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Erotico-->O MAQUINISTA ESTUPRADOR -- 29/01/2005 - 09:50 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O MAQUINISTA ESTUPRADOR

Fernando Zocca

Capítulo I

Marlina Cristina Grogue, sentou-se no banco velho da praça mal cuidada de Tupinambica das Linhas. A cidade passava por momentos difíceis. O PI (partido imaturo) que elevara seu candidato ao cargo de prefeito, buscava agora fórmulas para livrar-se dele.
Jarbas, o caquético testudo, quando atingiu o poder mandou seus correligionários plantar batatas. A perfídia desolou a todos e o resultado dessa traição consubstanciou-se nos serviços públicos, tornados deficientes.
Na época do carnaval, era comum na cidade, a distribuição dos carnês do IPTU. Mas a bagunça começara já na impressão dos caderninhos. Ninguém se entendia.; a dissensão iniciara, naquele ano, com os valores a serem cobrados.
As confusões, idiotices e as más-fés dos políticos, contagiavam algumas pessoas mais sensíveis, alheias aos assuntos da Prefeitura. E Marlina Cristina Grogue era uma dessas infelizes. Deprimida, ela sentou-se, naquele princípio de noite, no banco da praça tencionando espairecer.
Foi quando então as lembranças da sua infância, assim como que num programa vespertino, iniciaram um processo de vale a pena ver de novo, ressurgindo-lhe à consciência.
Ela era ainda criança quando seus pais mudaram-se para um casarão velho, numa esquina ruim da cidade. A intenção de seu pai era residir perto do local de trabalho.
O velhote baixo, pançudo, tabagista e alcoólatra, objetivava ao escolher a casa grande, cumprir a lei do mínimo esforço. Ele caminharia pouco até a estação da RFFTL (Rede Federal de Ferrovias de Tupinambica das Linhas), onde era maquinista.
Marlina viu ao longe um casal discutindo defronte ao sorveteiro. Imediatamente as imagens infantis dos pais briguentos reapareceram-lhe.
Quando Mário Tonel, seu pai embebedava-se, as discussões eram corriqueiras e quem sofria com isso eram as filhas.
Marlina desconhecia as causas de tanta confusão e apoucamento.
Dona Emília (dona Emilinha para os mais chegados), depois de perceber que não receberia mais nada, além de sopapos e pancadas, daquele maquinista dos infernos, resolveu fazer uma greve inusitada de sexo.
Foi ai que, meus amigos, a coisa pegou mesmo. Vejam: Mário Tonel chegava cansado das viagens, querendo carinho, afago. Mas dona Emilinha, ressentida com as sovas anteriores, negava-se aos contatos carnais.
O velhote partia então para o bar, onde contava sua história pra todo mundo. Os mais sensatos, aqueles da turma do deixa disso, aconselhavam-no a sair um pouco, passear, distrair-se.
De vez em quando o panaca dignava-se a tecer uma tarrafa e pescar alguns peixes contaminados nas barrancas emporcalhadas do rio embosteado.
Alguns palpiteiros chegaram a pensar em ser a falta de espaço a verdadeira causa de tanta judiação e, convenceram o casal briguento a reformar a casa.
A dupla então, coletando um dinheirinho dum cunhado ali, outro tantinho com outro mano acolá, reuniram o suficiente para construir outro quarto. Nesse aposento as filhas mais novas, inclusive a Marlina, restaurariam suas forças, depois das horas difíceis na escola primária.

Capítulo II

No curso das obras, numa noite em que dona Emilinha e as demais filhas saíram para papear com a comadre, Mário Tonel, completamente tomado pela pinga, e enlouquecido pelo tesão, estuprou Marlina Cristina debaixo duma escada tosca deixada na obra pelo servente descuidado.
O velho pançudo, saciado, e diante da filha atoleimada, prometeu, que se ela não contasse nada pra mãe, voltaria a viver em paz sem bater em mais ninguém.
A menina, em estado de choque, ouviu o pai dizer que se alguém desconfiasse de alguma coisa relacionada com a violência sexual, ela deveria culpar o Edbar B.I. Túrico, o pinguço notório que não saia dos bares da redondeza.
Marlina, a fim de evitar novos acessos de fúria do pai comedor, assentiu.

Capítulo III

Os anos foram passando e Dona Emilinha, pesarosa com o amadurecimento da filha, instigava-a todos os dias a conhecer alguém que a tomasse como esposa.
Mas durante uma conversa ao pé do ouvido, numa noite enluarada e melancólica, Marlina confessou à mãe já não ser mais virgem.
- Mas como Marlina? Quem fez isso contigo, minha filha?
Marlina lembrou-se da conversa tida com o pai estuprador e respondeu com muita segurança:
- Foi o Edbar! Foi o Edbar, mamãe.
Dona Emilinha arregalou os olhos:
-Quem? Mas quem é esse Edbar?
Marlina lembrou-se, mal-e-mal, que devia dizer ser um pinguço freqüentador dos botecos da redondeza, o autor do desvirginamento. Mandou ver:
- Ele não saia do bar. Era colega do papai.

Capítulo IV

Dona Emilinha convocou imediatamente o marido dizendo-lhe:
- Mário, você sabia, que sua filha Marlina já não é mais virgem?
O pai dissimulador mostrou espanto e tal qual a políticos cínicos, fingiu constrangimento. Ele disse:
- Eu conheço o safado! Ele vive por aí na região. Mas por que você não contou nada pra gente Marlina?
A filha abaixou a cabeça e enrubesceu.
Nos meses subseqüentes, Mário Tonel, ao beber num bar, conheceu uma mulata supimpa. Conversando ele confessou-lhe que sua filha havia sido estuprada e que ele como pai sentia-se o pior homem do mundo.
A mulher condoeu-se e se dispôs a consola-lo. Mário passou a morar com ela. Por influência dela também, ele colocou o nome do pobre pinguço na macumba dum terreiro que ela freqüentava.
Nos 25 anos ulteriores o ébrio infeliz foi perseguido sem saber jamais que lhe pesava nas costas uma acusação de estupro. Ele sofreu 6 internações psiquiátricas, uma tentativa de homicídio numa estrada deserta, e seus projetos jamais se realizaram.

Capítulo V

Marlina acendeu seu derradeiro cigarro naquela praça erma. Levantou-se e pôs-se a caminhar. Era tempo de carnaval.; terça-feira gorda. Ela deveria recolher-se logo. As pessoas nessa época do ano bebiam muito e não convinha, pra uma donzela faceira, permanecer assim, sem companhia. nas ruas, até altas horas.



Fernando Zocca é escritor, advogado e jornalista.
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