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Contos-->A Fada e a Bruxa dos meus Sonhos -- 21/08/2009 - 20:40 (Maria de Lurdes Mattos Dantas Barbosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Morgana, desde tenra idade, tinha vocação para se envolver com coisas do sobrenatural. Gostava de fortes emoções e eu percebia esse seu gostar através das leituras, dos filmes, desenhos...
Leu tudo o que conseguiu encontrar sobre os elementos do fogo, da terra, do ar e da água.
Vivia pelas serras, colhendo frutas silvestres, estudando o comportamento dos pássaros, tomando banho de cachoeira, meditando...
Seus pais não sabiam explicar o porquê de Morgana ser tão arredia, viver perdida em sonhos e fantasias de duendes, gnomos, fadas, bruxas, porções...A casa estava sempre cheia de meninas ouvindo as histórias fantásticas que ela contava, misturando sempre ficção com realidade.
Ficou conhecida rapidamente. As pessoas acreditavam em suas histórias e seus pais, desde cedo,
acostumaram-se a conviver com as esquisitices da filha que consideravam normais, afinal os livros para crianças e mesmo os infanto- juvenis estavam cheios de personalidades, ligadas à natureza, fadas bruxas, etc.
No entanto, eu a acompanhava de perto desde que a conhecera, aos dez anos de idade, quando, com seus pais veio morar na cidade, vindos da capital do estado, após adquirirem um pequeno sítio produtor de frutas e legumes. A mãe era professora, passava o dia fora; o pai funcionário público estadual; quase não acompanhavam o crescimento da filha que, bem à vontade, corria pelos campos e montanhas, como se desejasse aproveitar aquele estado de liberdade de uma só vez, fazendo experiências e ganhando fama de bruxinha. Eu sou um rapaz simples, criado em cidade do interior. As pessoas acham-me estranho por que sou calado, vegetariano e vivo da minha arte: o artesanato. Estudei pouco. A escola não me atraia, fui considerado rebelde e preguiçoso porque tinha dificuldade de ler e interpretar. Um dia surpreendi a minha professora conversando com a amiga:
- Sabe, Maria, aquele menino, o Lucas, filho de seu Mário da venda? Não vai conseguir chegar a lugar nenhum, minha filha.
- Oxente! E por quê?
- É preguiçoso e rebelde! Também, com o pai e a mãe que tem! Não ligam para o filho que só pensa em fazer bugigangas para gringo comprar, como se isso desse futuro, menina!
Fiquei triste e não voltei mais para a escola. Fiz somente a quarta série do ensino fundamental. Mas consegui ler sozinho, e até palavras em inglês e francês eu consegui aprender nas minhas andanças, vendendo artesanato pelas cidades turísticas da Bahia, ouvindo os estrangeiros conversarem. Aprendi muito com a vida, isso é verdade, mas para conquistar Morgana eu precisava de muito mais. Ela era agora uma bela moça de 20 anos, eu tinha vinte e dois. Nos víamos sempre, pois costumava comprar brincos e bolsas em minha mão, mas sempre escondi os meus sentimentos, preferindo acompanhá-la de longe e pesquisar aquela personalidade diferente das pessoas da cidade. Era linda e eu a amava. Os lábios vermelhos como morangos maduros,
Faziam-me delirar! Os cabelos longos e negros como as noites sem luar davam-lhe uma característica meio mística, misteriosa, assim como o seu corpo alto e magérrimo, e, andando pelas ruas à noite, fazia muita gente se assustar. Dava medo! Eu, no entanto, achava que ela era a moça mais encantadora do lugar! Era também uma pessoa calada, introvertida, mas muito simpática e carinhosa, principalmente com crianças e idosos. Uns a consideravam uma fada, outros, uma bruxa, por uns era amada, por outros, odiada. Mas seus chás e ervas, banhos, orações, mantras, meditações, incensos, inalações e tantos outros procedimentos que usava para aliviar as dores e solucionar problemas da comunidade, serviam até mesmo para aqueles que, por receio, fugiam dela, mas que a procuravam nos momentos de aflição. Nada cobrava, mas, ai de quem dela zombasse! Contava uma velha feiticeira, moradora da Loca das Figuras , lugar na serra cheio de desenhos ruprestes, casa adotada pela velha parteira para a sua pobre moradia. Contava ela que certa vez, quando Morgana tinha apenas quinze anos, em suas caminhadas pelo mato, deparou-se com um senhor que também andava por ali. A menina, sem vê-lo, entoava cânticos, falava línguas estranhas enquanto elevava as mãos para o céu em prece. O velho achando aquilo muito engraçado começou a zombar e a fazer medo à menina com sonoras gargalhadas, piruetas, caretas, cambalhotas. Ria e bufava. A garota sem interromper a sua concentração, girava o corpo e dos seus negros e grandes olhos saíram faíscas de energia que