Eu e o dr. Francisco Carvalho (sociólogo e mais novo do que eu 35 anos) entramos espontaneamente à fala e demo-nos ao conhecimento no mais benquisto ciber-café da invicta cidade: o "onWeb".
Na madrugada de 30 para 31 de Março, entre uns aprazíveis e revigorantes cafezinhos, estivemos a cavaquear "Ã laise" sobre os problemas da vida.
Às tantas, o Francisco, solicitando-me prévio entendimento para o que desejava exprimir, na sua opinião, considerou-me um interessante cromo da vida. O meu aspecto, cabelo branco, barbudo, a minha maneira de ser e de me exprimir, enformavam um indivíduo com algo de singular.
Cerca das oito da manhã, despedimo-nos e cada qual foi à sua vida: eu, fui dormir tranquilamente; ele, numa espectacular directa, pós-se a caminho da universidade.
Mais adiante, após um longo e reparador sono, por volta das nove da noite acordei, jantei e decidi ir tomar o meu gratuíto cafezinho à "onWeb", "delinquente habitual" que sou entre os que adoram conviver ao vivo entre computadores para trocarem entre si as diversas novidades técnicas e artísticas.
Sentei-me à maquineta, a 60 cêntimos por hora, mesmo em frente de dois jovens a rondar os 18 anos, os quais, por sua vez, estavam à procura de estabelecer engate virtual com as gajitas da internet. De imediato constatei que se tratava de putos nada bons de assar, assaz tarimbados na arte de bem-mal manhosar as gentes.
O aparentemente mais novo, entre dentes, partindo do princípio de que eu, se ouvisse, nada perceberia, susurrou para o outro: "Ena, olha-me para este grande cromo aqui à nossa beira...".
Eu, ouvi de facto e, abrindo o "wordpad", rapidamente e sem mais escrevi:
Os cromos estão face a face:
Eu velho, quase a morrer
E dois filhinhos da luta
Que ainda estão por nascer...
António Torre da Guia |