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Discursos-->Discurso de Paraninfo -- 12/02/2003 - 21:28 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Discurso de Paraninfo
Genival Veloso de França
Aos diplomandos do Período 2000.2
dos Cursos de Administração, Direito,
Ciências Contábeis, Educação Física,
Geografia, História, Psicologia, Letras,
Matemática e Pedagogia do Centro
Universitário de João Pessoa - UNIPÊ.
Aqui estou, queridos afilhados, trazendo as benções de um padrinho que tem a alma vestida com a alva dos bem-aventurados.
Vossa escolha me comoveu. Não digo, como aquele outro, numa cerimônia igual a esta, que não mereço tal homenagem. Seria embaraçar os que me escolheram, macular as regras da vossa preferência e insultar um gesto tão criterioso. Toda falsa humildade é hipocrisia.
O Centro Universitário de João Pessoa, nestes últimos anos, vem dando um sentido comovente na maneira de apontar seus homenageados. No lugar do acolhimento aos que podem retribuir o convite com favores ou generosas ofertas, prefere aqueles a quem julga caber merecimento.
Esta entidade, que agora comemora trinta anos de serviços prestados à causa do ensino superior, tem sido um exemplo de orientação de excelência de graduação e pós-graduação, com mais de dezoito mil profissionais formados para a Paraíba e o Nordeste. São psicólogos, advogados, administradores, contabilistas, fisicultores, pedagogos e bacharéis e licenciados em matemática, letras, geografia e história, que já pontificam seu saber e sua contribuição no magistério e no exercício de cada uma dessas atividades. Eu mesmo, com incontido orgulho, sou portador de um diploma de um dos seus cursos pioneiros.
Defendi sempre o ensino público, mas rendo-me a outro modelo que aqui deu certo. Mesmo reconhecendo que o maior responsável pela crise geral da universidade brasileira é o governo federal, não se tomou essa desculpa como biombo das mazelas do ensino superior. Todavia, perdoai-me a franqueza, há muito que fazer. É preciso procurar outras fontes do saber, convocar outros pensadores e cientistas, qualificar mais e mais a massa crítica, valorizar o trabalho docente, estimular a participação democrática do segmento estudantil, fugir das decisões dos ciclos fechados e abrir os braços e correr para as ruas.
Sempre acreditei na Universidade como proposta e solução aos desafios de hoje, apesar de toda crise que esta instituição vem mergulhada desde algum tempo em nosso país. Somente a ocupação especializada e o trabalho intelectual fazem viver e crescer a categoria de indivíduo e a qualidade social. A Universidade, como importante patrimônio do povo, caracteriza-se pela dimensão de universalidade na produção e transmissão da experiência cultural e científica da sociedade. Sua função primordial é constituir uma consciência política de preocupação coletiva, um pólo de renovação cívica e uma ressonância às necessidades mais emergentes. Deve ensinar a pensar e a assimilar as conquistas mais significativas do conhecimento moderno. Não há lugar mais próprio para alcançar um mundo melhor que a Universidade. E tanto é verdade que elas fizeram de pequenas cidades – Coimbra é um exemplo disso, um centro irradiador do saber e da reverência universal.
Países, de história e vocação iguais às nossas, foram buscar no ensino e na organização de suas academias o instrumento do espírito coletivo e a consolidação da sua base cultural. Por isso, o dever número um dos povos jovens é criar uma cultura nacional. A matéria prima mais valiosa de uma nação reside nos seus valores humanos.
Se formos mais atentos em nossa apreciação veremos que uma das coisas mais importantes na relação social é o cumprimento perfeito de nossas ações. Essa é talvez a única e decisiva exigência que podemos fazer a nós mesmos e a que os outros devem esperar de cada um de nós. José Américo de Almeida, certa vez falando aos estudantes, disse: “É a alma das profissões que marca todas as vitórias”.
Cada profissão é, na realidade, uma vocação e um desafio. Uma vocação solenemente sacramentada por anos de íntima reflexão. E um desafio que não se acaba nunca porque há sempre algo a cumprir. Por isso não se pode dizer que uma profissão é melhor que a outra. Cada uma delas encerra pessoas das quais nós nos orgulhamos; e outras que não gostaríamos de tê-las como companheiras.
