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Cronicas-->Porão -- 29/03/2006 - 15:09 (ERIOSVALDO LIMA BARBOSA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lá fora não pára de chover. Aqui dentro do porão também. Tudo é chuva. Tudo lembra o molhado, o incómodo, algo que deve ser evitado. Meu coração pulsa nesse momento movido a água que o inundou e o enfraqueceu. Respiro os pingos de chuva que caem em cascatas pelo meu rosto sombrio e entristecido. Não sei onde buscar abrigo. Uma toalha seca que me aqueça o corpo encharcado. Tudo se desmancha em cima de mim, semelhante a uma barreira que desmorona e se rende à força medonha das águas. Tudo parece não ter fim. Não vejo sequer o horizonte, intransponível e incerto. Reluto em me evitar, mas não consigo. Estou preso à essas águas que me rodopiam porão adentro. Estão querendo me dizer que meu lugar é bem mais embaixo, mais baixo do que o porão, lugar de esperança de uma nova vida, de um novo começo.
Quis vir para "baixo" para construir tudo de novo, tudo de baixo para cima, pois a Civilização lá de cima me aguardava ansiosa. Aliás, vim para baixo como requisito para alcançar a Civilização. Esta é imperiosa:
- Venha para mim filho da escuridão, saia desse buraco que te assola e te esconde! O que tens feito com as tuas virtudes? Escuta-me pelo menos uma vez! Não quero isso para mim: a espera! Mas também não quero isso para ti: a escuridão - disse-me a Civilização.
Ela uma vez veio me visitar e desde este dia nunca mais voltou. Não gostou do porão. Ela pensa alto como que feita para o sol, para o dia. O porão, devo confessá-lo, possui pequenas mesclas de luz, que logo se apagam para aparecer quando quiserem. Ela não quer aparições efêmeras de luz em sua vida, mas luz e contato constante. Por isso nunca mais veio me visitar. Tinha a esperança que um dia aprendesse coisas lá de cima, mas o peso das águas que meu corpo carrega, não permitiu subir as escadas para ouvi-la.
Assim fui sempre ficando, ficando cada vez mais embaixo, bem no porão, lugar de quem espera um dia, quem sabe, subir à superfície e ver o dia. Ver de novo a minha Civilização, e com ela, poder morar para sempre em um lugar alto, diferente do porão. Ela nunca mais veio á escuridão. Foi quando eu vi a luz. Por que tu foges de mim, minha amada? Sinto falta de tua luz, Civilização.
Estou condenado ao porão, pois ela não virá mais aqui.
O inverno chegou e fomos nós quem o trouxemos. A chuva é o meu choro, mas o Sol a tua liberdade. Vai com ele e seguirás bem. Cá eu fico, pois os que perdem nunca partem. Meu lugar é o porão. Teu nome é Civilização e civilização sempre prossegue no caminho do progresso. Por que haveria de perder tempo com um primitivo que nem falar sabe? Minha deusa, vai nessa tua força. Que o sol te guie, mas seja o sol a luz do teu caminho. Não poderei seguir teus passos largos, pois estou pesado demais para isso. Te verei desaparecer no horizonte da minha vida, como um barco que parte e logo desaparece no infinito do mar. Bússola alguma te encontrará, já que o teu guia, o sol, cegará qualquer um que se aventure ir ao teu encontro. Tu és especial.
Nasci para ser primitivo e jamais te alcançarei, minha amada Civilização. Quem é que não te deseja? É impossível não te querer.
Despeço-me te ti, minha mui amada, com um sopro de muitas águas, um abraço de mármore e um beijo de pedrinhas de gelo. Eu fui a água da tua vida. De hoje em diante verás o sol e a única água que aparecer será aquela que te fará feliz: o mar.
Água também ama. Eu te amo, minha amada Civilização. Te amo.
Lá fora não pára de chover e ainda não encontrei o meu amor, pois acabei de perder nas lágrimas que descem da tua sombrinha, sozinha e desamparada.
Nada mais,
Ensopadinho.

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