enquanto ela assim pensava, enrolava as voltas de seu lindo colar de pérolas cor-de-rosa com os dedos e depois os desenrolava de novo. Ela já estava um pouco atrasada e então disse a Yara que precisava ir até a escola do Reino, pois tinha uma aula a dar. Curiosa, a pequena sereia perguntou sobre o que ela iria ensinar na aula que ia dar naquele dia e Jasmim respondeu que a aula seria muito especial, pois naquele dia ela iria falar aos seus alunos sobre Deus. Um tanto confusa, a menina perguntou à anciã se tinha ouvido direito, pois ela não conhecia ninguém com o nome de Deus. Nem mesmo havia ouvido falar sobre ele. A sábia anciã, com sua voz firme, mas suave, disse que sim, que era exatamente o que a menina tinha ouvido e perguntou a ela se nunca tinha ouvido mesmo falar de Deus. Yara respondeu que não. Como ela poderia se nunca tinha assistido a nenhuma aula dela sobre ele? A velha sereia ajeitou seus longos cabelos brancos pensativa e disse que era uma pena que não tivesse assistido e se despediu dizendo que a veria mais tarde.



Quando ela já ia se afastando, a menina a parou e perguntou se ela não iria lhe contar quem era o tal Deus. Preocupada pela maneira como a menina se referia a Deus, ela disse a Yara que não. Que ela mesma teria de procurá-lo e quando o encontrasse, viesse lhe contar depois o que achou dele. Antes de partir, a bondosa sereia disse que não seria difícil encontrá-lo, pois ela poderia encontrar Deus em todo lugar. Espantada, a menina disse que em qualquer lugar era impossível, porque ninguém pode estar em lugares diferentes ao mesmo tempo. A velha sereia sorriu e calmamente disse que ela estava enganada, que era possível sim, porque ele era lindo e ela o via o tempo todo, em todos os lugares do Reino das Águas Calmas. Inconformada, Yara disse que se era mesmo assim como ela estava dizendo, se ela o conhecia tão bem, deveria saber qual era sua aparência e com quem ou o que ele se parecia. Em resposta, a velha sereia disse a Yara que Deus era igual a elas duas, igual aos golfinhos, aos peixinhos, aos cavalos marinhos e também igual às mais altas montanhas que se elevavam até além da superfície das águas do mar, mas também igual aos corais. A menina franziu as sobrancelhas e ficou mais séria do que já estava e respondeu dizendo que se era assim, certamente Deus não era nada de especial. A velha e sábia anciã olhou para a garota por alguns instantes e se virou para seguir seu caminho. Irritada, a menina gritou perguntando se ela ia mesmo embora sem lhe contar quem ou como era o tal Deus.



Jasmim parou, olhou para trás e disse novamente com a mesma voz bondosa de sempre, que Yara era quem teria de lhe dizer qual era a aparência de Deus e sem mais demora, ela se foi. A jovem e inexperiente sereia nadou por todo o reino por um longo tempo à procura de Deus, mas não o encontrou. Em sua mente, em silêncio ela pensava na besteira que tinha acabado de ouvir da velha anciã. Que idiotice! Ela pensou. Se Deus parece com qualquer coisa, quando o encontrar, como vou reconhece-lo? Com a mesma cara amarrada de sempre, ela olhou à sua volta, olhou para os prédios, para as sereias, para o povo do fundo do mar e para os cardumes de peixe que passavam à frente dela indo de lá para cá sem parar. Foi então que ela se lembrou das palavras da velha anciã e disse a si mesma que estava tudo bem, já que era para ser assim, ela iria encontrar Deus e depois diria à sua velha amiga qual tinha sido sua impressão sobre ele. Nadando rápido como um torpedo, a menina se encontrou com um golfinho, parou em frente a ele e com as mãos na cintura, perguntou se ele é que era Deus. O golfinho apenas olhou para a menina e sorriu gentilmente, mas a menina não fez a mesma coisa. Ela não sorriu. Muito pelo contrário. Yara permaneceu tão séria quanto no momento em que o havia encontrado em seu caminho. Irada, a menina disse ao golfinho que se ele era Deus e tinha os dentes sujos de restos de peixe que havia acabado de comer, então esta coisa de Deus, não passava de pura estupidez. Sem olhar para trás a menina resolveu seguir seu caminho à procura de Deus.