Parte do atual desconcerto do mundo vem dos ofícios e profissões, mal ou precariamente exercidos. E de fato, o que esperar do advogado medíocre, do educador relapso e do político irresponsável. O profissional consciente da grandeza do seu trabalho o faz como forma de testemunho pessoal: o selo de sua dignidade, a chave do seu prestígio e o registro de sua honradez. Mas também como arma traiçoeira poderá ser o óbito de sua fama e o epitáfio de sua reputação.
A Universidade é a “alma mater da pátria”, como alguém a chamou. E como tal nela reside a esperança de uma sociedade que vive momentos tão delicados, gerados por uma mentalidade que se embriagou com os aparentes sucessos, dentro desta pungente realidade que o próprio homem criou e sobre a qual já não exerce mais controle.
Nestes últimos dias de utilitarismo e de tumulto, quando tudo parece mergulhar na indiferença e na insensibilidade, constitui uma grande esperança saber que os jovens formandos do Centro Universitário de João Pessoa estão aqui reunidos para prestarem seu juramento de praxe, neste instante tão terno e acolhedor.
* * * * *
Meus caros paraninfados,
A cerimônia de hoje é muito mais uma confirmação que um ritual: é a confirmação pública do ideal e da determinação.
E é com esta determinação que vamos enfrentar um espectro terrível, que talvez poucos enxerguem, mas que está aí nos espreitando. Não se pense tratar das guerras, das pestes ou da fome, essas vergonhas que nos comprometem a todos, pois para isso há solução. Basta uma mea culpa universal. O espectro medonho que nos ronda é a sociedade mecanicista, preocupada ao máximo com os índices de produção e consumo, dirigida por máquinas de última geração, onde o homem se transforma paulatina e imperceptivelmente numa simples peça dessa megaestrutura, comprometendo seu sentimento e sua criatividade.
Vive-se uma fase de transição, o início de uma nova era onde as soluções não emergem da necessidade dos naufragados em sua proletária tragédia, mas dos sistemas elaborados por pontos de vista que certas elites têm sobre a sociedade. Passa-se a viver a utopia do racionalismo, onde os parâmetros de alguns valores são estabelecidos por uma minoria que tudo sabe e tudo explica.
E o pior é que cada um de nós começa a se inclinar por uma forma de apatia, de indiferença e de avidez às coisas materiais, enganado pela ilusória fascinação de alcançar a felicidade e atordoado por falsos princípios que, num relance de vista, parecem conduzir à salvação.
Os modelos tecnocratas que se implantam em diversas partes do mundo, através da cibernética, da estatística programada e do planejamento à longa distância, em oposição à cultura e ao humanismo, tornam a administração e a vida das pessoas ainda mais complicadas e insuportáveis. Nestes espaços o lugar do cientista social e do humanista é nenhum. Nestes ambientes não há esperança para os que sofrem a mais dolorosa e desesperada experiência na vida humana: a dos que se entregaram ao seu destino sem acreditar mais na vida, no amor e na felicidade.
Julga-se ter chegado a hora de discutirmos os mitos do tecnicismo e do imperialismo científico herdados de outros climas. Isso poderia fazer da ciência uma atividade mais digna e suprimir uma das fortes justificativas dos gestores tecnocratas que têm sempre como opção o desapreço pelo homem.
A tecnocracia, na tentativa de legitimar-se como poder racional-carismático, condena o processo democrático como o caminho solidário das decisões. Recorre a todos os tipos de simbologias do poder tradicional, na expectativa de manipular, manter e expandir sua dominação. Procura, de um lado, legitimar-se por meio de uma mistificação racional; e, por outro, tenta escamotear-se nas emoções tradicionais, através das novas técnicas de comunicação e educação. E assim ela se conserva no poder, criando uma sociedade massificada e aparentemente satisfeita.
É preciso entender que modernização não é necessariamente desenvolvimento. Este deve significar progresso e justiça social. Para o Terceiro Mundo, representa mais ajustes nas suas necessidades essenciais e menos dependência. Segundo Ali Mazrui, intelectual ugandense e lente da Universidade de Michigan, o computador na África provavelmente ajuda a promover a modernização, todavia se coloca mais e mais na dependência da Europa e da América do Norte, além de criar o desemprego e desequilibrar as prioridades entre o campo e a cidade.
