O cirurgião-bala
Eu tinha um colega extremamente agitado, rápido e sempre estressado. Ele não queria perder tempo.
Ótimo cirurgião, um dia entra na sala de cirurgia no horário prefixado e começa a arrumar a mesa. Anda de um lado para outro, lépido como um coelho, e vai falando para a enfermeira:
“Abre a caixa do material, me dá compressas grandes e pequenas, gazes e fios, liga o bisturi elétrico etc., etc.”.
Com a gaze presa na pinça, pede o antisséptico para fazer a assepsia e, agora, de frente para a mesa cirúrgica, pergunta para o anestesista:
“Posso começar?”.
O anestesista, calmo e tranqüilo, retruca:
“Poder, pode, só que tem um pequeno problema: a doente ainda não está na sala, foram buscá-la no quarto”.
O cirurgião, cego pela pressa, não notara a ausência da doente e por pouco não faz a assepsia da mesa cirúrgica.
Esse mesmo cirurgião ficou de ajudar-me em uma cirurgia.
No dia anterior, esqueci de avisá-lo e, na hora da operação, telefonei-lhe perguntando se poderia auxiliar-me. Eram 6:45 horas da manhã e a cirurgia estava marcada para as 7 horas. Quando telefonei, ele ainda estava dormindo, portanto, resolvi tomar um café para fazer hora até a sua chegada, pois ele morava longe do hospital. Às 7 horas, ainda estava tomando o meu café quando a enfermeira avisa-me de que o auxiliar já estava na sala, tinha arrumado a mesa e iniciara a assepsia da paciente.
Não acreditando, entrei na sala e, aí, ele foi dizendo:
“Na próxima vez, avise-me com antecedência. Estava dormindo quando você me telefonou”. E continuou: “Fiz a barba, tomei banho, café, levei minha filha para a escola, encontrei o trânsito bastante congestionado e tive dificuldade para estacionar. Desculpe se eu demorei”.
Nesse momento, percebi que, se eu tivesse bobeado no café, ele teria operado a minha paciente.
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