Mal ela se virou para ir embora e o golfinho desatou em gargalhadas e ele riu tanto, que chegou a chorar de tanto rir. A pequena sereia estava com tão mau humor e ia tão depressa seguindo seu caminho à procura de Deus, que nem percebeu um belo homem-peixe em seu caminho e acabou por dar uma trombada na criatura. A principio ele ficou sério, sem achar a menor graça no que aconteceu, mas logo depois sua face se transformou num lindo e gentil sorriso, dizendo que ela deveria estar com uma pressa danada para não ter percebido que ia colidir com ele. Com um olhar atrevido e desafiador, ela respondeu franzindo as sobrancelhas, que não estava com tanta pressa como ele estava dizendo, mas se ele pensava assim, por ela tudo bem. Gentilmente o belo homem-peixe disse que ela deveria tomar cuidado, caso contrário, poderia se ferir ou ferir alguém que estivesse em seu caminho. Ao ouvir aquilo, a menina fez uma careta e falou para si mesma que certamente ele não poderia ser o Deus que ela procurava, afinal, quem ele pensava que era para lhe dizer o que fazer e como agir. De cara ainda fechada, a menina fez de conta que ele não estava ali, simplesmente o ignorou e se afastou sem sequer dizer até logo, ou pedir desculpas pelo que aconteceu. Depois de muito nadar o dia todo por todos os recantos do Reino das Águas Calmas, a pequena sereia subiu no penhasco mais alto da região, de onde se podia ver todo o reino. Lá ela se acomodou em uma rocha e ficou olhando para a cidade. Enquanto ela olhava tudo que acontecia lá embaixo, bem perto de onde ela estava, um pequenino peixe colorido se alimentava das algas marinhas que cresciam na rocha. Fazendo careta como sempre e torcendo o nariz, ela disse a si mesma que o peixinho também não poderia ser Deus, afinal ele era tão pequeno e tão insignificante.



O dia se foi e ao cair da noite, quando as luzes do reino começavam a brilhar, ela balançou a cabeça negativamente. Ela tinha procurado Deus o dia todo, em todos os lugares, mas tudo que ela havia conseguido, tinha sido encontrar um golfinho estúpido, um homem-peixe metido e convencido e um peixinho de nada. Yara já estava pronta para abandonar de vez a procura, quando percebeu Jasmim nadando lentamente em sua direção. Quando a velha e sábia sereia se aproximou, perguntou a menina o que estava fazendo naquele lugar tão alto e tão longe de sua casa. Em resposta ela disse à velha que tinha estado o dia todo fazendo o que ela mandou, mas não tinha encontrado o tal Deus de quem ela tinha falado, e quando ia continuar, Jasmim fez um sinal com mão para que ela parasse de falar e ela se calou. Foi então que a velha sereia disse a ela que era inacreditável que não o tivesse encontrado em lugar algum. Que só havia uma resposta para o seu fracasso em se encontrar com Deus. Ela deveria ter estado o tempo todo tão voltada para si mesma, para seus desejos e necessidades, que nem percebeu que Deus estava o tempo todo bem na frente dela. A jovem sereia abriu a boca para dar uma resposta mal criada à velha e sábia anciã, mas logo a fechou. De alguma forma, ela se sentiu de repente uma tola. Com seu ar de sabedoria e uma paz imensa estampada em seu rosto, Jasmim pediu a ela que prestasse muita atenção no que ela iria lhe mostrar. Foi então que ela apontou na direção do reino lá embaixo; na direção das luzes que podiam ser vistas saindo pelas janelas dos edifícios, das casas e das torres. Apontou também na direção de onde ficavam as escolas noturnas da cidade, onde o movimento de alunos entrando e saindo ainda àquela hora, era um vai e vem sem parar.



