A imaginação é soberana no impossível. Também o é no possível, que é pluralmente subjectivo e o subjectivo perde-se quase sempre em ricas sinuosidades e respirações intermitentes, mas o território do possível foi-se estreitando e já só é possível o fácil permissível à mente desembolsada. A imaginação nasce no momento que se pensa que ela culmina. Abre-se no seu próprio paroxismo para servir de tapete às almas fulminadas. Organiza-se em horizontes e recessos desertos e inimaginados. O inimaginável pressupõe o inobservado e o inobservado afasta-se radicalmente do núcleo das evidências, salvo se estas pertencerem ao domínio das crenças e do seu destino recto e inabalável. Que traumatismo paraenigmático! Corre conforme a atemporalidade do abstracto.
A imaginação não é digna do desprezo que as cabeças leves e trágicas dos famintos a sujeitam e constrangem. Na História há colossos que se conservam incólumes como mitos. Não são dogmas que cravejam a arquitectura feérica de certos palácios de inspiração edénica e prolixa, até de certas catedrais, a fantasia. A vida secreta dos que fingem por não puderem revelar, daquelas árias e de alguns frutos maduros que a Primavera da forma exaspera clássica e imprecisa, solene e torrencial, são axiomas, ilegíveis porque temporalmente ilegítimos, indecifráveis; nem sempre presentes mas desde sempre potáveis.
A imaginação é soberana no impossível. Se eu substituísse a palavra soberana por iluminada estaria a mentir. É de uma vasta escuridão absoluta a visão do cego que vê amor. Nos confins, audazes, belos e nobres actos de coragem ela preconiza, ilimitando-os. Borges épico e a noite clara.
Há uma inefabilidade na infalibilidade, que é o aspecto ( espírito ) plástico de qualquer sensibilidade que surpreende aquele que a imagina. Aquele que afina os instrumentos em surdina para tocar o impossível, incandescente silêncio, ao tacto do prestidigitador, fogo gelado.