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cronicas-->O Pai Moderno -- 27/11/2000 - 15:18 (Iara Lima Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ato 1 - O pai Moderno
Durante muito tempo queimei os neurónios tentando solucionar um dos grandes mistérios da humanidade: o Papel do Pai. Sou professor. Professor de introdução à televisão. Quando a minha esposa teve a nossa primeira filha - Gabriela - tentei colocar em prática o papel do pai moderno. Pois bem, vamos lá.
Na primeira semana em que Vània veio para casa, fiquei "ancho" com a possibilidade de participar diretamente da criação de nosso bebê. A Gabi acordava no meio da madrugada aos berros - por que será que criança sempre acorda no meio da madrugada aos berros? - A Vània levantava e lá ia eu atrás, todo prosa - "Vou ser um Pai Moderno" - pensava.
Chegávamos os dois ao berço da criança. A cena que se repetia era muito simples. Minha esposa tirava o bebê do berço, colocava-o para mamar e eu ficava de lado, revoltado e frustradíssimo pensando: "E eu?" Ao terminar de alimentar a criança, Vània a recolocava no bercinho e lá íamos os dois novamente para a cama, exaustos.
Meia hora depois : "Uááááá!!!" Levanto-me correndo, seguido por minha esposa. A cena devastadora se repetia. Vània tirava o bebê do berço, dava de mamar e eu, sem ter o que fazer, assistia à cena indignado e, para ser solidário à minha mulher, conversava com ela enquanto cumpria com seu papel de provedora-mor de alimento.
Depois de uma semana naquela rotina, fui caindo no cansaço. Já acordava mais lentamente, não mais corria, arrastava-me para o quarto da criança, conversava mais lerdamente. "Tenho que ser solidário à minha esposa". E isto já não me conformava mais com repetidas noites de sono perdido.
Até que o inevitável aconteceu: não acordava mais. Vània, revoltadíissima, cobrava-me o papel do Pai Moderno. "Você tem que ser solidário!". Como via que eu não acordava, mudou suas táticas. Antes de dar de mamar à Gabi, ela segurava a criança com a boca encostada em meu ouvido. "Uááá!!!". Não adiantava mais. Não tinha jeito de me acordar. Não posso ser um Pai Moderno.

Ato II - Das Especulações
Pai é aquela figura que resolve as pequenas broncas. Como fazer pipa, jogar bola, ensinar a nadar e olhe lá! Os grandes problemas mesmo ficam delegados às mães. Não que eu não tenha tentado, óbvio! É que criança não negocia com o pai. Se ela chora e você tenta segurá-la, leva uns três ou quatro safanões do pirralho que chora ainda mais e esperneia desesperado tentando se livrar de seus braços de carrasco. "Eu quero a minha mãe!" - e se solta dos seus tentáculos de monstro desconhecido e pertubador para, em seguida, ir correndo para o colo quentinho e aconchegante da mamãe.
Além do mais, cheguei à conclusão de que o homem não é necessário à sobrevivência da espécie. Absolutamente. Se houvesse um banco de esperma necessário à fecundação de todas as mulheres do mundo, estaríamos acabados. Correríamos o risco de sermos colocados todos (homens) contra o paredão e sermos fuzilados à queima-roupa. Sem dó nem piedade.
Em suma: Nós, os homens, sobrevivemos porque as mulheres têm algum tesão por nós.

Ato III - Um Mestrado e a Descoberta
Quando fiz meu mestrado, nosso segundo filho já havia nascido: Felipe. Estávamos os quatro em São Paulo. Era dia de domingo. Decidimos ir ao parque. Vània foi arrumar as crianças e isto levava um certo tempo. A Gabi já estava mais crescidinha, uns quatro anos. Não tinha muito cabelo e todo mundo dizia: "Que menino lindo!" Para dar solução ao caso, resolvemos pór uns brincos na menina. Que desgraça! Ela é alérgica e só pode usar brincos de ouro. Azar ! Não tenho dinheiro para comprar mesmo...a solução eram uns laçarotes coloridos. Um maior do que o outro para todo mundo ver a minha FILHA!
Enquanto Vània se encarregava de pór o laçarote na Gabi e arrumar o Felipe, que nem andava ainda - se arrastava - eu tentava decifrar o maldito Guia de São Paulo. É; aqueles guias horríveis de uma cidade horrível para ter seus guias decifrados. Por um breve momento, pensei ter descoberto a função do Pai.
"É isto. Descobri a função do Pai!"
Motorista
Isso mesmo: motorista para levar esposa e filhos ao parque nos dias de Domingo. Aliás, era mais importante do que isto.
Patrocinador.
Claro! Patrocinador de pipoca e refrigerante. Mas que decepção! Ser pai para pagar pipoca e refrigerante...sem contar com a entrada, óbvio! Enquanto me afundava na depressão, Vània apareceu na sala arrastando uma criança em cada mão. Os três chegaram à sala e me olhavam fixamente. Eu, sentado no sofá, também os observava enquanto via minha carreira de pseudo-pai escorrer ralo abaixo.
Só saí deste transe hipnótico quando Vània me perguntou: "E aí? Não vai dizer?" Dizer o quê, meu Deus? O que eu deveria dizer?
E Vània torna a repetir, com o olhar inquisidor: "Não vai dizer?"
Vendo que eu não entendia, Vània, munida de uma criança em cada mão, fez menção aos meninos com o rabo dos olhos e foi neste momento, breve e glorioso, que eu finalmente entendi o importante, fundamental e insubstituível Papel de Pai. E foi desta maneira que o cumpri pela primeira vez.
Dirigi-me a meus filhos, abri fortemente os braços, estufei o peito e, num gesto de orgulho, disse:
"Que Liiiindo!!!"
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