Sempre sorrindo, ela também apontou para a direção de onde estavam as sereias e homens peixes do reino, que iam de um lado para o outro da cidade submersa, num movimento sem fim. Mostrou também as pessoas que entravam e saiam de seus lares que eram lindas casinhas feitas de coral e por ultimo, a sombra das grandes baleias, enquanto elas passavam nadando muito acima deles, bem próximas dos limites da cidade. Em êxtase, a pequena sereia começou a perceber, lá de cima do penhasco, que cada movimento, de cada ser vivo e da natureza esplendorosa do fundo do mar, pareciam estar em conjunto executando um único movimento que emitia uma estranha luz. Ela pode ver que cada vida, que cada ação ou objeto, parecia que se encaixava perfeitamente com tudo que estava à sua volta, inclusive com ela mesma. Sentada lá, ao lado de sua única e fiel amiga, a velha e sábia anciã, Yara observava atentamente todo o reino que naquele momento, parecia numa visão global, ser feito de cores, movimentos e respiração, como se fosse um único ser vivo, em toda a sua imensidão. Em silencio, ela pensava no porque dela nunca antes ter visto as coisas da forma como ela estava vendo naquele momento, e subitamente, ela se sentiu muito feliz. De repente, coisa que nunca havia acontecido antes, um sorriso largo e iluminado brotou em seu rosto e vendo aquilo, Jasmim perguntou gentilmente a ela:



-Você vê Deus agora?



-“Sim!" Ela respondeu e disse emocionada que não compreendia o porque de nunca ter notado o mundo à sua volta daquela forma. Era tudo tão perfeito, tão lindo, tão espetacular!”



A velha sereia, a mais antiga de todas as anciãs do Reino das Águas Calmas, passou o braço carinhosamente em volta do ombro da menina e acariciando seus longos cabelos negros, ela falou:



-“Yara minha querida criança, quando a gente para de pensar só em nós mesmos e em como gostaríamos que o mundo e as pessoas fossem, começamos a ver o mundo como ele realmente é, e descobrimos que ele é melhor do que qualquer coisa que um dia quisemos que ele fosse, e isto, minha pequenina, porque o mundo não se resume em cada um de nós, em nossas vontades ou em nossas idéias, pois somos apenas parte do maravilhoso fluir de energias que ele é.”



Ao terminar de falar, ela perguntou à menina se ela não estava se sentindo diferente. Se não estava se sentindo melhor do que antes de descobrir onde estava e como era o Deus que tanto procurou naquele dia e não encontrou. A menina não precisou responder. Em seus olhos, a sereia anciã pode ver como ela estava se sentindo. Foi então, que ao olhar para as pedras, Yara viu o pequeno peixe colorido que havia visto algumas horas antes. Ele nadava calmamente sobre as rochas, aproveitando cada movimento feito pelas águas do mar e ele parecia não estar esperando nada melhor do que o momento que estava vivendo. De repente, a pequena sereia percebeu que do fundo de sua alma, ela gostaria de ter sido a sua vida inteira igual àquele minúsculo peixinho, que antes para ela, era tão insignificante. Jasmim não pode deixar de perguntar o que ela estava achando de tudo aquilo que ela descobriu e ainda sorrindo, como nunca o tinha feito antes, ela respondeu:



-É difícil dizer com palavras, mas a vida, o mundo, as luzes, as cores, o barulho alegre dos golfinhos brincando o tempo todo, os sons da natureza e das batidas de nossos corações, é tudo tão lindo, tão perfeito, tão harmonioso, tão maravilhoso!



-Deus é lindo como você disse que era Jasmim e ele realmente se parece comigo, com você, com as pessoas do Reino das Águas Calmas e com tudo que nos rodeia. Agora minha bondosa amiga, graças a você e sua amizade verdadeira, eu sei porque você me disse que ele pode ser encontrado em todo lugar e também aprendi que para encontrá-lo, só depende de nós...



Uma lágrima se formou nos olhos de Jasmim. Ela estava feliz pela descoberta de sua pequena e jovem amiga. Yara ao ver a lágrima escorrendo dos olhos de sua única e fiel amiga misturando-se com a imensidão das águas do mar a abraçou. Depois disto, as duas ficaram sentadas lado a lado e abraçadas por um longo tempo, admirando tudo em silêncio e compartilhando aqueles momentos mágicos e sublimes, do encontro de Yara com Deus.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui