Na estante, percebo,
Algo que me estarrece.
Tantos livros...
Não lidos.
No meio de outros,
Que já conheço bem.
Na loucura do cotidiano,
Sinto que talvez nunca os lerei.
Para tanto
Necessitaria de dias
De 50 horas. Impossível.
Pior. A vida é finita.
Antes da aposentadoria,
Há outras tarefas prementes,
Esperando vez para acontecerem.
Já vi, na idade provecta
Terei muito o que fazer.
Conseguirei tudo, um dia?
E os meus arquivos?
Quando os organizarei?
Classificados
Cada vez mais desclassificados.
Os e-mails dos amigos,
Avolumam-se. Sem resposta.
Não mais tenho
Folga de tempo para nada.
Os álbuns de fotografias,
Uma lástima.
Fotos amontoadas.
Mostro-as aos punhados.
Vida muito defasada, essa minha.
Tanta coisa por fazer.
Porque sempre surge
Algo urgente. Com preferência.
O restante,
Ficando para depois...
Se eu ir freando agora,
Talvez nem aos 90 anos...
Contudo, confesso.
Você é minha prioridade.
Dedico-lhe todo o meu tempo.
Se preciso for, 24 horas.
Mas você não me retribui
A atenção. Por quê?
Ora. Sei que esses são
Os livros que não lerei.
Que essas fotos
Nunca organizarei.
Os arquivos, eterno caos.
Os e-mails, amanhã, se der...
Mas se meu amor tem
Ligação direta. A hora
Que você quiser.
Por que não liga para mim?
Talvez meu erro seja,
No meu tempo escasso,
Te amar tanto assim...
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