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Cartas-->Amor: a cidade -- 18/11/2003 - 21:20 (Plínio Amaro de Almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Rio de Janeiro, 8 de janeiro de 2003


Querido amigo, como vai você? Espero que esteja bem. Estou te escrevendo esta carta com o propósito de te falar um pouco do lugar que eu estou tendo a oportunidade de conhecer, um lugar de várias faces, um lugar de múltiplas características.
Aqui é estranho, amigo, e ao mesmo tempo prazeroso. Existem jardins enormes com as mais belas flores que eu já vi: rosas, margaridas, girassóis; um jardim com flores tão lindas e cheirosas que a minha vontade é deitar no meio delas ou correr sentindo sua maciez, mas infelizmente seus afiados espinhos me impedem de fazer isto.
As árvores plantadas ao redor do reino são robustas de tanto fruto, todos maduros e coloridos: maçãs, mangas, uvas, goiabas, frutos dos mais diversos. Minha vontade é ser criança e subir nas árvores para me deliciar com o que elas dão de bom, eu fico na vontade, há grandes formigueiros nos troncos.
As florestas fechadas deste lugar são propícias a expedições de aventureiros, de fora e de longe, ouvimos afinados e suaves cantos dos mais variados tipos, notas de flautas doces, violinos e violões, sons de águas a cair e a correr, o que dá margens a pensarmos que lá dentro se escondem cachoeiras e rios. Mas gritos monstruosos de animais tenebrosos e indecifráveis, e lamentos que mais parecem originários de sacrifícios ecoam por entre os troncos das árvores e que fazem as folhas se movimentarem como se até elas quisessem voar para longe amedrontam um explorador em potencial.
Aqui o céu é de um azul radiante com nuvens branquíssimas que às vezes dão o ar da graça para formarem imagens que dão asas a minha imaginação. O sol esta lá, reinando nesse céu, quem olhasse uma foto poderia ate pensar que é verão, mas só quem sente o vento glacial bater no corpo sabe o quão é duro andar pelas pastagens.
De noite é sempre lua cheia, ainda bem, pois a lua é a única coisa que e possível ver nesta negra noite na qual mesmo de olhos abertos parece que estamos dormindo, e a única coisa com a qual sonhamos neste sono de farça é o canto incessante do rouxinol.
Quão lindo é o oceano, gigante em beleza e em azuis, verdes, transparências; praias convidativas e calmas à primeira vista, mas é só colocar o pé em sua areia que profundos buracos se abrem perante meus olhos e gigantescas ondas se chocam contra as pedras dos extremos da praia, fazendo com que sua água alcance com uma força e um volume tremendos aqueles que se atrevem em se deliciar da praia.

Um certo dia eu passeava por uma rua silenciosa e, ao longe, percebi um jovem cantando numa sacada, conforme eu me aproximava da casa, eu notava sua feição de alegria e prazer, seu sorriso feliz e seus olhos brilhantes. Ao chegar ao ponto de onde era possível entender o que ele cantava, eu percebi que era uma música com uma letra tão triste e melancólica... e esta canção linda e lamentosa me guiou ate a próxima descoberta.

Nas ruas e vielas deste lugar, você anda ao encontro de algo, mas nunca consegue chegar lá, cada curva é um mistério; cada beco, um labirinto sem saída.
Neste lugar eu me perdi da minha moradia, o único abrigo que eu encontrei não tem teto. Que saudade da tranqüilidade da minha casa, onde eu podia ficar sossegado, cuidando dos meus afazeres sem ser importunado, e sabendo onde estava. Agora eu vago por este lugar, pelos mais recônditos vilarejos, admirando as mais belas paisagens, debaixo de dias radiantes e noites onde tudo se transforma em nada, sob sóis ferventes e chuvas de temporal, mas que me fazem descobrir fantásticas, misteriosas e secretas regiões.
Procuro pela minha casa original, mas sei que está muito longe. Mas quando eu a encontrar, eu sei que eu vou estranhar, me acostumei em ser um andarilho à procura de novos horizontes neste lugar. Cada dia eu descubro novas formas de me achar e de mostrar quanto eu me acostumei. Nem sei mais como é meu lar de onde eu sai há muito tempo atrás, esqueci de como eu era. Caso um dia eu ache minha terra natal, eu pensarei duas vezes antes de abrir a porta e entrar, olharei para trás, lembrarei das terras estrangeiras com as quais eu me familiarizei e tentarei alcançar com o olhar a estrada por onde eu me perdi.

Convocaram-me para trabalhar numa fazenda, mas a escala não é fixa, trabalho quando tem colheita, e isso não é previsível, quando há flores e frutos me chamam. É uma linda e bem cuidada fazenda onde o expediente dos funcionários é regido pela inconstância do relevo e do tempo. Existe risco de insalubridade, mas nosso trabalho é sempre recompensado, afinal de contas, as pessoas que vêem o produto da colheita nunca imaginam o quão duro foi colher aquelas belas flores e frutas. Nesta fazenda onde às vezes eu dou expediente, muitas pessoas gostariam de trabalhar, pobrezinhas...Muitas delas conhecem-na apenas de nome, outras conhecem como o trabalho funciona de ouvir falar, mas só pode realmente falar dela, da sua infra-estrutura e funcionamento aquele que nela entra. O serviço pode até ser de dia, mas, na maioria das vezes, os funcionários são chamados para a colheita à noite. E quando há colheita, as estrelas iluminam o céu. Esta fazenda tem o nome de Inspiração.

Pois bem, provavelmente você já conheceu este lugar sobre o qual eu escrevi, muitas pessoas o conhecem, ou já conheceram e talvez possam ter esquecido como ele é, muitas vão conhecê-lo, o lugar pode até ser diferente para cada pessoa, mas a essência é a mesma. Eu nunca pensei em conhecê-lo tão a fundo, mas peguei certas estradas que me levaram a ele.
Enfim, este lugar é uma cidade aonde não se vai de transportes públicos, a cavalo ou a pé, para dizer a verdade não é um lugar para ser visitado, mesmo porque ele que te alcança, onde quer que você esteja. Aqui, existe uma linda e sedutora rainha tirana chamada Paixão e um respeitável e onipresente rei chamado Desejo. Meu coração é o estado onde esta cidade se situa, chamam-na de Amor.






*Texto inspirado basicamente na leitura dos seguintes poemas: "Barca Bela" e "Este inferno de amar", de Almeida Garret, e "Ó, retrato da morte, ó, noite amiga(1º verso)", de Bocage.
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