Afinal de contas qual o significado da tecnocracia nos países em desenvolvimento? Para Nirmal Rose, professor universitário em Calcutá, “se a política é a arte de encontrar soluções para os conflitos no interior das administrações, a tecnocracia, tomada no sentido estrito do termo, não está aparelhada para tal”. O que define a tecnocracia, diz Karl Deutsch, professor de Paz Internacional na Universidade de Harvard, “é a tomada de posição na política e na vida da sociedade em bases estabelecidas por especialistas em tecnologia e em necessidades supostamente alegadas por técnicos”.
Nisto a Universidade tem um papel definidor: o de humanizar as instituições e oferecer às pessoas a oportunidade de se dirigirem por si mesmas, e não as transformando em dentes de uma gigantesca roda tecnológica. Ensinando que esse novo homem só renascerá se forem dadas as prioridades as suas esperanças, a sua liberdade e as suas exigências. Se não, correr-se-á o risco de um dia ter a vida controlada pelos gestores desta nova ordem tecnocrata.
A Universidade tem de afirmar que o grande responsável pelo progresso da humanidade não será a formidável evolução tecnológica nem o crescimento material que se quer defender, mas o próprio progresso do pensamento. As recentes descobertas científicas e o fantástico desenvolvimento em tecnologia aumentaram, sem dúvida, os poderes de domínio do homem sobre a natureza, mas cresceram os perigos de destruição da vida. É que as ciências da natureza são neutras para o mundo dos valores. A desintegração do átomo abriu perspectivas de salvação, mas colocou o ser humano sob a ameaça do suicídio final. Por isso, cabe a consciência moral subjugar tais conquistas ao bem-comum, afim de que a intuição humana jamais seja desvirtuada.
O homem do futuro, portanto, corre o risco de ser um prisioneiro da máquina e o computador não será usado no sentido social, senão como algoz, um elemento implacável de informações. Em vez de ajudar diretamente ele confundirá, constituindo-se num verdadeiro tirano das nações. E, na sua sede desmedida de dados, sempre exigirá mais informações. A vida passará para um plano ético e moral de limites nebulosos e conflitantes. O poder total de informação é uma ameaça.
Já se fala da existência em determinados países de organismos que contam com bancos de dados capazes de traçar o perfil psicológico do cidadão em fração de segundo, com informações que vão desde seus antepassados até o estado atual de suas coronárias, qual a marca de cigarros que consome e a sua preferência sexual. O certo é que já se inicia o tempo da utopia do racionalismo, na ânsia de encontrar o sistema burocrático perfeito. Este sistema, por certo, vai aniquilar o homem, porque ele impõe outros valores e faz com que alguns pensem por todos – o que é contrário a qualquer pretensão libertária.
O grande responsável pelo progresso da Humanidade, volto a insistir, por mais que possa decepcionar alguns, não será a espetacular evolução tecnológica nem o progresso material que se espera viver idealisticamente nos dias de agora; mas o próprio avanço das idéias solidárias.
Urge, portanto, nortear os meios disponíveis pelo relacionamento mais respeitoso e equilibrado com o mundo natural: por um conceito mais humano de ciência e de justiça; por uma sociedade igualitária onde as carências mínimas tenham prioridade sobre qualquer especulação; por uma proposta mais solidária com os que precisam de proteção; pela visão do homem em razão do que ele é, e não do seu status, raça ou credo; pela humanização das instituições tradicionais que agonizam perante as modificações impostas meramente pelo casuísmo e pelo arbítrio; pela permanência das lideranças mutáveis e competentes, cujo escopo sejam a preocupação e a aflição mais prementes; pela manutenção das liberdades fundamentais; e, finalmente, pela plena restauração do estado de direito.
Razão teve Brecht quando colocou na boca do seu personagem Galileu as seguintes palavras: “Considero que o maior objetivo da ciência consiste em aliviar a fadiga da existência humana. Se uns homens de ciência intimidados pelos egoístas possuidores do poder se contentam em querer acumular o saber, pelo simples prazer de saber, a ciência não será mais que uma coisa pobre e mesquinha. Vossas máquinas só servirão para novos tormentos. Com o tempo descobrireis tudo o que resta descobrir e, entretanto, vosso progresso vos afastará cada vez da Humanidade. O abismo entre ela e vós pode chegar a tal ponto que vosso grito de alegria, ante cada nova conquista, ecoará como um grito de horror universal”.