paralisaram o homem. Hoje ele vive surdo e mudo a perambular pelas feiras pedindo esmolas. Dizem que ao vê-la sai correndo e chorando. Essa história foi sendo transmitida oralmente, e assim, Morgana passou a ser temida. Certa noite, não resisti e resolvi espioná-la. Vi-a sentar-se no imenso jardim de sua bela casa, em meio a flores e incensos; conversava com as estrelas, fazia movimentos com o corpo como se estivesse dançando. Sua silhueta esbelta, com os cabelos sedosos brilhando ao luar, deixou-me excitado. Continuei a olhar; o vento brando levantava seu vestido branco esvuaçante, as pernas alvas e longas à mostra fizeram-me delirar...Deus, que mulher é esta? Parecia que havia alguma magia no ar, era uma deusa, fada, bruxa, sei lá! Era sim, uma mulher bonita, dançando ao luar, uma verdadeira aparição cinematográfica, sobrenatural, fantamasgórica...Continuei olhando, sentindo que ia explodir a qualquer momento, quando, de repente, como que saindo do nada, apareceu uma imensa fonte de água azul brilhante. E ela... Bem... Ela foi devagarzinho tirando a roupa. O vento havia parado, a minha respiração também. Morgana, agora nua, entrava na fonte. Seu corpo, extremamente branco, contrastava com o azul da água. Aquilo era um sonho! E eu não queria acordar. Sem perceber, fui ficando tonto e perdendo os sentidos. Despertei nu na fonte, amando aquela mulher misteriosa, fada, bruxa, não sei. Ameia-a como nunca e ela se entregou como se estivesse num ritual de magia e, ritmicamente, com extrema elegância, percorreu todo o meu corpo, com carinho e suavidade, deixando penetrar em suas entranhas o líquido quente que ela sorveu como se fosse o néctar dos deuses . Ouvi músicas vindas não sei bem de onde, pássaros a cantar, flores se abrindo, perfumes de jasmim no ar...Fiquei novamente tonto, desmaiei, acho.
Despertei em uma bela cama de casal, atordoado, mas feliz. Afinal, o que era que estava mesmo acontecendo? Aquilo tudo não fora um sonho? Então, onde estava ela, a bela feiticeira?
Os pais de Morgana foram transferidos de volta para a capital, ela, no entanto, ficou no sítio, agora transformado em um lugar místico e cheio de encantos. Lugar onde recebia as pessoas para consultas, bate-papos, rituais etc. Muitas pessoas de outros lugares apareciam para vivências de uma semana e deixavam doações cada vez mais generosas, proporcionando a Morgana uma vida
financeiramente razoável. E, com a soma do que produzia no sítio, os valores dos cursos que oferecia sobre alimentação alternativa, remédios caseiros, técnicas de massagem, etc, davam para sobreviver na cidade de Turmalina, a minha cidadezinha, cheia de flores, orvalho e mistério...Nos confins da Bahia. Morgana, delicada e cuidadosamente, entrou no quarto. Fiquei trêmulo e fingi que estava dormindo. Beijou-me de leve nos lábios e murmurou:
- Há muito tempo espero você. Sabia que viria! Temos muito em comum, a magia dentro de você o trouxe até mim. Dancei para você e mostrei o quanto poderemos ser felizes.
Será que eu estava ouvindo direito? Mas eu não passava de um ignorante. Não tinha posses e até de doido me tachavam! Ela leu os meus pensamentos e tranqüilizou-me dizendo:
- Serás um mago, tens bom coração e ama-me de verdade. Aprenderás que a magia deve ser usada para o bem da humanidade.
Abri os olhos e perguntei.
- Mas...E aquela história sobre o senhor que ficou surdo e mudo?
- A mente perniciosa dele, as suas próprias ações, ao interromper um ritual mágico de suma importância para o equilíbrio dos quatro corpos inferiores (mental, emocional, etérico e físico) o desarmonizaram, privando-lhe, nesta encarnação, da fala e da audição. Mas, não se preocupe, a lei é justa e ele certamente ainda será um dos nossos.Trabalhará para o bem.
Morgana e eu somos hoje um casal muito feliz, aprendi muito dos seus segredos.Voltei a estudar e continuo fazendo artesanatos.
A professora que não acreditava em mim, hoje me procura para se aconselhar, freqüenta a nossa casa e se curou recentemente de uma grave depressão...Com os nossos remédios, é claro!
À noite, nus, sempre tomamos banho de cachoeira dentro da mata onde renovamos a energia e os votos de fidelidade e amor a nós mesmos e aos outros, num ritual cheio de presenças saltitantes de seres da natureza.
No inverno, costumamos nos sentar em frente à lareira, à luz de velas, sentindo no ar o cheiro suave do incenso de canela. O calor do fogo a crepitar nos dá a sensação de aconchego e bem-estar. O paraíso pode ser aqui mesmo na Terra, só precisamos ter a coragem e a ousadia de acreditar e conquistar o direito de sermos felizes.


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