A praia estende-se à minha frente como um pampa cor de areia, cujo gado tivesse asas. Gaivotas, albatrozes. E o mar, imenso e cor de prata, como um espelho.
Meus pés sobre a areia fina e fria são como raízes de uma árvore, forçando abaixo, tentando, a custo, fazer parte da areia, desta planície costeira radiante de luz, força e energia. Mas são os olhos que me consomem: são meus olhos que se consomem, diante da imensidão cor de prata, uma vastidão de areia e sal, o horizonte longe, longe... Aqui, o mundo não tem fim. Aqui, tudo é princípio e meio. E eu seria um nada, não fosse testemunha do belo inefável do mar sem-fim lambendo para sempre a areia branca e fina e fria desta praia eterna que vibra sob o céu cinza-chumbo da tempestade que se aproxima.
Quem nunca viu uma tempestade sobre este pedaço do sul, não tem a exata dimensão de deus e de infinito, de eternidade e vida e morte. Nada sabe do belo, como o sei eu, agora, sozinha sob este céu de chumbo, com meus olhos inundados de mar, espanto e solidão.
|