Os intelectuais dissidentes, na sua maioria humanistas, vão sendo substituídos por tecnocratas aparentemente especializados, que enxergam tão-somente aquilo que seu especialismo enxerga. A angústia, a solidão e o desespero já começam a ser indícios de uma lucidez desesperada. Não tardará o tempo que alguém dirá: Deus está morto; o amor não existe.
E assim, criam-se metrópoles de aço e concreto, verticais e desumanas, de árvores cor de chumbo e céu escurecido por uma atmosfera de fumo e pó. Ao atravessar essas ruas de mil e uma tragédias, nota-se a sensação de desespero em cada semblante e um sufocado grito de socorro em cada boca. São dramáticos seres perdidos na noite, com suas luzes de néon, frias noites sem sentido e sem solução. Há uma solidão e uma angústia em cada esquina.
O humanismo é a lógica mais simples.
A palavra é não esmorecer.
Nossas crises, por serem obras dos homens, são recuperáveis. Na vossa idade tudo se recupera porque sempre haverá tempo de esperar.
Cada qual, por caminhos diferentes, seguirá seu destino, ouvindo o eco das últimas lições.
Amanhã quando a primeira aurora se levantar nos céus, tereis certamente um compromisso inadiável com a vida. Vamos para o tempo que há de vir, com as nossas ânsias e os nossos sonhares, lançando um olhar para o futuro como quem tenta inaugurar novos mundos dos dias vindouros, mesmo conscientes de que muita coisa ainda é uma aspiração e uma promessa.
* * * * *
Meus queridos Amigos,
Agradeço esta homenagem, a qual divido com todos os vossos mestres, que aqui penso representar. A eles que deram tudo quando tinham pouco e, quando até o pouco era impossível, deram o nada – o que na expressão de um poeta é tudo, nossa estima.
Almejo a todos vós a glória – uma glória com méritos e sem artifícios. Uma glória que não venha curvar-se perante a decepção amargurada da fraude e da mentira. A reputação de quem escolheu tão nobres ofícios, com tantas vantagens para a Humanidade, dará a convicção e a serenidade de estar exercendo o mais puro e o mais sagrado de todos os apostolados.
Preservai na mente vossos pais, porque não há amor que mais rápido se iluda, que mais pronto perdoe e que mais saiba ocultar defeitos. E que agora se revigoram felizes e orgulhosos, ao vislumbrarem na ascensão do filho, a alegria de quem realiza um sonho. Contraiamos com eles uma dívida de imorredoura gratidão.
Aprendei a ser humildes. Muita modéstia e pouca presunção. O acesso à fama deve ser um caminho limpo, lento e inocente.
Duvidai de vós mesmos. Crer é fácil. Difícil é descrer, porque exige recurso, imaginação e autoridade. Há os que acreditam em tudo porque não sabem ou porque não podem descrer.
Somai aos requisitos de bom profissional as qualidades de homens e mulheres probos, sensatos e íntegros, para serem dignos de respeito e admiração. Que vos seja a conduta particular de cidadão o espelho da vida profissional. Vossa conduta na sociedade é a chave do vosso conceito, o aval do prestígio e o passaporte para a bem-aventurança. Numa grande alma nada é pequeno.
Desejo-vos toda felicidade. Ela é a mais justa e legítima ambição da vida.
Aos que não puderam estar conosco porque partiram, sem respirar as emoções destes últimos instantes, nossa saudade e nosso afeto.
Ide como um anjo da bendita ilusão. E se um dia escaparem de vossas mãos todos os recursos, apelai ainda para a esperança que é remédio para todos os males, que nada custa e que tudo consola. Quem ouve uma palavra de esperança é como quem escuta a voz de Deus.
Sedes felizes. Acompanharei vossos passos com a emoção de quem vai alcançar o céu com as vossas asas. Na serenidade das tardes quietas, cada lembrança será uma ressurreição. E mesmo quando soprar sobre mim a aragem do sossego, guardarei esta hora.
Termino com a mágoa de não ter dito mais, porque o resto está no coração e eu não sei dizer. Mas felicito-me por estar em vossa companhia.
Muito obrigado.


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