Conta-se que houve um homem
que sonhava coisas tantas
que não mais queria viver
sua tosca vida de homem.
Vida opaca, feita de coisas
comuns e muito sem-graça:
Lavar os dentes, tomar café,
calçar o calçado, ir à caça.
Conta-se ainda que houve um dia
em que o homem dos sonhos,
cansado de estar desperto,
deitou-se na grama verde e macia
da praça do povoado
tão pequeno onde vivia,
entre avencas e lírios brancos
e que sorrindo, dormiu.
Sonhou então uma árvore
de flores brancas e roxas,
e de um perfume indecente.
E de tanto sonhar, foi sendo
ele mesmo árvore e sonho,
foi deixando de ser gente.
E por deixar o sonho crescer
foi primavera para sempre.
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