Ouço passos que não são:
É o coração batendo
no escuro silêncio da noite.
Pés descalços no chão frio
busco a janela que, aberta,
me mostra de longe o rio.
Há uma lua fininha
e poucas estrelas no céu
que a luz da cidade empobrece.
Há o silêncio do homem,
um cão que late, uma feia buzina.
O ronco dos carros não cala.
Não cala o ruído surdo
do animal adormecido
dentro do homem, urbano e perdido.
(animal que só ouvimos
quando o abraço negro da noite
nos gela e acaricia).
Retorno sobre meus passos,
e busco no travesseiro,
em vão, um cheiro de mato e o sono perdido.
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